NESSE DIA PARTI PARA OUTRA VIDA.
Francamente,
não estava preparada. Flutuava descansada no líquido amniótico, sem qualquer
outra preocupação, mas a hipófise da minha mãe pensava que era a altura certa e
o útero dela começou a expulsar-me. Não tive outra solução que enfiar a cabeça
e toca a sair, abrir a boca e inspirar fundo, expirar, engasguei-me um pouco,
tossi e começa uma nova fase, tudo diferente. A enfermeira de branco rodou-me,
puxou-me um pouco pela cabeça, os ombros saíram certinhos e o resto foi fácil.
Já embrulhada na toalha, a enfermeira colocou-me calmamente em cima da barriga
da minha mãe. Pensei em chorar, mas de facto não tinha grande vontade. Por cima
da minha cabeça, estava um cheiro sedutor e um mamilo apetitoso que me cativou
os sentidos. Estiquei o pescoço e a minha boca apanhou o alvo. Pronto,
devagarinho reencontrei o meio habitual. Barriga cheia está-se muito melhor.
Minha mãe chegou-me um pouco acima, deu-me duas palmadas no rabo e eu arrotei.
Nisto, deu-me vontade de dar uma mijinha. Descuidei-me, e molhei a barriga da minha mãe. Chegou
o médico para fazer o exame clínico; sacudiu-me um pouco, esticou-me os braços
e pernas, colocou-me na balança e depois escreveu no cartão. A enfermeira pegou
em mim e colocou-me na cama ao lado da minha mãe. Entrei num sono profundo.
Sonhava ainda com aqueles sons fortes do coração da minha mãe, do ruído de
fundo da galáxia desconhecida, da circulação rápida no cordão umbilical.
Deixei-me ir!”
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