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domingo, 11 de janeiro de 2015

Historia de Africa

“Provêm da África oriental e do nordeste os primeiros vestígios da existência do Homem e da formação da sociedade humana (Garganta Olduvai, Norte da Tanzânia), com cerca de um milhão e meio ou dois milhões de anos, que nos mostram seres hominídeos com cerca de 1,37 metros de altura, vivendo em pequenos grupo junto dos lagos da savana e que lascavam a pedra para fabricar os primeiros instrumentos toscos com que abatiam e cortavam os animais.

Há cerca de 50.000 ou 60.000 anos o homem africano utilizava o fogo para cozinhar e tornar mais tenras as pecas de caca, podendo desse modo tornar mais eficiente a utilização das suas reservas alimentares e permitir o alargamento das suas comunidades.

Os vestígios de esqueletos provam que um tipo de homem moderno, diferente dos caucasóides da Ásia, da Europa e do norte de África, e especialmente adaptado as condições dos trópicos africanos, apareceu na África oriental cerca de 50.000 anos a. C. e que durante cerca de 10.000 a 20.000 anos tal tipo evoluiu, por selecção natural, em duas direcções diversas, consoante as exigências de dois ambientes diferentes. Um dos resultado foi o negro, adaptado às condições de humidade da África equatorial e ocidental, o outro uma variante mais adaptada às terras de pastagem e às savanas mais secas da África oriental e austral, mais pequeno, o khoi ou khoisan.

De momento não é possível datar com segurança os progressos experimentados pela agricultura entre os negros do Sudão. Mas pelos dados existentes as novas culturas ter-se-iam desenvolvido nas zonas de savana entre 4.000 e 1.000 a.C. Outro grande avanço resultante da Revolução Neolítica foi a invenção de instrumentos e armas de metal, progresso que ocorreu em primeiro lugar no Próximo Oriente e o efeito de filtragem exercido pelo deserto do Sara poderá ajudar a explicar a razão de a fusão do minério de ferro e a forjadura de instrumentos de ferro e de aço surgir na África negra mais ou menos na mesma altura da fusão dos minérios de cobre e do fabrico de objectos de cobre (primeira metade do primeiro milénio a.C.).

A existência simultânea de veículos com rodas e do cobre no Sara ocidental torna plausível a hipótese de que o conhecimento da metalurgia do ferro terá passado do Norte de África para o Sudão ocidental e central tão rapidamente como o conhecimento da escrita, que veio juntamente com a religião islâmica, à qual os africanos do Norte não se terão convertido antes do século VIII e alguns negros da África ocidental terão adoptado pelo menos no século X.

Os vestígios indicam que se terá registado um movimento, com inicio possivelmente cerca de 2.000 a.C. e que chegou às savanas o mais tardar por alturas de 300 a.C., tendo como principal consequência que os povos hoje chamados Bantos se tornaram o tronco dominante em toda a metade meridional de África, à excepção do extremo sudoeste, dentro e à volta do deserto do Calaàri, onde a precipitação era insuficiente para permitir as culturas.

Banto é um termo de classificação linguística. Provem do facto de nas línguas faladas pelos povos negros actualmente usadas pela quase totalidade dos habitantes da metade meridional de África existir alguma forma de radical nto, com o sentido genérico de , e de estas línguas apresentarem um sistema de categorias de substantivos em que uma forma do prefixo ba- significa o plural da categoria que denota pessoas. As 400 ou mais línguas banto faladas na enorme extensão do território a sul de uma linha que vai mais ou menos do monte Camarões, na costa atlântica, ao monte Elgon, no Uganda, e dai ate à costa leste próximo de Lamu, são na verdade muito mais semelhantes no vocabulário e na estrutura gramatical do que sucede por norma – mesmo em áreas muito mais pequenas – com as línguas do Sudão.

Conquistando e destruindo Cartago em 146 a.C. os Romanos ocupam as planícies da Tunísia, com as quais constituíram uma província que denominaram África.

Nos séculos XIX e XX, o evidente sucesso da colonização europeia encorajou outros europeus a fixar-se. No sul de Moçambique havia uma comunidade de colonos, muitos dos quais serviam de apoio às economias do Transval e da Rodésia do Sul, que dependiam dos seus portos, e em Angola viviam europeus desde o século XVI. Desde a década de 1940, Portugal começou a encorajar mais cidadãos seus a emigrarem para essas para assegurarem o seu desenvolvimento económico e para diminuir a pobreza na metrópole. Por volta de 1960, estavam instalados em Angola cerca de 200.000 Portugueses e em Moçambique cerca de 80.000, onde constituíam 4,5% e pouco mais de 1% das respectivas populações.

Em 1960 terminou definitivamente a tentativa para alargar o domínio dos colonos na África tropical a norte do Zambeze. Ela obteve pouco êxito pelo facto de haver poucos europeus que quisessem arriscar a sua sorte e a dos seus filhos na tarefa difícil de erguer Estados nos trópicos, e porque essa tentativa só poderia prosperar durante o apogeu da confiança da Europa na sua missão imperial. A colonização europeia ficou então efectivamente limitada às duas zonas temperadas dos dois extremos do continente onde criara raízes antes da época imperial e prosperara: na África do Sul, com o prolongamento na Rodésia do Sul, e nas vizinhas colónias portuguesas, que curiosamente não tinham abandonado a crença na sua missão civilizadora inicial; e no Norte de África onde, apesar da sua proximidade em relação à Europa, a teoria da superioridade europeia estava também prestes a ser abandonada.

Até 1974 Portugal continuou a ser uma potencia colonial no sentido mais tradicional do termo, apesar de afirmar que não possuía colónias mas apenas algumas províncias do seu território, que por acaso se situavam no ultramar. Daí resultou que em meados dos anos 60 Portugal se encontrava nas suas três colónias – Guine, Angola e Moçambique – a braços com uma guerra de guerrilha em grande escala, activamente apoiada a partir dos territórios vizinhos independentes (assim como o eram as incursões de guerrilheiros na Rodésia). Nos inícios dos anos 70, metade do orçamento português destinava-se a custear as forcas armadas em África, criando desse modo uma tensão muito mais forte na sua economia do que sucedera com a guerra argelina em relação à França. Finalmente, em 1974, o exército e o povo português estavam já fartos da situação e desencadearam uma revolta. Uma das primeiras medidas do governo foi reconhecer as exigências dos nacionalistas africanos em relação à independência dos seus territórios. Dado que esta revolução garantiu o fim da ditadura que governara Portugal desde 1926, parecia que os africanos tornavam desse modo extensivos a um povo europeu os benefícios da liberdade.

A actuação na esfera política variou entre o bom, no caso do Estado insular das Maurícias, as repúblicas do Botsuana e Mali, e o ex - Estado marxista-leninista de Moçambique, até o mau, como no atoleiro de Angola, RDC, Somália e Serra Leoa. Infelizmente, na década de 90 os golpes militares não eram coisa do passado, como o demonstraram as experiencias da Gâmbia e da Costa do Marfim – a primeira bastião da e a segunda de estabilidade democrática durante a maioria do período pós - independência. Mais comum foi a legitimação eleitoral dos regimes militares na Líbia, Togo, Guine e Chade; esses países retiveram o seu carácter essencialmente autoritário. Mais preocupante foi a regressão do que tinham sido promessas democráticas no inicio da década; estes incluíam a Zâmbia, onde Chiluba mostrou muitas das características autocratas que criticara em Kaunda, e o Zimbabué, onde Mugabe, numa tentativa desesperada de se agarrar ao poder, jogou a cartada racial e desafiou a decisão do Supremo Tribunal relativa à confiscação de terras pertencentes a brancos.

As independências africanas ocorreram numa atmosfera protectora que promoveu a absorção das ex – colónias como membros inquestionáveis da sociedade internacional de Estados soberanos. Pela primeira vez, a soberania do Estado era aceite na base jurídica de reconhecimento por parte dos outros Estados soberanos e não na base empírica de capacidades de governação, defesa e extracção fiscal que desde sempre constituíra a prova crucial de viabilidade dos Estados. Tal mudança de paradigma é imprescindível para compreender a viabilização dos Estados africanos pós – coloniais, muitos dos quais minúsculos, sem saída para o mar, ou paupérrimos, e que nunca teriam emergido noutro momento histórico.

De acordo com o politólogo Christopher Clapham, os Estados africanos . Este facto foi parcialmente obscurecido pela ordem internacional vigente durante a Guerra Fria porque esta dava às elites africanas o estatuto internacional e os meios financeiros e políticos para manterem Estados minimamente funcionais.

Até cerca de 2005, houve em África uma convergência retórica com o liberalismo ocidental que em parte se coaduna com a tese sobre o de Francis Fukuyama. A grande maioria dos governos africanos rendeu-se à linguagem e rituais democráticos mais cedo ou mais tarde, organizando eleições (mesmo que falsificassem os resultados), permitindo a criação de ONG e espaço para a sociedade civil (mesmo que as oprimissem e/ou co – optassem) e utilizando com entusiasmo a iria do reformismo económico liberal (mesmo sem qualquer intenção de o implementar).

África continua dependente de flutuações do mercado internacional em relação às quais não tem qualquer capacidade de impacto; e os obstáculos à diversificação das economias africanas para além da exportação de matérias – primas são cada vez mais significativos. Este último facto é ampliado pelos limites do Estado africano enquanto tecnologia de administração e da fraca especialização da força de trabalho africana.”


J. D. Fage, William Tordoff, Ricardo Soares Oliveira, Historia de África, Edições 70, Lisboa, 2010

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