Tem sido deveras complicado aceder ao blog e publicar!
No mes passado, na Escola de Medicina da Universidade da Namibia, em Windhoeck, estivemos a iniciar a revisao e desenvolvimento dos Curricula dos cursos de Medicina, na UniLurio e UNASOM, no quadro do projecto MEDUNAM II.
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
Nharungue
Em Chuabo (Etxwabo), chamam-se assim os profissionis que preparam os mortos para o enterro, tratam da cerimonia, dizem piadas e provocam os familiars...
Depois de esperar uma hora pelo açucar para o Café, o dono informa que está tudo fechado, não há açucar – nem matabicho. Visitamos o bairro dos pescadores na vila Angoche, algumas fotografias de predios meio desertos, meio inacabados, algumas boas peças arquitectonicas. Saimos em direcção a Boila, à direita para Namaponda; aqui a estrada que vai para Quinga está inutilizada, não se pode passar; mais à frente, a ponte sobre o Rio Metomode caiu e temos que passar na água; a tracção está ligada e passo sem problemas, com cuidado; continuamos até Liupo e viramos na primeira à direita para Quinga; aldeia pequena, não há onde comer ou dormir; o Sr. José Manuel oferece um quarto e oferece-se para cozinhar; a estrada que está no mapa e que liga Quinga a Mogincual parece estar em más condições, o nosso informante refere que podemos não conseguir passar; vamos pensar o que fazemos e seguimos uns 3 km em direcção à Praia; deparamos com uma casa no alto da duna; o acesso à praia é por um caminho a direito, que desce a duna íngreme, com muita areia solta; penso que será difícil para subir; entramos na casa e perguntamos se existe outro acesso à praia; um homem diz que sim e oferece-se para nos conduzir; entra no carro, seguimos um pouco para Norte e começamos a descer; areia, já em baixo, outra duna íngreme, mais pequena, areia muito solta; o Surf porta-se bem; paramos e damos 20 Mt ao guia que regressa a pé; vamos petiscar o que trouxemos, tirar umas fotografias; em frente à praia, um rio paralelo ao mar onde alguns pequenos barcos à vela e a motor fazem a entrada para o interior; não tomamos banho e voltamos à viatura; subida dificil, carro em 4 altas, quase parou na subida, mas conseguiu. Regressamos a Liupo. Decidimos então ir para Mogincual, onde haverá sítio para dormir, após cerca de 60 km de pista razoável. Logo à entrada está a Casa de dormidas, comida não tem; andamos 3 km até ao centro da Vila e fazemos compras no Mercado (arroz, peixe, cerveja, coca-cola, óleo e cebola); regressamos à casa de dormidas e a Mercia inicia o jantar às escuras, no fogão a carvão; aparece um sul africano e um japonês, parecem à procura de sítios turísticos de praia para investir; a Mercia ensina o cozinheiro deles (que de facto sabe muito pouco de cozinha); vamos-nos rindo; o jantar está muito bom e ficamos ao serão em amena cavaqueira; nisto começa a chover, pesada tropical. Cama, um calor imenso, não há energia para ventoinha (tem algumas lampadas com energia solar).
- Mwâlelo: remédio para produzir mais, atraindo para a própria machamba os produtos agrícolas das machambas dos vizinhos.
- Mulimelo: remédio considerado normal e comum, misturado com as sementes, para obter uma boa colheita. (mas em prática, é ainda um Mwâlelo de defesa, contra a possibilidade do Mwâlelo de ataque).”
Elia Ciscato, Introdução à Cultura da Área Makhuwa Lomwe, Clássica Artes Gráficas, Porto, Portugl, 2012.
- Mulimelo: remédio considerado normal e comum, misturado com as sementes, para obter uma boa colheita. (mas em prática, é ainda um Mwâlelo de defesa, contra a possibilidade do Mwâlelo de ataque).”
Elia Ciscato, Introdução à Cultura da Área Makhuwa Lomwe, Clássica Artes Gráficas, Porto, Portugl, 2012.
Domingo, levantei-me às 6. Saí com mochila e pau no Surf e às 6h 30 estava no largo de Marrere, em frente ao Hospital, a pegar no Augusto António. Saimos pelo norte até à primeira principal à esquerda, caminho quase sempre bom de areia, um pouco estreito, 3 passagens de ribeiros agora quase secos, e chegamos até à encosta da Serra de Muhito: 30 min de caminho, 15 km. Preparamos-nos para a subida e toca a largar encosta acima; são 7h mas já está calor; mato meio denso, árvores grandes, vamos sem carreiro, capim forte meio queimado, flores de cores muito vivas; depois do primeiro penedo, pequeno vale, muita pedra solta, grande e pequena; recomeçamos a subir, apanhamos antiga machamba e logo depois um carreiro íngreme; não longe ouve-se o bater de alguém que corta madeira; passamos um pau bom, cortado e descascado, a secar; transpiração é muita; sai uma galinha do mato a voar por cima de nós; mais um pouco e atingimos o primeiro colo. Paramos para beber água. Á esquerda, no próximo monte (no principal dos 3 picos), afigura-se uma mulher gigante. No vale em baixo, algumas machambas, poucas casas. Retomamos para o cume à nossa direita (a norte) e deparamos com uma machamba já semeada de milho e logo a seguir mais acima uma palhota em construção (os paus que definem a estrutura). O mato aqui é mais denso, muito bambo e aparecem novas flores (uma parecida com o colchique), borboletas a acasalar e escaravelhos vermelhos; passam 2 pombos bravos. Subimos um penedo liso, passamos uma árvore estranha e estamos no cume, após 2 horas de subida puxada. Paisagem infinita, Nampula muito ao longe – quase não se vê, montanhas por todo o lado, uma luz prateada ofuscada por um ligeiro nevoeiro enfumado. Um vento fresco extremamente agradável! Sentamos-nos à sombra para comer umas bolachas e beber água; vamos falando; árvore boa para madeira, umbila; árvore boa para tratar as constipações, ferver a casca e misturar um pouco de cinza; árvore descascada, para fazer cordas. Com os binoculos faço o scan aos pontos cardeais: uma picada a oeste; no vale em baixo vê-se roupa pendurada numa casa mas não se vê ninguém; a norte o segundo cume da serra, mas separado do nosso por um profundo vale. Passam andorinhas. Após uma horita de descanso, retomamos o mesmo percurso para o regresso; serão mais 2 horas a decher, sempre com cuidado e sem pressa (para baixo todos os santos empurram, para cima nem o diabo ajuda), passamos uma mangueira e apanhamos 2 madurinhas; uma antiga machamba, com enormíssimas plantas de mandioca (5 m); algumas bananeiras, sem frutos; massala, outro fruto desconhecido, passa um cão, sem hesitações e sem coleira, como se fosse dispachado ao seu destino. Aqui as pequenas flores vermelho vivo sinalizam o horizonte próximo, enquanto as formas graníticas elaboradas limitam a perspectiva visual. No útimo relevo, perdemos a localização do carro, andamos um pouco, espreitamos a sul – não parece, retomamos a norte, volta a passar o mesmo cão; seguimos o trajecto do mesmo; abordamos a primeira casa; uma mãe de 6 filhos escolhe os grãos de milho do ano passado, ao mesmo tempo que dá de mamar; a filha mais velha ajuda; o marido diz que o carro está mesmo ali ao lado e vai apanhar mangas para nos oferecer; 2 de conversa e retomamos o veículo, não sem que eu tenha oferecido um pacote de caixas de fósforos ao senhor, e feito uma “grande necessidade”! O regresso é escorreito, boa música; paramos na ponteca do Rio Miaua para tirar umas fotos, 5 raparigas fogem a correr! Depois dizem adeus, de longe. Nos cruzamentos, grupos de mulheres vendem e bebem bebidas fermentadas (de caju - cabanga e de farelo de milho). Só paramos no mercado de Marrere, ele para comprar pão (dei-lhe 70 paus) eu pepino, limão, castanha, cigarros. 6 horas de viajem e chego a casa. Descanso!
Perto da Mourela!
No Hotel Rural de Mourilhe, com o meu grande e primeiro amigo de Barroso, Padre Antonio Lourenco Fontes!
Portus Cale
Em Junho passado, tirei um tempo de ferias na Caravela de Granito Encalhada, coisa que ja nao me acontecia ha muito tempo: visitar a mae e a familia, os amigos, um scan completo a paisagem de Sul a Norte, costa e interior. Muito vos diria...
domingo, 28 de julho de 2013
Transumancia de placas
Tem sido difícil aceder, do outro lado da fractura digital - dois mundos, muitas realidades, só uma raça. Início do romance, 30 anos de multidão. Depois da visita à Caravela de Granito Encalhada, confirmo a vitalidade de meus amigos e amigas, expulsos dos marujos desnorteados ou dos oficiais amotinados. O hardware está excelente, o software com muitos worms! A geomância expulsiva tem um desígnio místico - mitológico? Hermetismo deslocado...
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Christmas
Saí ás 6 com céu nublado. Muita lama nos primeiros 30 km em reabilitação, depois muitos buracos até ao rio Ligonha e a ponte para a Zambézia, a partir daí um piso ótimo até Mocuba, com paragem em Alto Molocué, Nampevo para amendoin e limão. Em Mocuba enchi o depósito (estava a metade), deixei os caras na BG, encontrei o Nelson no BIM, passámos na casa dele para levar bebidas e saimos para Lugela ás 13h. A estrada está má, uma hora, compra galinha, encomenda no Murima ao cozinheiro, visitamos o alojamento turístico em construção e saimos para Tacuane. Pista estreita, sobe e desce, esquerda direita, vai subindo, 30 km. Em frente ao CS de Tacuane, tomar a esquerda: as subidas e descidas e as curvas acentuam-se, a floresta cresce e densifica-se, o relevo torna-se dominante. Mais uns 15 km, muito a subir, atravessamos uma aldeia onde perguntamos, um pouco mais á frente à direita, terá uma cancela. Prosseguimos e paramos na cancela fechada a 2 km. Paramos e vamos à procura do guarda na floresta de chá – estamos na antiga companhia do chá Lugela: casas antigas, construções enormes, instalações agrícolas e fabris arruinadas, o monte Mabu por cima, grandes espaços, árvores gigantes e particulares; em curso duas novas plantações de citrinos. Encontramos 2 pessoas, cumprimentamos, explicamos, e um vai nos abrir a cancela; mas parece que não se pode subir muito, cairam vários troncos com as chuvas. Vamos ver. Começamos a subir uma pista dura penetrando a floresta muito escura, quase parece de noite em alguns troços; a densidade e a dimensão das árvores arbustos de chá é incrivel. Um primeiro tronco, fino e ajeitado, oblicuo à direita e passo por cima. Mais acima, uma árvore enorme, muito ramos, tronco grosso; mas partiu ao cair; há maneira de afastar o cume para o carro poder sair á direita, lado do precipício, e passar; o Nelson quebra e afasta alguns ramos, dirige a manobra: subo a borda à direita, e o carro descaiu para o mesmo lado, avanço entro em frente, roda da esquerda cai numa vala, derrapa; marcha atráz, nada; marcha à frente, nada; engato as 4 em lentas; um pouco para tráz, mais rápido para a frente, está a andar e retomo a picada. Vamos devagar e não longe encontramos um novo tronco, este enorme, inamovível. Manobra lenta e delicada para conseguir dar a volta ao carro em poucos metros! Mas ok. Toca a andar a pé, sempre a subir, passo ligeiro; mais á frente um velho, com uma rede, um miudo (também) e uma velha (com rede e uma gazela pequena ás costas) passam rápidos por nós, pergunto se posso tirar foto, não tem problema. Mais à frente, um rapaz explica-nos o desvio à direita para a sua aldeia e a direcção da casa do director; em troca da boleia de regresso para a aldeia que passámos, vai acompanhar-nos à casa do director. Passamos outras casas, 3 jovens; muitos cogumelos, está fresco; numas árvores frondosas a 100 m os macacos divertem-se; lindas borboletas, lindas flores. E saímos da rua à esquerda por um atalho, entre bambu, bananeiras, chá, aparecem novos frutos, enormes, tipo fruta pão branca ou amarela. Chegamos a uma pequena plataforma a meia encosta, o cume do monte Mabu espreita por cima. A casa de arquitectura inédita de redondos contempla paisagem grandiosa, envolvida num universo de plantas exóticas e árvores belíssimas. Os pássáros e insectos dominam o fundo sonoro. A casa está bastante arruinada, mas poderia servir de ponto de apoio para a subida. Resta-nos saber se não há outro acesso que nos poupe alguns destes 500 m verticais. O sol já desce e nós temos que fazer o mesmo. Let’s go. Vou tirando algumas fotografias e ficando para tráz; as botas já não estão adaptadas – palmilhas ! – e tenho os pés, dedos já a doer. Retomamos o carro e ao chegar ao complexo principal é noite cerrada. Agradecemos, o guarda vai nos abrir e fechar a porta. Está a choviscar. Retomo a pista, deixamos o moço na aldeia, outro informa que quando quizermos subir o Mabu temos que falar com aquele, um outro, o chefe do mabu, sentado numa banca do outro lado da rua. Faço rápido até Tacuane, curva contra curva, sobe e desce (mais) e depois até Lugela; quando chegamos ao Murima está um grupo de amigos, bebemos uns copos, contam claro, as estórias dos feitiços e magias: debatemos muito e rimos bastante. Logo a seguir, sai a galinha assada, com chima; nada mal. Mais um JW Red e opto por continuar até Nicoadala, são 21h e estou em boa forma. Seguimos para Mocuba, passando antes na nova casa / quinta, em construção; com boa música, a estrada é menos longa e na ponte já estão a dormir e não cobram, deixo o brother em casa e saio da cidade. Ligo o piloto automático e inesperadamente chego a Nicoadala, em menos de hora e meia. É o Custema que acorda, descarrego tudo e deito-me. Longo dia!
Nature
Enfim, já me tinham dito. As mangas caem por toda a parte, formigas imagino, constroem torres tubulares de vários centimetros de altura e milimetros de diametro; os artropodes que se veêm em várias situações, são enormes; há 3 dias uma concentração de libelulas nocturnas acastanhadas claras; escaravelhos negros muito potentes; louva-a-deus verde brilhante; nuvens de mosquitos zumbindo ao escurecer e ao amanhecer.
Quase um mês depois...
Finalmente, a minha barba “peixes”, está a incomodar.me: grande à esquerda, grande à direita, rala ao centro. Não há centro? Ou è um buraco negro?
domingo, 13 de janeiro de 2013
Profissionais, especialistas, magos, médiums, xamãs
- Mwâlelo: remédio para produzir mais, atraindo para a própria machamba os produtos agrícolas das machambas dos vizinhos.
- Mulimelo: remédio considerado normal e comum, misturado com as sementes, para obter uma boa colheita. (mas em prática, é ainda um Mwâlelo de defesa, contra a possibilidade do Mwâlelo de ataque).
- Alipa nivuwo: os que possuem o nivuwo, remédio muito especial que contém uma parte do corpo de uma criança, etc., colocado no celeiro ou numa panela, ao pé de uma árvore, e com o qual se toma banho, para não morrer, para enriquecer.
- Anamutxutxa: homens ou mulheres, que preparam “filtros amorosos” de vários tipos.
- Mutxoka: é um mukhwiri “arrependido”, que aceitou tornar-se neutralizador dos seus ex-colegas, depois de ter sido “ritualmente tratado”. Este tratamento consiste em “limar os dentes” do ex-devorador.
- Mukhwiri: bruxa/o. Asocial e egoista; intrínseco e completamente negativo (o “desordenado” número um). A sua acção, em relação às pessoas, é qualificada pelo instinto de devoração: é devorador, comedor de carne humana, é a grande causa da mortalidade das pessoas (especialmente da mortalidade infantil), das doenças persistentes e dos desastres inexplicáveis. Os seus moventes são sempre o ciúme, a inveja, o egoísmo, o ódio e a ambição. O seu okhwiri, o instinto maligno que possui e guia o mukhwiri, provém da nascença, no sentido de que lhe foi “lançado”, com muita probabilidade, na altura do seu nascimento (do parto).
- Namakhurumela: pessoa possuída por um espírito mau (não de um verdadeiro antepassado), que faz mal ao próprio interessado e faz mal a todos aqueles que ele odeia.
- Nahavara: outra figura de mukhwiri com leopardo ou leão ao seu serviço.”
Elia Ciscato, Introdução à Cultura da Área Makhuwa Lomwe, Clássica Artes Gráficas, Porto, Portugl, 2012.
- Mulimelo: remédio considerado normal e comum, misturado com as sementes, para obter uma boa colheita. (mas em prática, é ainda um Mwâlelo de defesa, contra a possibilidade do Mwâlelo de ataque).
- Alipa nivuwo: os que possuem o nivuwo, remédio muito especial que contém uma parte do corpo de uma criança, etc., colocado no celeiro ou numa panela, ao pé de uma árvore, e com o qual se toma banho, para não morrer, para enriquecer.
- Anamutxutxa: homens ou mulheres, que preparam “filtros amorosos” de vários tipos.
- Mutxoka: é um mukhwiri “arrependido”, que aceitou tornar-se neutralizador dos seus ex-colegas, depois de ter sido “ritualmente tratado”. Este tratamento consiste em “limar os dentes” do ex-devorador.
- Mukhwiri: bruxa/o. Asocial e egoista; intrínseco e completamente negativo (o “desordenado” número um). A sua acção, em relação às pessoas, é qualificada pelo instinto de devoração: é devorador, comedor de carne humana, é a grande causa da mortalidade das pessoas (especialmente da mortalidade infantil), das doenças persistentes e dos desastres inexplicáveis. Os seus moventes são sempre o ciúme, a inveja, o egoísmo, o ódio e a ambição. O seu okhwiri, o instinto maligno que possui e guia o mukhwiri, provém da nascença, no sentido de que lhe foi “lançado”, com muita probabilidade, na altura do seu nascimento (do parto).
- Namakhurumela: pessoa possuída por um espírito mau (não de um verdadeiro antepassado), que faz mal ao próprio interessado e faz mal a todos aqueles que ele odeia.
- Nahavara: outra figura de mukhwiri com leopardo ou leão ao seu serviço.”
Elia Ciscato, Introdução à Cultura da Área Makhuwa Lomwe, Clássica Artes Gráficas, Porto, Portugl, 2012.
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