TG
1. GÉNESE
Neto de emigrantes no final da primeira guerra mundial, um
estudante de medicina inicia um diagnóstico – plano de saúde participativo na
freguesia de Cabril em 1981. Com o contributo de estudantes das áreas da
educação e cultura e das actividades económicas, nacionais e estrangeiros, editam
em 1983 o plano “Cabril, ensaio para um projecto de desenvolvimento local
integrado”.
O Grupo Cultural Artístico e Desportivo de Cabril, criado em
84, reunindo 30 jovens locais activos em mais de 100 associados, desenvolve
várias actividades: desportivas (campeonatos de futebol inter aldeias e inter
freguesias, corridas de cavalos, provas de natação, jogos tradicionais),
artísticas (atelier de máscaras, exposição itinerante de fotografia, teatro
infantil e juvenil, ateliers de dança) e culturais (biblioteca, exposição de rochas
e minerais, projecção de cinema transmontano, realização de documentários e
filmes audio-visuais, encontro de medicina tradicional), e ainda formação dos
apicultores locais em apicultura móvel e a organização da Primeira Assembleia
dos Povos do Parque Nacional da Penêda-Gerês. Todas estas actividades realizam-se
com os contributos individuais, seja, grande parte de auto-financiamento,
beneficiando da cedencia de instalações (escolas primárias, Juntas de
Freguesia, Centro Paroquial).
O movimento gerado na Freguesia de Cabril e arredores resulta
do contributo de várias pessoas, em espécie e trabalho, ideias e propostas. O
turismo de massas é prejudicial e destroi os ecosistemas. Mas o património
natural do Parque Nacional da Penêda-Gerês e a riqueza cultural da história e
das populações locais são valiosas. Aparece o conceito de ecoturismo, pioneiro
em Portugal: visitantes guiados, informados sobre a capacidade de impacto do
ecosistema, natural e cultural, pequenos grupos.
2. FUNDAÇÃO
Em 1987, um grupo de 11 jovens, uns locais, outros de mais
longe, realizam uma assembeia de fundadores e registam a cooperativa T. G. – Trote
Gerês, cooperativa de ocupação de tempos livres, C. R. L., com sede na aldeia
de Cavalos em Cabril, Conselho de Montalegre, Distrito de Vila Real, na
Província de Tráz-os-Montes, Portugal.
Adquirem-se os primeiros cavalos Garranos (raça autoctone em
vias de extinção) e iniciam-se os percursos guiados a cavalo (garrano) com
alojamento em campismo informal e no habitante. Os primeiros clientes chegam
atravém de uma das maiores agencias de viajens aventura, a francesa Nouvelle
Frontiéres.
3.CONSOLIDAÇÃO
Em 1989, um projecto apresentado ao programa Iniciativas Locais
de Emprego permite a infraestruturação e construção de um Parque Campismo e de
um Centro Hípico, em Outeiro Alto, Eiredo, Cabril e a criação de 4 postos de
trabalho permanentes. Novas atividades são desenvolvidas: alojamento em
campismo, restauração, percursos pedestres, aulas de equitação, produção de
cavalos, produção de adubo.
O processo de cedência de dois terrenos pela Junta de
Freguesia de Cabril e pela Comissão de Compartes é amplamente debatido in loco,
originando a criação de um novo lugar na freguesia, com água, energia elétrica
e saneamento.
Na cooperativa são admitidos novos membros e é aumentado o
Capital Social, adquire-se uma viatura 4X4 e diversos equipamentos para
Equitação, Canoagem, Tiro ao Arco, Cicloturismo de Montanha. Os percursos
guiados diversificam-se em Históricos, Etnográficos e Natureza. Em 1990, a
Trote Gerês ganha um prémio europeu, com o programa transnacional Caminhos de
Santiago, iniciativa de turismo religioso.
Já em 1994, a candidatura a um financiamento da Comissão
Europeia lança o programa Valorização do Garrano para Atividades de Lazer,
construindo um armazém e uma maternidade no Centro Hípico de Outeiro alto,
apoiando a criação de dois centros hípicos em parceiros de Padornelos
(Montalegre, Portugal) e Vilar de Santos (Galiza, Espanha) e lançando uma
campanha promocional dos percursos equestres transnacionais a nível nacional e
internacional.
Resultado direto destas intervenções, o cavalo Garrano do
Gerês passa a espécie protegida, é criada uma associação de criadores, com
direito a um subsídio anual por cabeça (100 euros).
4. EXPANSÃO
Em 1989, com um contrato de aluguer com a Câmara Municipal de
Montalegre, reabilita-se e equipa-se um edifício com 7 quartos na freguesia de
Paradela do Rio, a Pousadinha de Paradela, criando 2 postos de trabalho. Esta
iniciativa abre um novo sector de atividade, o Turismo Rural. Desde logo
organizam-se encontros e exposições com animação cultural diversa, danças e
cantigas ao desafio, provas de produtos locais.
Em 1992, uma candidatura à iniciativa Leader 1 (Ligações
entre ações de desenvolvimento da economia rural) da Comissão Europeia,
permite um investimento significativo com a melhoria notável das infraestruturas
no Parque de Campismo de Outeiro Alto, a aquisição, reabilitação e equipamento
de 2 Casas, de arquitetura tradicional, na aldeia de Sirvozelo, para Turismo
Rural. E ainda o aluguer à empresa Eletricidade de Portugal, de um grupo de 6
moradias (com 2 a 4 quartos) e uma estalagem (15 quartos), que foram
reabilitados e equipados, no novo centro turístico em Vila Nova, freguesia de
Ferral, a Hospedaria Peregrinos.
A cooperativa gere agora 4 centros de Ecoturismo, com 36
trabalhadores, recebendo mais de 5.000 clientes por ano, consumindo produtos
locais em quantidade (feno, milho, mel, meias de lã, vinho) e contratando
mão-de-obra local sempre que disponível.
5.
DIVERSIFICAÇÃO
A economia social, moderna descoberta da humanidade, depois
da acumulação privada e da administração pública, inscreve-se no processo
cooperativo da Trote Gerês. As vantagens da intercooperação consolidam-se na
adesão à UniNorte, União das Cooperativas da Região Norte, com programas de
formação profissional, comercialização e organização de eventos.
No mesmo sentido, a cooperação com a COOPAS (Cooperativa de
Planeamento, Arquitetura e Serviços) tinha conseguido um alto nível de qualidade na
projeção das infraestruturas e um financiamento direto em Títulos de
Investimento Cooperativo (mais tarde reembolsados).
Na Serra do Gerês os lobos ainda matam muito gado, recurso
fundamental da agricultura de subsistência. Mas por outro lado, a qualidade dos
produtos pecuários é alta e exclusivamente biológica. A TG passa a dinamizar e
liderar a associação dos Criadores de Gado do Parque Nacional da Peneda-Gerês.
A adesão à INDE
(Cooperativa de Intercooperação e Desenvolvimento) permite a criação do CECoD
(Centro de Estudos e Conselho para o Desenvolvimento), promotor de diversas
iniciativas de desenvolvimento local e de um boletim informativo mensal (digital
e fotocopia), “Sinais”, com ampla divulgação.
Alargando a rede de parceiros nacionais, a Trote Gerês funda
em 1993 a Animar, associação portuguesa de desenvolvimento local, lançando a
Manifesta, 1ª Manifestação, Festa, Assembleia, Mostra, do desenvolvimento
local.
Em 1994, 2 cooperadas da TG formam e dinamizam um grupo de 6 mulheres
locais, constituindo a empresa privada Modabarr (Moda Barrosã, Lda.): produção
e venda de uma linha de vestuário moderno com matérias primas tradicionais (lã
branca e castanha, linho, estopa e tomentos). Várias camponesas acedem a uma
nova fonte de receita, a região entra num processo de difusão de imagem de
qualidade através de múltiplos desfiles de moda no país e no estrangeiro, a
população local passa a encarar o tradicional como uma vantagem a orgulhar-se.
Nesta época existem já múltiplos parceiros na região focados
no desenvolvimento sustentável: Cooperativas, Associações, Empresas Privadas,
Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, que elegem a TG para liderar a Probarroso,
Associação de Promoção e Desenvolvimento do Barroso. Esta empresa irá realizar
programas de formação profissional, de planeamento territorial, de valorização
económica do património cultural (internacional), de reinserção de emigrantes,
de igualdade de género, de reabilitação urbana.
A sociedade da informação e tecnologia dita agora as regras e
a TG, com um parceiro privado (Latina Europa, Audiovisuais, Lda.), cria a SIM,
Sociedade Imagem Montanha, produção de media: promoção do “ar de Barroso”, a
construção da imagem de marca do ecoturismo da região (montanhas, 6 serras,
Gerês, Cabreira, Barroso, Leiranco, Larouco, Mourela e planalto, Barroso).
O vasto património arquitetónico, em granito, no Barroso,
incluindo a casa tradicional de pátio interior, os castros, as pontes, as eiras
e canastros, as fontes, os moinhos de água, os pisões, os pelourinhos, as
igrejas e capelas, o castelo, aliado à carência de infraestruturas de
acolhimento, levam a TG á criação da VerBarroso,
Sociedade Imobiliária Turística.
Em 1998, a Exposição
Mundial em Lisboa abre uma oportunidade única de divulgação. A TG põe a
funcionar o Barco do Mundo Rural, um varino veleiro típico do Tejo, com
percursos de Alcântara á Expo, animações semanais por região do país, com
provas de produtos locais de qualidade e atividades artísticas referentes,
beneficiando de ampla divulgação na comunicação social. Terminada a Expo, a TG
decide criar um espaço permanente na capital para promover e vender os produtos
e serviços dos territórios rurais. Com parceiros escolhidos é fundada a ProRegiões,
Promoção das Regiões, Lda., que abre a Loja do Mundo Rural em Ourique. Aqui
encontra-se tudo o que há de melhor no país, nas áreas da gastronomia (doces,
queijos, vinhos, ervas), artesanato (cestaria, barro, tapeçaria) e serviços
(ecoturismo, lazer, turismo aventura, arte e cultura).
6.
SUSTENTABILIDADE
Em 2013 o Parque de Campismo em Eiredo está renovado, acesso
regularizado, no centro de um grupo de infraestruturas da freguesia de Cabril:
o Centro Desportivo, a Extensão de Saúde e o Estaleiro de uma empresa de
construção civil. O Centro Hípico reativa-se
com um grupo de jovens locais, criadores de Garranos.
O Turismo Rural, gravemente prejudicado pela crise financeira
internacional, não poupou a TG. Mas as Casas Rurais de Sirvozelo foram
melhoradas e os visitantes continuam a elogiar o quadro exemplar em que nos
situamos.
Em Vilar de Perdizes, o Congresso de Medicina Tradicional do
Barroso, anual, marca a revelação da cultura popular, impenetrável a todas as
tecnologias. Tão forte, que se celebra humoristicamente todas as sextas-feiras
dia 13!
Na área dos produtos
de qualidade locais, o presunto, o salpicão, a chouriça, a Sanguinheira, a
alheira, são excelentes. A TG lançou o desafio e o município protagonizou a
organização da Feira do Fumeiro de Montalegre, anual, com milhares de
visitantes.
A Câmara Municipal de Montalegre teve ainda o privilégio de
implementar o Ecomuseu do Barroso, com apoio ao financiamento de
infraestruturas e serviços.
Existem hoje no Barroso infraestruturas hoteleiras de
qualidade, serviços de ecoturismo especializados, uma gastronomia gostosa, um
público fiel e um enorme potencial de descobridores a alertar!
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