“Em setembro de 1974 Portugal concedeu o poder à Frelimo, mediante
um período de transição de nove meses. Poucas horas depois da notícia, brancos
de direita iniciaram uma revolta que foi derrotada. O êxodo dos brancos
aumentou. Na altura em que Moçambique fica independente, junho 1975, o país
tinha perdido a maioria dos funcionários administrativos, gerentes, técnicos,
operários e comerciantes. Cerca de 200.00 brancos fugiram de Moçambique,
abandonando quintas, fábricas e casas.
Desafiando as carências críticas de pessoal especializado, o líder
da Frelimo, Samora Machel, lançou-se na transformação da luta de libertação
numa revolução total, utilizando o Marxismo-Leninismo como a linha orientadora.
A Frelimo legisla uma série de Decretos lei nacionalizando quintas, negócios e
fábricas; introduz a planificação económica centralizada; determina produção
agrícola coletiva; e tenta uma estratégia de “aldeamento” semelhante ao programa
ujamaaa da Tanzânia. Grupos de
ativistas partidários (grupos dinamizadores) foram enviados para fábricas,
escritórios, negócios, hospitais, escolas e municípios para reforçar a linha do
Governo. No seu objetivo de modernização, a Frelimo também se lançou na limpeza
dos tradicionalismos culturais e fundiários para eliminar a influência dos
Régulos e dirigentes locais. A Igreja Católica e os seus aderentes foram outro
alvo. A Frelimo decretou o fim dos festivais e cerimónias religiosas,
apoderou-se das propriedades da igreja e proibiu as atividades na educação e no
casamento. As religiões tradicionais foram também proscritas.
“”O nosso fim””, declara Machel em 1977, “”não é ostentar uma
bandeira diferente da dos Portugueses, ou realizar eleições gerais – mais ou
menos honestas – em que os pretos, no lugar dos brancos, são eleitos, ou ter um
presidente preto em vez de um governador branco…afirmamos que o nosso objetivo
é conseguir a independência total, para estabelecer o poder do povo, para
construir uma nova sociedade sem exploração, para benefício de todos aqueles
que se consideram Moçambicanos!””.
Estes sentimentos excelentes, demonstraram-se ruinosos. As políticas
de Machel provocaram um descontentamento geral que eventualmente alimentou a
guerra civil.”
Martin Meredith. White Dominoes. The State of Africa. Simons &
Schuster. London. 2011.
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