Aderência ao
tratamento da tuberculose no Hospital Geral de Marrere, Nampula, Moçambique, 2014
Autores: Paulo Pires¹, Emane A. Uagire2,
Geraldo P. Iava2, Mariamo I. Abdala2, Mariamo Ussene2,
Maurício António2, Paneshia S. João2, Théophile
Nizeyimana2, Viano Macurire2.
1-
Médico Especialista em Medicina Familiar e Comunitária, Consultor em
Clínica Geral e Medicina Familiar, Docente Assistente na
Universidade Lúrio, Faculdade de Ciências de Saúde (FCS).
2- Estudantes do 3º ano 6º semestre do Curso de
Medicina, Universidade Lúrio, FCS.
Contexto: a tuberculose (TB) é uma
doença infecciosa que constitui um grave problema de saúde pública em
Moçambique agudizado pelo abandono do tratamento. A (TB) é uma causa
significativa de mortalidade na província de Nampula, devido à alta prevalência
da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) e ao baixo nível de
informação da população.
Objectivos:
avaliar o conhecimento sobre aderência por parte dos pacientes em tratamento de
(TB) no Hospital Geral de Marrere (HGM) no ano de 2014 e explicar as
consequências da não adesão, com vista a garantir a conclusão do tratamento e a
cura.
Metodologia:
estudo qualitativo, descritivo, transversal, tendo como
população alvo doentes com (TB) em tratamento no (HGM). Os métodos utilizados
foram a consulta dos registos e dos profissionais do serviço do Programa
Nacional de Combate à Tuberculose (PNCT), a identificação dos pacientes em
tratamento de (TB), a entrevista individual, a educação para a saúde.
Resultados:
avaliados 28 pacientes (50% de cada sexo) com idade média
de 32 anos. A avaliação do conhecimento incidiu sobre as vantagens da aderência
e as consequências da não aderência: vantagens da aderência, melhorar (29%), evitar o contágio
(4%); consequências da não aderência: aumento
de mortalidade (39%), contágio (29%).
Discussão: os pacientes têm pouco conhecimento sobre (TB) e principalmente sobre
aderência terapêutica sendo necessário educa-los no (PNCT)
para melhorar o sucesso terapêutico.
Palavras-chave: aderência,
tratamento, tuberculose, Nampula, Moçambique.
Abstract
Context: tuberculosis
(TB) is an infectious disease and a serious public health problem in Mozambique
aggravated by treatment abandon. (TB) is a significant mortality cause in
Nampula province, due to the high Human Immunodeficiency virus (HIV) infection
prevalence and to the low population information level.
Objectives:
evaluate patients in (TB) treatment at Marrere General Hospital (MGH) adherence
knowledge, 2014 and educate them about non adherence consequences, to
accomplish treatment and cure.
Methods:
qualitative, descriptive and transversal study, with (TB)
patients in treatment at (MGH). We consulted Tuberculosis National Program
registers and health professionals, identified patients in (TB) treatment, interviewed
them and provided health education.
Results:
28 patients (50% of each gender) were evaluated with
an average age of 32 years old. Knowledge evaluation about adherence advantages
and abandon consequences showed: adherence advantages, to get better (29%), avoid transmission (4%); abandon
consequences, increase mortality (39%), disease
transmission (29%).
Discussion: patients have little knowledge about (TB) and mainly about treatment
adherence so it is necessary to educate them in the Tuberculosis
National Program to better therapeutic success.
Introdução
A Tuberculose (TB) é
uma doença infecciosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis, bacilo de Koch,
(1) constituindo um grave problema de saúde pública, acentuado pelo abandono do
tratamento, sobretudo em países em vias de desenvolvimento como Moçambique. (2)
Um estudo realizado em Espanha mostrou que (14,9%) dos pacientes tinham
abandonado o tratamento; os factores associados à aderência ao tratamento eram:
apoio familiar, ausência de efeitos secundários das drogas e oportunidade para
receber o tratamento na clínica onde a (TB) foi diagnosticada; os factores
associados ao abandono eram: tratamento que requer mais de dois meses, baixo
estatuto socioeconómico, idade entre 21-30 anos, história de encarceramento e
co-infecção pelo (VIH). A falta de informação da população sobre os sintomas de
(TB), os custos de transporte para acesso a serviços clínicos, o estigma social
ligado à doença, os problemas organizacionais para manter um acompanhamento
adequado e a percepção dos pacientes sobre os serviços de saúde como pouco
hospitaleiros, são factores que contribuem para a complexidade da aderência ao
tratamento. Salientam-se os factores socioculturais: a compreensão das pessoas
sobre a informação transmitida, da família, dos amigos e vizinhos, sobre a
natureza do problema de saúde, sua causa e suas implicações. Um conhecimento da
cultura de saúde desses pacientes, torna-se uma ferramenta crítica em programas
de controlo de (TB) para obter êxito. (3) Outro estudo que avaliou 257
pacientes em tratamento de (TB) constatou que 87 abandonaram o tratamento antes
de seis meses. Estes tiveram como factores identificados de abandono:
alcoolismo, comportamento de risco para infecção pelo (VIH), doença
extra-pulmonar. (4) Outro estudo qualitativo em profissionais de saúde no
estado de Pará, Brasil, mostrou que dois grupos de factores estavam envolvidos
na dificuldade de aderência: (1) factores associados aos pacientes (baixo
estatuto socioeconómico, efeitos adversos das drogas usadas, uso de drogas
ilegais e falta de auto-motivação); (2) factores associados aos serviços de
saúde (estrutura física do centro de saúde, organização dos processos e acessibilidade).
(5) Seriam ainda factores
predisponentes para o abandono do tratamento: factores sociais como doentes com
(TB) sem trabalho fixo, uso de álcool diário independentemente do sexo e do
grupo etário; em relação ao serviço de saúde, a não confirmação do diagnóstico
é de grande risco para o abandono. Outros factores de risco associados ao
abandono, "subjectivos", como o relato de não melhoria clínica do
doente, a rejeição do serviço de saúde, têm que ser melhor avaliados e
compreendidos. A não melhoria pode estar relacionada a efeitos adversos das
drogas, ao diagnóstico incorrecto, ou mesmo a uma justificativa a posteriori do doente. O relato de “não
mais voltar ao serviço de saúde” necessita da avaliação da qualidade do
atendimento aos doentes. (6) Uma das principais preocupações para aumentar a
efectividade dos programas nacionais de controlo da (TB) é o aumento da
aderência ao tratamento, com a redução das taxas de abandono. (7) Um
estudo realizado em Marrocos mostrou que um grande número de pacientes
interrompe o tratamento voluntariamente antes da conclusão; o objectivo deste
estudo era descrever o impacto do conhecimento e atitudes sobre (TB) na
aderência ao tratamento; mais de 64% dos pacientes eram analfabetos ou tinham
um nível educacional básico; o facto que a doença é curável era mais conhecido
por pacientes aderentes; 83% dos pacientes tinham conhecimento sobre a duração
do tratamento e sobre as consequências de não o completar; a razão principal
evocada para deixar de comparecer era a sensação de estar curado (72,9%). Este
estudo revela um conhecimento baixo sobre (TB) nos pacientes não aderentes,
justificando a necessidade de incorporar a educação dos pacientes nos programas
de tratamento da TB. (8) Outro estudo realizado na Zâmbia,
destacou que os factores principais que conduzem à não aderência incluíam
pacientes que começam a sentir-se bem, a falta de conhecimento sobre os
benefícios de completar o tratamento, a falta de drogas em casa e os efeitos
secundários daquelas. (9) Um outro estudo prospectivo
questionou indivíduos suspeitos e pacientes infectados por (TB), para avaliar o
conhecimento e a aceitabilidade de medidas de controlo dos pacientes numa
comunidade Sul Africana; os pacientes de (TB) e os suspeitos mostraram um
conhecimento semelhante sobre a doença; 57% de todos os participantes
responderam que conheciam a causa de (TB), mas só 25% identificaram a etiologia
microbiana correctamente; no final do tratamento os pacientes de (TB)
demonstraram um conhecimento aumentado sobre a doença e um aumento da
aceitabilidade de medidas de controlo da infecção doméstica. Como conclusão
este estudo mostra que a aceitabilidade do controlo da infecção pelos pacientes
está relacionada com o aumento do conhecimento sobre (TB). Deste modo os
programas de controlo nacionais deveriam maximizar a educação sobre (TB) o mais
cedo possível, para melhorar a aderência às medidas de controlo da infecção. (10)
Outro estudo avaliou o conhecimento sobre adesão ao tratamento da (TB) e
factores associados e entrevistou pacientes atendidos no Programa de Controlo
da (TB) do Rio Grande do Sul, Brasil e seus familiares; 60% dos sujeitos
possuíam conhecimento sobre adesão e este estava associado com a condição de
ser portador e com o facto de já ter existido um caso da doença na família; constatou-se
que o conhecimento sobre adesão é baixo, evidenciando-se a necessidade de
acções educativas destinadas aos pacientes, familiares e comunidade. A (OMS)
declarou em 1993 a (TB) como um estado de urgência, alertando para a
necessidade de esforços para o seu controlo. O Directly Observed Therapy
Short Course (DOTS) - Tratamento Directamente Observado de Curta Duração
- é uma das medidas mais eficazes para controlo da doença. A adesão do paciente
ao tratamento depende do seu conhecimento sobre a patologia, sobre a duração do
tratamento prescrito, sobre a importância da regularidade no uso da medicação e
sobre as consequências da interrupção do tratamento. (11) Um outro estudo realizado em São
Paulo, sobre causas de abandono do tratamento de (TB), refere que estas
são muitas (ver Anexo 1, Quadro 1). Não encontramos nenhum estudo referente aos
conhecimentos de comunidades Moçambicanas sobre aderência terapêutica na (TB).
A literatura sobre o tema mostra que o conhecimento dos pacientes e familiares
sobre a continuidade do esquema terapêutico recomendado para a (TB), representa
um factor relevante para o controlo da doença. Nos países onde existem estudos
sobre o nível de conhecimento das suas populações, dispõe-se de um ponto de
partida para a implementação de programas educativos sobre a aderência ao
tratamento da (TB); o facto de tal informação sobre a população Moçambicana ser
quase inexistente constitui uma desvantagem para os serviços de saúde.
Objectivos
Objectivo
geral
Avaliar o conhecimento
dos pacientes acerca da importância da aderência ao tratamento de (TB) no (HGM), para melhorar a taxa de conclusão do tratamento e de
cura dos pacientes.
Objectivos
específicos
·
Avaliar as causas de
baixa aderência ao tratamento de (TB).
·
Avaliar o conhecimento
dos pacientes com (TB) sobre a importância da aderência.
·
Educar os pacientes com
(TB) do (HGM) acerca das consequências de não aderir ao tratamento e promover a
adesão.
Metodologia
Foram consultados os
livros de registo disponíveis no (PNCT) do (HGM), para recolher informação
sobre os doentes em tratamento. Os profissionais de saúde foram entrevistados sobre
o funcionamento do sector, as medidas para garantir a aderência ao tratamento, a
disponibilidade de medicamentos, o que é feito em caso de falta de comparência
ou abandono do tratamento. Os pacientes foram igualmente submetidos a entrevista
e educação para a saúde.
Tipo de estudo
Estudo - acção, misto quantitativo
e qualitativo, exploratório, de coorte transversal, utilizando entrevista e
questionário. Universo: pacientes com (TB) em tratamento no (HGM). Os
profissionais de saúde do (PNCT) participaram na investigação colaborando na
disponibilização dos livros de registo e na identificação dos pacientes.
Selecção dos
Instrumentos de medida
Entrevista, (12) semi-estruturada aos
profissionais de saúde do (HGM); inquérito, com questionário para os pacientes
em tratamento de (TB) em regime ambulatório do (HGM).
População - alvo do estudo
Critérios de inclusão: idade ≥ 15 anos, pacientes em tratamento de (TB) em
regime ambulatório, voluntários que assinaram o Termo de Consentimento
Informado (TCI). Critérios
de não
inclusão: pacientes com (TB) que fazem o
tratamento em outra unidade sanitária, pacientes em tratamento de (TB) no (HGM)
em regime de internamento, idade inferior a 15 anos, pacientes que não
assinaram o (TCI).
Variáveis
Variáveis
independentes: sexo, idade, estado civil, nível académico e profissão. Variáveis
dependentes: fase de tratamento, ruptura de stock de medicamentos, teve
educação sobre aderência, tem dificuldades de acesso, já falhou medicação,
conhece consequências do abandono, família apoia, bom atendimento na unidade de
saúde (US).
Bioética
O estudo seguiu todas as orientações da Declaração
de Helsínquia (revisão de 2013).
Análise dos dados
Os dados foram tratados com o programa
informático Microsoft Office Excel.
RESULTADOS
O
grupo em estudo
O grupo em estudo compõe-se de 28
pacientes em tratamento de (TB) no (PNCT) no (HGM), sendo 14 (50%) do sexo
feminino e 14 (50%) do sexo masculino, todos de nacionalidade Moçambicana; a média
etária foi de 32 anos (entre os 16 e os 75 anos), sendo a média etária das
mulheres (26 anos, entre os 16 e os 45) inferior em 13 anos à dos homens (39
anos, de 23 a 75). Analisando o grau de escolaridade verifica-se que 14% do
grupo detêm o nível de ensino médio, de forma idêntica para os 2 sexos. Existe
uma predominância de analfabetos nas mulheres (14% em relação a 0% nos homens).
No que respeita o Estado Civil verifica-se que a maioria dos pacientes (79%) é solteira,
separado ou viúvo, sendo esta condição ainda mais prevalente nas mulheres.
Processo
de tratamento
Verificamos que 82% dos pacientes estão
em fase intensiva e que os pacientes em fase de manutenção estão todos
separados (100%), estando a mesma característica presente em 74% dos pacientes em
fase intensiva. Ao avaliar a distância média percorrida pelos pacientes para
aceder á US encontramos 6 km, com um mínimo de 1 km e um máximo de 20 km. Todos
os pacientes responderam que vem buscar os medicamentos à (US) de dois em dois
dias. Quando perguntamos se tem dificuldade para levantar os medicamentos 32%
dos pacientes afirmam que sim; analisando a ocorrência deste facto por sexo
verificamos que as mulheres tem mais dificuldades que os homens). Analisando a
dificuldade para levantar os medicamentos segundo a fase de tratamento,
verificamos que os pacientes em fase intensiva referem dificuldades acrescidas.
Analisando o tipo de dificuldades para levantar os medicamentos, a maioria dos
pacientes (61%) indica a distância a percorrer até à (US) como o principal
obstáculo (sobretudo as mulheres), sendo o segundo lugar ocupado pela falta de
medicamentos na (US), apontada por 50% dos pacientes (também mais mencionada
pelas mulheres).
Conhecimento
sobre aderência ao tratamento da tuberculose
A avaliação do conhecimento dos
pacientes com (TB) sobre aderência ao tratamento baseou-se em cinco perguntas sobre
as vantagens da aderência e quatro perguntas sobre as consequências da não
aderência; constatou-se que entre os 28 pacientes, 12 (43%) conhecem as
respostas às cinco perguntas como vantagens da aderência ao tratamento (5 homens
e 7 mulheres) e metade (50%) conhecem as quatro respostas às perguntas sobre
consequências de não aderência ao tratamento (5 homens e 9 mulheres).
Resultado das
entrevistas aos profissionais de saúde
Os pacientes recebem os medicamentos de dois
em dois dias: 2as, 4as e 6as feiras, levando o
medicamento do mesmo dia e do dia seguinte durante todos os meses de
tratamento, devido à localização do Hospital que dificulta aos pacientes a
busca diária dos medicamentos. Durante o fornecimento dos medicamentos aos
pacientes, o profissional de saúde garante a observação directa da toma. Em
caso de falta do paciente, comunica-se ao líder comunitário via telefónica para
entrar em contacto com o paciente para que ele venha levantar os medicamentos.
Para garantir a aderência ao tratamento, é feita educação para a saúde através
de palestras, diariamente. A causa mais preocupante de não aderência é a
distância seguida da preocupação dos pacientes sobre o longo período de
tratamento. As medidas educativas para melhorar a aderência podem ser: condições
e fundo para supervisão semanal, transporte em busca de pacientes a longa
distância, disponibilidade de mota para o (PNCT), activistas formados para
levar (DOTS) a localidades distantes.
Análise
e Discussão
A adesão ao regime terapêutico é um
conceito que engloba não só o cumprimento da prescrição farmacológica, mas
também os comportamentos promotores de saúde, pelo que o doente deve
compreender como o regime terapêutico se relaciona com a sua vida. (13) Engloba ainda as características do grupo em estudo,
a maneira como é desenvolvido o processo de tratamento e o conhecimento dos
pacientes em tratamento sobre a doença, principalmente sobre aderência, suas
vantagens e consequências de não aderência.
O
grupo em estudo
A doença predomina nos homens de idade
avançada. O grupo em estudo tem um baixo nível de escolaridade (7% analfabetos,
79% ensino básico) e um deficiente domínio da língua portuguesa, o que
prejudica a compreensão do processo de doença e tratamento e constitui um
obstáculo na melhoria do estilo de vida e na captação do conhecimento. De igual
modo a prevalência da condição de estado civil de solteiro, separado ou viúvo (79%)
pode interferir negativamente sobre a aderência ao tratamento.
Processo de tratamento
Tendo em conta que os pacientes
percorrem uma media de 6 km para levantar os medicamentos, podemos estimar a dificuldade
de acesso á (US), configurando um obstáculo à aderência terapêutica. Nos
pacientes estudados, 61% referem a distância como grande obstáculo para
aquisição do medicamento. Outro problema referido pela metade dos pacientes
(50%) é a falta de medicamentos na (US).
Analisando por fase de tratamento, verificamos que as dificuldades para
levantar os medicamentos se encontram sobretudo na fase intensiva e este dado
pode contribuir para o aparecimento de resistência bacteriana.
Conhecimento
sobre aderência
Para avaliar o nível do conhecimento do
grupo sobre a doença, foram mencionadas as vantagens da aderência e as consequências
da não aderência ao tratamento: vantagens da aderência, melhorar (29%), evitar o contágio
(4%), diminuir a morbi-mortalidade (0%) e todas mencionadas (43%); consequências da não aderência, aumento
de morbi-mortalidade (39%), propagação da doença (29%), sequelas (0%) e todas
mencionadas (50%). Analisando o conhecimento por género encontra-se que “evitar
o contágio” só foi referido pelas mulheres (7%); a vantagem “diminuir a
morbi-mortalidade” isoladamente não foi referida por nenhum paciente, mas a
resposta de “todas as mencionadas” foi mais referida pelas mulheres. Em relação
às consequências, o “aumento da morbi-mortalidade” e a “propagação da doença” são
mais conhecidas pelos homens; a consequência “sequelas” não foi referida por
nenhum paciente mas a resposta “todas mencionadas” foi também mais referida
pelas mulheres. Os dados obtidos mostram um baixo conhecimento sobre aderência
terapêutica, uma vez que a resposta com todas as vantagens mencionadas só foi
respondida por 43% dos pacientes e só 4% sabem que a doença é contagiosa. Os
pacientes desconhecem que a doença resulta em sequelas se não for bem tratada, na
medida em que a resposta sobre a consequência “sequela” não foi referida por
ninguém; a resposta “todas as consequências mencionadas” foi referida por
metade dos pacientes (50%). É fundamental investir na prevenção e tratamento
precoce, principalmente entre os grupos mais desfavorecidos e mais susceptíveis
à infecção; para tal é necessário um investimento na educação destas
comunidades, além dos próprios pacientes, tendo em conta que essa população
carece de informação pertinente.
Conclusão
A (TB) é uma doença infecto-contagiosa constituindo
um dos mais graves e persistentes problemas contemporâneos de Saúde Pública.
Está frequentemente associada a indicadores sociais de pobreza, como a exclusão
social, o baixo nível educacional e habitacional, a desnutrição e a dificuldades
de acesso aos serviços básicos de saúde. O abandono do tratamento é considerado
um dos maiores obstáculos ao combate da doença no país. O tratamento incompleto
não garante a cura bacteriológica e pode ter um efeito deletério na saúde
pública, pois o paciente persiste disseminando os bacilos. A adesão e
continuidade do tratamento são influenciadas por aspectos relacionados às
características do serviço, dos pacientes e do próprio tratamento (reacções
adversas, longa duração), à melhoria clínica nos primeiros meses de tratamento,
às dificuldades para aceder às (US) ou ainda à não-aceitação da doença. O
abandono ocorre pelo facto de o paciente não ter a devida percepção da doença e
desconhecer a importância do tratamento no período adequado. A melhoria da relação
médico - paciente, bem como a melhoria da organização e do atendimento
incluindo a redução no tempo de espera para as consultas, são factores
importantes que levam a uma boa adesão. Assim como o conhecimento e a
desmistificação das crenças sobre a doença e o seu tratamento, contribuem de
forma relevante para a conclusão do tratamento e a cura do paciente. Devemos
realçar que os pacientes em tratamento de (TB) no (HGM) têm um baixo nível de
conhecimento sobre a doença, principalmente no que se refere às vantagens da
aderência e consequências da não aderência (os
pacientes que conhecem todas as vantagens da aderência não chegam a metade do
grupo, 43% e metade do grupo, 50%, conhece todas as consequências da não
aderência). Esta situação afecta o nível de aderência ao tratamento, mostrando
a importância de incentivar a educação dos pacientes no (PNCT) para
melhorar o sucesso terapêutico e a taxa de cura.
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13.
Catela AI., Amendoeira J. Viver a adesão ao regime
terapêutico. Universidade Católica Portuguesa, Portugal. 2008.
Conflitos de interesses dos autores
O
investigador principal docente e os investigadores estudantes autores do estudo
assinaram individualmente uma declaração negando a existência de quaisquer
conflitos de interesses potencialmente interferindo com a execução do estudo
segundo as normas de rigor científico.
Financiamento do estudo
Este
estudo foi financiado pela Universidade de Saskatchewan do Canada, parceira da
FCS da Universidade Lúrio, com a quantia de onze mil meticais (11.000 Mt).
Anexo 1
Quadro 1: Classificação das
causas do abandono do tratamento de (TB).
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Serviços de Saúde
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Tratamento
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Hábitos do paciente
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Baixo nível social e económico
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Falta de informação / Baixa
escolaridade
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Estigma da TB
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||
Estrutura familiar
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||
Condição do paciente
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||
Pensamento religioso e mágico
|
Frustração por não sentir melhora com o tratamento
associado ou não a ideias mágicas sobre doença. A crença da obtenção da cura
através da fé.
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