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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Tentativas falhadas...

Em outros sites de redes sociais, limitam o número ou a qualidade das palavras. Assim apesar de não ser um texto da minha autoria, já tive autorização do autor, ele mesmo, para publicar. Leiam com toda a calma...

OS SOCRATÍADAS
(ou os 1001 versículos messiânicos)

I
Às damas e aos varões sacrificados,
Que nesta ocidental praia Lusitana
Em tempos que não eram conturbados
Deixaram que passasse a Caravana
De traidores, gatunos e drogados,
Eu canto, p’ra tirar o Zé sacana
Que é isso o que eu, ardentemente, peço
Pois suportá-lo mais eu não mereço.

II
E cantarei também os desvarios
Dos que supostamente governaram
O país e a frota de navios
Que nestes trinta anos naufragaram
E aqueles que, os cofres já vazios,
Dos salários dos pobres retiraram
O fruto do trabalho que os sustenta,
Se, por cantar, o mal se me afugenta.

III
E vós, ventres ao sol, arraia miúda,
Ó vítimas da fome e da injustiça,
Fazei que a vossa inspiração me acuda,
Pois é por vós que a pena a voz me atiça,
Não deixeis que uma boca fique muda
Que o medo e a precisão os lábios plissa.
Morra de inveja aquele que não combata
Se por trinta dinheiros a alma mata.

IV
E a ti que já viste o Limoeiro
E sofreste na pele o amargo travo
Da clara insanidade do engenheiro
Eu ofereço este canto em vez de um cravo
Que as rosas debotaram no canteiro
Onde, hoje, cresce, só, o mato bravo.
Bem hajas tu que deste a grande ideia
De eu mostrar os lagartos da colmeia.

V
Que todo aquele que vive em sociedade
Deve encontrar o néctar de uma flor
Que ao corpo dê um pouco a liberdade
De se saber nutrir com seu labor
Sem cuidar de explorar à saciedade
Dos restantes obreiros o suor
Como o faz o lagarto do cortiço
Que passa a vida inteira a pensar nisso.

VI
E é isto que nós vemos com frequência
Nas sociedades ditas progressistas
Que são acometidas da demência
De protegerem sempre os vigaristas,
Vivendo sobretudo da aparência
A mostrar que são muito altruístas
Com subsídios sacados ao obreiro
Para comprar o voto ao calaceiro.

VII
Cada qual só governa p’ra ganhar
Agindo para obter as clientelas,
Produzir não é alvo p’ra alcançar
Mas sim trazer caniches pelas trelas.
Sendo assim, o dinheiro há-de faltar
E mingar a comida nas panelas.
Cada vez o país está pior,
Mas, agora, batemos o record.

VIII
Noutros tempos Guterres governava,
Vivia-se melhor do que hoje em dia,
Quando o Sócrates ainda militava
Nas alas da Social Democracia,
Mas deste Zé Ninguém não se esperava
O vil trafulha em que ele se tornaria.
Tu que votaste diz como é possível
Ser mandado por quem não mostra nível.

IX
Forçoso é começar por descrever
O carácter do boy que ele era então
Dos caminhos que andou a percorrer
Desde a Direita à Esquerda e ao Centrão
Como provam os recuos, no Poder,
Atitudes normais no aldrabão.
Conquanto todos saibam quem ele é
Nuca é demais dizer como é o Zé …

X
O Sócrates é o Zé Pinto de Sousa
Que, em pequeno, era tido por Zezito
E, ousado aventureiro (quem não ousa?)
Na vida teve sempre como fito
Ser um soba qualquer ou qualquer cousa
Como um Titã cantado nalgum mito
Onde os seus semideuses Socratíadas
Fossem lembrados como n’Os Lusíadas.

XI
Discípulo do tal Grego sem reserva,
Aquele que diz “só sei que nada sei”,
Ressurgido, este trengo ainda conserva
A mesmíssima ideia como lei
E que, para iludir a vil Caterva,
Usa como se fosse um grande rei.
Só lhe falta beber a tal cicuta
P’ra que se seque a sua seiva bruta.

XII
O Zezito mostrava um ar contente
Exibindo o seu diploma adquirido
Lá na Universidade Independente,
Com fraudes e artimanhas conseguido,
Assinando projectos de outra gente
Porque nunca p’ra mais fora intruído
E como um refinado vigarista
Lá foi ele p’ró Partido Socialista.

XIII
Com peneiras e lábia e arrogância
Depressa o fizeram deputado
E, apesar de mostrar tanta ignorância,
P’ra Secretário de Estado foi chamado
E em trafulhices, burlas e jactância
Em que sempre ele andou tão embrulhado
Seria neste Ambiente tão sinistro
Que lhe viram apetências p’ra Ministro.

XIV
Ó tu, pobre Cavaco, ora me ensina
Como tirar tal gajo do poleiro
Pois não passa de uma ave de rapina
Mas é segunda vez nosso Primeiro.
Manda-o já para África ou p’rà China
Se o não podes mandar p’ró Limoeiro.
Mas já que nada podes, como eu acho,
Manda-o embora com um grande tacho!

XV
Que seja p’los pecados deste Povo,
Teimoso no seu voto sempre às cegas,
Eu imploro a Deus, aqui, de novo
Que depressa venha outro João das Regras
Ou que venha o tigre ou venha o lobo
E limpem o país dos Estrategas,
Pois, sem receio, a gente anda a votar
No émulo do Oliveira Salazar.

XVI
E a verdade é que o Tonho inda poupava
Embora nos tirasse a liberdade
Mas este, se pudesse, até limpava
As esmolas das almas, sem piedade.
De uma coisa, contudo, este gostava
E defendia-a com fogosidade:
Ser livre de partir à aventura
Numa qualquer viagem de loucura.

XVII
Mesmo que os outros pagassem a factura
Mesmo que não voltassem nunca mais,
Ele vivia obcecado na procura
De “Paraísos Artificiais”.
De Beaudelaire, sem dúvida a leitura
Teria influenciado o grande arrais,
Por isso o Zé queria navegar
Que “o que importa é partir e não chegar”.

XVIII
Se o mundo é feito de realidades
Que nem sempre são materiais
Como o provam imensas divindades
De que falam a Bíblia e manuais,
Não admira que o Zé visse as cidades
E os campos como imagens virtuais,
Vindo da Net todos os recursos
E o bem-estar do Povo, dos discursos.

XVIX
E, deste modo, tinha de partir
À procura do bem-estar da Gente
Fosse de barco, de nave ou de menhir
Como o grande Obelix, tão valente.
E partiu… `a procura do Porvir,
Armado de um sorriso omnipotente.
Passou ao largo de outras realidades,
Gerou ventos, colhendo tempestades.

XX
Já no Oceano da Net navegavam
Pois “navegar” é fado deste bando,
Os novos, brandamente, ressonavam,
Que as noitadas os iam aleijando,
E os velhos, já cansados bocejavam,
O Social Rendimento lhe bastando,
Só o homem do leme prosseguia
À vela da Nova Tecnologia.

XXI
“De pé, ó nautas da Demagogia –
Dizia ele à récua duvidosa
Que tão servil narrava o que lhe ouvia –
De pé, enquanto eles sonham cor-de-rosa!”
A Oportunidade surgiria
Simplex, serena, Nova e proveitosa:
“Se, dormindo, eles ganharem dois tostões
Nem vêem que ficamos com milhões.

XXII
Lembrai aquele grande marinheiro
A quem o nosso Povo chamou Gama
E, se ele jamais gamou algum dinheiro,
Não me admiro que gamasse a Fama
Da coragem de ser grande guerreiro
Matando as crianças da mourama.
Tomai-o como exemplo, ricos-nobres,
Temei os grandes e batei nos pobres.

XXIII
Nunca se pode um jogador cansar
De dar a pata a quem lhe dá um porco,
Uma migalha a quem o abarrotar,
De prometer a quem já cai de borco.
A pouca grana que se deve dar
Nos levará, Estrategas, a bom porto.
Digam que a tanga é fruto duma crise
E na Grécia já fazem “stipetise”.

XXIV
Tais palavras dizia o engenheiro,
Os caciques instando a actuar,
Quando os deuses se ajuntam no estrangeiro,
Central Banco Europeu, seu doce lar.
“Se os portugueses gastam o dinheiro
- dizia Baco, pronto a atacar -
Em cimeiras e festas para quê
BPN, Alcochete e TGV?

XXV
Não é melhor, comer, encher a pança,
Em meu nome beber da pinga boa
E, em mentes o Zé Povinho dança,
Nós, deuses soberanos de Lisboa,
Pormos a sete os juros da fiança,
Cortarmos nos salários, tudo à toa,
Co’o apoio dos mandantes portugueses
«Tredores», que houve muitos, muitas vezes?”

XXVI
“Que dizes tu, ó Baco, deus do vinho?
- Retorquia Marte alvoroçado –
Façamos guerra do Algarve ao Minho,
Todo o caminho seja portajado
Ou vendamos-lhes algum submarino
Ou algum “caça” meio avariado.
Com’ àssim a pagar eles já não vêm.
Quem poderá pagar quando o não tem?

XXVII
É na guerra que está nosso sustento
E não nas festas onde a pinga abunda.
Numa festa o amor é um momento,
É, no silêncio, a voz, mas não profunda.
Ora, amar, na guerra, é eterno alento,
É vida, é paz, é luz que nos inunda.
Por isso, ó deuses, do Orçamento a guerra
Vai trazer todo o amor a essa Terra.

XXVIII
Assim, teremos controlado as contas
Co’ os impostos que o Povo vai pagar,
Depois do PEC, as marionetes tontas,
Em conjunto, terão que o aprovar.
Ficaremos gordinhos como lontras
E os lorpas, de mãos dadas, a abanar”.
“É minha opinião, ó grande Marte,
E sempre te amarei até que farte

XXIX
- Atalhou Vénus com rubor na face –
Que cuides de meter tanto veneno
Que ao Sócrates e Coelho o Fado trace
Toda uma guerra num ambiente ameno.
Eu providenciarei ao desenlace,
Proporcionando logo o acordo pleno
Que a paixão que os une é-lhes mais cara
Que o meio bilião de euros que os separa”.

XXX
“Confirmo – disse Merkel, sem surpresa,
Por Marte também ela apaixonada -
Se estes milhões são corte na Despesa,
Melhor fora dizer «não cortes nada!».
O que eles precisam é de guerra acesa
Que os expurgue dos boys, à vassourada,
Que reduza os chorudos ordenados,
Lacaios, assessores e deputados,

XXXI
Que acabe com mancípios, privilégios,
Os vencimentos das deslocações,
Subsídios fartos a ricos colégios,
Governos Civis e às Fundações,
Atribuição de apartamentos régios
A juízes e tantos figurões.
Por isso, Marte, apoia a inócua guerra
Que o amor virá depois a essa Terra”.

XXXII
Ouvindo tais palavras amorosas,
Foi Trichet, deus dos deuses, convencido
E alçando o rabo do assento em rosas,
Todo ele a punhos construído,
Deu a beijar as suas mãos mimosas
E o Concílio deu por concluído.
Ó deuses, pois mandais em Portugal,
Por que será que lhe quereis tão mal?

XXXIII
Ora a nave lá ia navegando,
Placidamente sobre as águas calmas,
Quando súbito, a sua vista alçando,
O vigia gritou batendo as palmas
E disse, algumas nuvens apontando
Negras e espessas como aquelas almas:
“Não teremos, ó nautas, salvação
A não ser co’uma tricoligação!”.

XXXIV
“Juntem-se os que foram e ainda são
Os garantes da nobre maioria!”
- Gritavam o Ramalho, o Amado e o vão
Portas, mais conhecido por Vigia,
Se bem que o que fizera até então
Fora apenas tratar da peixaria.
E a Selectiva Espécie Natural
Juntara-se a berrar a Nacional.

XXXV
E quando os gritos roucos entoaram
“Às armas, sobre a terra e sobre o mar”,
Os homens do convés petrificaram
E, olhando, aterrados, para o ar,
Viram que as velas se despedaçaram
Sob uma tromba de água a desabar,
Com gritos e blasfémias misturada,
Despejando-se sobre a marujada.

XXXVI
Trinta sóis do Natal eram passados
Os marujos remavam lentamente
Que os mastros tinham sido destroçados
Durante a tempestade precedente
E os mantimentos eram racionados
Pelos Mestres de toda aquela gente
A fome entre os grumetes era tal
Que se temia um surto canibal.

XXXVII
Tinham lançado tudo borda fora
Que as forças p’ra remar já lhes faltavam
Contudo, sem piedade, a toda a hora,
Os capitães de morte os açoitavam.
Desfeita estava a esperança de melhora,
Sem pão e sem razão todos ralhavam,
Só de esbanjar o Mestre não se priva
Num batel onde tudo anda à deriva.

XXXVIII
Porém, eis que de súbito aparece
Sob o sol moribundo a Ocidente
Como escolho que pouco a pouco cresce
Ou dorso de baleia reluzente,
Talvez a névoa que, em silêncio, desce
E na água pousa o manto transparente,
Talvez seja uma ilha abandonada…
“Uma ilha!? Sus! Remai marujada!”.

XXXIX
Sob o astro mudo a ilha dormia
Pisava-lhe a terra a tripulação,
Nas areias da praia não bulia
Nem um só ramo da vegetação
“E aquela quieta e sã melancolia”
Sufocava, apertando o coração.
Subitamente um vulto apareceu
Ágil, esguio e negro como breu.

XL
“Às armas!”- gritou logo o da vigia -
“Deixai… com calma!”- sossegou o Zé –
É um cão e juro que há muito que eu não via
Outro igual a ele. Que giro é…”.
Mas logo atrás dele aparecia
O perfil de um indígena, de pé:
“- Quem sereis vós que ousais pisar o chão?
Meu chão!..” - Pergunta a Sombra em seu jargão.

XLI
“É Sócrates!” – Diz Passos apontando –
Ele é o causador da situação.
Perdido como ele também eu ando
Mas não sou eu o Grande Capitão.
Indo ele à escola só de quando em quando
Nada aprendera de navegação.
Agora não castigues nosso engano
Porque culpado, aqui, é só o mano”.

XLII
“Tomei sempre as medidas necessárias
Como, no Olimpo, fora decretado,
As reformas de fundo foram várias
E, se ainda não foi remodelado,
Excepto em assessores e secretárias,
Meu camarim parece conservado,
Resta saber que rombos tem o casco
Que, a meu ver, já roçou muito penhasco”.

XLIII
Estas palavras Sócrates dizia
E mais falou da escola de sucesso
E quanto mais dizia mais mentia,
Virando as frases todas do avesso
Até que a sombra, enfim, com ousadia,
Adivinhando o seu arfar opresso,
Cortou: “nada temais, ó gente estranha,
Que já vi malta muito mais tacanha”.

XLIV
Depois, falou da terra onde nasceu,
Da raça de quem era suserano,
Das batalhas e guerras que venceu
Como chefe do povo americano,
De ter ideia, como Prometeu,
Que mais que os deuses vale o ser humano
E, contra a Tirania, o “fogo forte”
Aos homens vida e aos deuses dava a morte.

XLV
Falou ainda muito do seu cão
Que nadava com muita qualidade
Inda que fosse um pouco trapalhão
Ora devido à Naturalidade
Ora que fosse pela geração,
Em todo o caso tinha habilidade
P’ra ladrar em Inglês ou Português
Ou numa qualquer língua que Deus fez.

XLVI
Contou, em pormenor, sobre o Iraque,
O que fizera o seu antecessor
O qual co’ o “fogo forte” de um só traque
Arrasou as cidades do Terror,
Em vinte dias pôs um Povo a saque
E mandou enforcar um ditador
E foi com esse fogo belicoso
Que muito infiel partiu ao céu ditoso.

XLVII
Mais contou que não era qualquer drama
Ter morrido na guerra tanta gente,
Sendo certo que aquele que o país ama
Ficará na memória eternamente
E, se pudesse ser que ele, Obama,
Tivesse de avançar p’ra aquela Frente
Destruir-lhe o programa nuclear
Fá-lo-ia, outra vez, sem hesitar.

XLVIII
“Então és tu – diz Sócrates - o Obama
De quem se fala tanto em Portugal?
O mata-moscas de origem muçulmana
Que tanto ama o seu país natal?
Ó vida! Só a mim ninguém me grama
A mim que nunca fiz nada de mal.
Tomei sempre as medidas necessárias,
As reformas de fundo foram várias…”.

XLIX
“Não mintas mais, ó Pinto – disse Obama –
Que eu sei que és descendente de João Mentes.
No caso da “Fripor” ganhaste a fama
Que atravessou depressa os continentes,
Revolveste o teu couro em suja lama
E fizeste descrer todos os crentes.
Traíste os teus amigos mais leais
E, agora, ainda queres mentir mais?

L
Dizes tu que as reformas foram várias
E dize-lo com muita persistência,
Com leis e portarias tão precárias
Que só parecem justas na aparência,
Lesaste o Povo todo com sectárias
Nomeações por “alta conveniência”,
Aumentaste os políticos e os gestores
E trataste os fajardos por doutores.

LI
Prejudicaste toda a faixa etária,
Permitiste às empresas a insolvência
Abusaste em receita extraordinária,
Trataste opositores com insolência
E nesta enumeração algo sumária
Ainda estás à espera de clemência?
Ó promotor dos cortes salariais
Que nunca para Todos são iguais!”.

LII
“Meu Deus que eu não mereço esse trato –
Disse o Zé com um ar muito sentido –
Uma Cimeira vou fazer da Nato
Em Lisboa. Pois já terás ouvido
Que vestirei, por isso, o melhor fato
E, desde já, amigo, eu te convido.
Veremos quem será mais elegante
Pois no ranking do mundo o sou bastante.

LIII
Já tirei as medidas necessárias …”
“Tens é que as tomar – cortou Obama –
Que este mundo anda cheio de alimárias
E tanto nos aplaude e nos aclama
Como exibe posturas ordinárias
Ou simplesmente algum bombista chama.
Por isso trata lá da segurança
Em defesa da nossa velha Aliança”.

LIV
“Tomei sempre as medidas …”. “Alto lá!
- Atalhou Obama já zangado –
Não fales em medidas, por Allá!
O que tens é de ter muito cuidado
E comprar uns blindados, para já.
Tenho aí cinco que já pus de lado,
Mas tapa as etiquetas que eles têm
Para que ninguém saiba donde vêm.

LV
Pagarás com o pré do contribuinte
Que é funcionário e já nem o recebe.
Porquê cinco por cento em vez de vinte
Que lhe extrais do ordenado, se ele os bebe?
Nunca faças figura de pedinte:
Quem não ‘stiver contente, faça greve.
Se afirmarem que foram três milhões,
Tu dirás que são todos aldrabões.

LVI
Já que estou a falar de pagamento,
Ainda não pagaste o “softuere”
Que compraste ao “Billguei”, naquele momento
Em que a Lurdes foi tua “partenere”,
Porém não te incomodes que eu assento
Pois vais tudo pagar haja o que houver.
A verdade é que o preço dos blindados
Vai subir: por estudos realizados

XVII
Tanto na Grécia, França ou Inglaterra
Como na Áustria, Itália ou na Hungria,
As manifestações são como terra,
Aumentando a procura dia a dia
E em consequência o preço que ela encerra.
Impera em Portugal grande abulia
Mas diz-se que haverá greve geral
O que torna esta compra natural.

LVIII
Agora vou pedir-te, por favor,
Que me encomendes já o meu discurso
A falar dos perigos do Terror
E das “grandes opções do plano” em curso,
Para darmos ao mundo mais Amor
E usar a guerra só como um recurso…
Mas só por mim ele seja pronunciado
E não por nós os dois em duplicado”.

LIX
Atalhou o Zequinha que, a seu ver,
A vergonha do Campos e Mendonça
Não podia voltar a acontecer.
O azar, o bruxedo e a geringonça
Dês sempre a esta pasta foi bater
Mas esta é a Obra pública mais sonsa:
É Obra presenciar Ministro lendo
O que o seu Secretário ia dizendo.

LX
Qual seria o papel dos dois morcões,
Soletrando um discurso tal e qual
E no Dia das Comunicações
Transmitido p’ra todo Portugal?
Uma “gaffe” a lembrar as emoções
Do anterior Ministro, desleal,
A desmentir-se ao próprio e a si, Zé,
Com Alcochete sim, não e “jamé”.

LXI
O americano ouviu ainda mil
Lamúrias do Zezito com seus tiques
Das “reformas de fundo” e o subtil
“Medidas necessárias” p’ra caciques,
Saídos da neblina de um Abril,
Divulgarem em fartos piqueniques,
E, paciente, ouviu a história louca
Dos párias e do Fisco que os apouca.

LXII
Pouco a pouco o ar da praia arrefecia.
Chamou Barak Obama a comitiva
Que na sombra da mata se escondia
A qual, por sua própria iniciativa,
Cercou a armada lusa, em euforia,
Que dos “seus bons costumes” fez cativa.
A “caritas” entrou naquele batel
Preso, ali, por durável arganel.

LXIII
Enquanto os mantimentos se amontoavam
Carreados, sem cessar, pelos gentios
Para o porão, no qual já dormitavam
De sono e fome todos os vadios,
O Sócrates e o Obama conversavam,
Recostados na areia, reinadios,
Sem “uiquilique”, enfim, sem jornalistas
Mas orgulhosamente sempre autistas.

LXIV
Durante vários meses, os dois povos
Conviveram felizes, nas chefias,
Que os humildes, os néscios e os mais novos
Se apressavam, velozes, nas coxias,
Para atingir a popa, o céu dos probos,
E fazer entrar luz pelas vigias.
A engraxar urgia ainda o mastro
Depois de equilibrar, no fundo, o lastro.

LXV
Porém, para maior felicidade,
Devia ser tomada outra medida
Pois Obama, não vendo uma vontade
Do Zé em apressar a despedida
E a sua resistência à “caridade”
De lhe pagar a dívida assumida
E sabendo que tinha mais despesa
Tratou de organizar sua defesa.

LXVI
E a mais barata e simples solução
Que ele algum dia houvera imaginado
Consistia em falar-lhe ao coração
Onde ele tinha “um aperto” comprovado,
Quando sobre o Orçamento o seu sermão
Nas rádios e TV foi divulgado,
Não se sabendo ao certo se esse aperto
Provinha do conserto ou do concerto.

LXVII
Por seu lado, o Zezito bem sabia
Ter perdido o maior quinhão da multa
Que o Governo Civil ocultaria
A pedido dos boys e gente estulta
De Câmaras, Partidos, Confraria
De fanáticas áspides que insulta
Toda a Lei da Justiça e a Natural
Ao não nos tratar todos por igual.

LXVII
Só vinte e oito milhões foram perdidos
Por mera culpa destes responsáveis,
Além dos biliões dos evadidos
Dos lucros das empresas intocáveis
Mais os cinco por cento concedidos
Ao César dos Açores, ilhas prestáveis.
Ave, ditosa Pátria, minha amada,
Que ao pobre tiras tudo e ao rico nada!

LXVIX
Por isso, ao Zé, também não interessava
Sobrecarregar muito o hospedeiro,
Primeiro porque o Obama não fiava,
Segundo porque não tinha dinheiro
Terceiro porque, aos três dias cheirava
Tanto a visita como o carneiro.
Por isso, tomou ele a dianteira
Dizendo que ia ter outra Cimeira.

LXX
Na Justiça, além disso, as demissões
Forçavam seu mais rápido regresso
Pelo que eram muitas as razões
Para se dar início ao processo
De se aparelhar as embarcações
Sem, contudo, haver pressa em excesso
Que o maior inimigo do perfeito
É sempre mais a pressa do que o jeito.

LXXI
Durante cinco luas trabalharam
A restaurar o barco e sua gente
As tribos que na praia se ajuntaram.
Os mordomos, os amos e o Regente
Da Lusa Companhia descansaram,
Lassos de areia e festas eloquentes,
Até que numa bela madrugada
O Zezito subiu à amurada.

LXXI
Ou porque lhe admirasse o seu estilo
Ou, para isso, fora convocada,
Juntara-se a “maralha” para ouvi-lo,
Na praia, toda ela engalanada.
Havia aqueles que lhe deram o Asilo
E não faltava um só da marujada,
Em filas agitavam bandeirolas
E, dançando, bebiam coca-colas.

LXXIII
De súbito, um silêncio sepulcral
Abafou danças, vozes e bandeiras
Vindo abater-se sobre o areal.
Do seu corcel descia as estribeiras
Obama, o anfitrião, que de um sinal
Deu o seu aval ao Zé das cavaqueiras
E, metendo a mão esquerda na direita,
Abençoou o cão e a sua seita.

LXXIV
Explodiram as palmas e os “vivas”
Na nave e na Assembleia, em todo o lado.
O Zé passava a língua p’las gengivas,
Olhava o fato escuro, bem vincado.
Depois, ao fim de duas tentativas,
Abriu a boca muda e, animado,
Abriu também os braços e … sorria
E, enquanto ele sorria, já mentia.

LXXV
“Morningue tu dei ai not du futingue –
Abriu o Zé, fechando a um tempo os braços –
Ai héve note taime for smoukingue…
- A malta bateu palmas, dava abraços -
Bât mai costum iz naice… chip for holding
Ai secure… sank iú …” – e, de olhos baços,
O Zé humedeceu… e emudeceu
A terra da Fortuna e o povoléu.

LXXVI
O coração estoirava num aperto,
Numa angústia brutal, numa aflição
Pela total ausência de um acerto
Que o orador levasse à aplicação
De uma língua comum, como um enxerto,
Que desse às duas tribos compreensão.
Por isso, o difusor da anglofonia
Suava quando a boca se lhe abria.

LXXVII
E logo optou por dirigir aos seus
Alguns termos na língua de Camões
E ou que fosse o Diabo ou fosse Deus,
Mesmo por parte dos anfitriões,
Mal sua língua natal voou aos céus,
A praia redundou em ovações:
“Amigos, aqui estou!... os portugueses
Conhecem-me … bastante … há muitos meses.

LXXVIII
Não estamos em festa, mas em crise…
(Assobios romperam da assistência)
Nós não podemos ter qualquer deslize…
(A Assembleia aplaudiu em consequência)
Urge, então, promover que se analise:
Ou o nosso sacrifício ou a insolvência…
(As palmas não vieram das chefias)
Mas nada de tocar nas mais-valias!”.

LXXIX
Foi aqui que as chefias aplaudiram.
E a cavaqueira ainda se alongou
Pela manhã e, enquanto os chefes riam,
O Sócrates os braços apertou,
Cruzou e descruzou e já pendiam
Quando um ausente e fixo ponto olhou:
“Precisamos de ter tento na língua
Ou querem morrer todos à míngua?

LXXX
Algum bota-abaixismo corriqueiro
Tem grassado na praça de nós todos.
As “medidas difíceis”, em primeiro
São só sectoriais e não a rodos,
São “necessárias” como um sucateiro…
Não se deixem cair naqueles engodos
De que a crise é resolvida sem impostos
Pois viriam a ter muitos desgostos.

LXXXI
Saber ler, escrever, também contar
É o grande objectivo nacional,
Tal como, em tempos, disse Salazar.
O excesso de instrução é sempre um mal:
Do trabalho o mercado vai parar
Se não se promover um curso tal
Que permita um canudo sem escola
E que dê aos alunos uma esmola.

LXXXII
Já encomendei à OCDE
Um rankingue sobre a “nossa” Educação,
Com dados “nossos”, como manda o Zé,
E já temos a “nossa” conclusão:
O insucesso levou um pontapé
E o abandono já teve solução!
As reformas têm sido estruturais
E, em breve, nem é preciso estudar mais.

LXXXIII
Quanto ao Iva, não há qualquer aumento,
Mas tão só um acerto com a crise.
Ora, em particular, neste momento,
O Ministro … é preciso que se frise…
Das Finanças… é um barra… é um portento
E não há quem melhor o caracterize
Do que a bem conhecida Agência Lusa
Numa notícia que ontem foi difusa.

LXXXIV
Devemos ter orgulho em ele vir
Já na décima sexta posição
Dos melhores ministros… Omitir
Tão elevada consideração,
… “Dezasseis em dezanove” …era fugir
À nossa solidária obrigação.
À imprensa, também, os parabéns
Pois enaltece os “nossos” capitães.

LXXXV
Sinto-me muito triste e abatido
Por ver na Oposição tanta ignorância…
Como pode não ter reconhecido
Tanto trabalho a par da petulância?
Por não terem de Estado algum Sentido
Bem sei que lhes mostrei certa arrogância,
Mas hoje que não tenho a maioria
Não podíamos ter mais harmonia?

LXXXVI
Que culpa tenho eu que os Presidentes
De Câmara e esposas vão de férias
Ou em viagens mais e mais frequentes
Porque as Empresas de Águas sem Bactérias
Das quais eles sempre foram bons agentes
Lhas pagam e aos impostos não dão néria?
As empresas que são municipais
Tiveram sempre Estatutos Especiais!

LXXXVII
Como disse estou farto de ignorantes…”
Irromperam aplausos na assistência.
“ …Quero dizer… mas não nos governantes…”
Há palmas, mas de mera complacência.
“… Mas a minha resposta já a dei antes
E a minha resposta é a persistência…
Que esta nau entrará no bom caminho…
Bem sabem… Não há rosa sem espinho.

LXXXVIII
Ao contrário do “nosso” Magalhães
Que emigrou para além da Venezuela
Nós vamos encontrar as nossas mães
Descobrir um caminho para ela,
A Pátria, que hoje está de parabéns,
Pois restaurámos esta caravela,
O caminho da Net e não do mar
Para todo o meu povo navegar”.

LXXXIX
Mal disse estas palavras, o Astronauta,
Hoje em dia nomeado o Banda Larga,
Ergueu-se a Lusa Companhia, exausta,
Das escopetas dando uma descarga
E os nativos, marchando ao som da frauta,
Entoaram uma melodia amarga.
Subiu à barca, então, o bravo Obama:
“Se quiseres ficar, ninguém reclama…

XC
- Disse ele, olhando o Zé com alegria –
Não tens que aturar toda esta “tropa”,
Seguramente, o povo agradecia…
Não fugiu o Barroso p’rá Europa
E o Guterres, Constâncio e companhia?
Tu sabes, muita gente não te topa:
Começa tudo a arder, barbas de molho,
Em terra de ceguinhos, manda um olho!...”.

XCI
Porreiro, pá!... Mas não…, não trairei
- Disse Sócrates, muito emocionado -
Primeiro a minha terra, a minha grei.
De qualquer modo, um muito obrigado.
E juro-te que não me esquecerei
Do caso dos blindados… Combinado!”.
E a gente Lusa a nau aparelhou
E aos vivas dos gentios lá zarpou.

XCII
Dando a todos as ordens e os recados
À esquerda e à direita e aos do leme,
O Sócrates mostrava-se em cuidados,
Apesar de ser homem que não teme.
Pensava na “confiança dos mercados”
Naquela grande dívida que o espreme,
Pensava na proposta do Obama,
Que aceitava … se não perdesse a mama

XCIII
Dos negócios, naquela Pátria insana…
Ainda era uma coisa para ver …
E a Cimeira Ibero-americana?
Seria a ocasião para vender
Seja à pátria do Hugo ou à cubana
Alguns magalhãezitos, que é dever
De empresário do seu país natal
Do qual ele era o mais fiel zagal…

XCIV
Se, ao menos, se exprimisse sem problema
Na língua de Shakespeare, era assente
Que isso ia pesar muito no dilema,
Mas as línguas daquela Independente
Foram consideradas um eczema
Que a Oportunidade Mais Recente
Resolveu com imensa prontidão
Porque só isso é que era … Educação.

XCV
E a nau sulcava as ondas azuladas,
Como a Alice, “naquele enlevo de alma”,
As sereias cantavam, descascadas,
Que a nudez de princípios tudo acalma,
Os capitães untavam com pomadas
As costas e as mãos, com muita calma,
E “colhiam” dos dias “doce fruito”
“Que a Fortuna” não pode “durar muito”.

XCVI
O sol queimava o corpo e as ideias,
Mas, pouco a pouco, um espesso nevoeiro
Ia inquietando as míticas sereias.
Continuando a sonhar, o timoneiro
Tinha ordenado o assalto às ameias
De imaginárias torres de frecheiro,
Sendo a névoa o castelo assombrado
E ele, na tarde fria, o Desejado.

XCVII
A nau rasgava as vagas sem parar
Até que, com a maior serenidade,
Tranquilamente, a treva deu lugar
A uma inquieta e morna claridade
E sob o brilho turvo do luar,
Surgiu, em toda a sua majestade,
Por sobre a água clara e deleitosa
A sombra de uma ilha temerosa.

XCVIII
Lentamente, ancorou a caravela,
Mas, devido à estranha escuridão,
Tomaram-se medidas de cautela
No desembarque da tripulação:
Uma dúzia ficou de sentinela
Enquanto outros tinham por missão
Descarregar as arcas e os barris
Para aprovisionar… e os fuzis.

XCIX
Desceram os pioneiros com punhais
Juntamente com homens bem armados
Que formavam as filas laterais,
Enquadrando os paquetes carregados,
Desceram, logo atrás, os maiorais
Por mais outros gorilas escoltados.
Enfim, tendas montadas, uns comeram
E outros, na paz de Deus, adormeceram.

C
O quarto da modorra era passado
Quando se ouviu um grito lancinante.
Ergueu-se o povo luso alvoroçado
E, olhando as águas, viu muito distante,
Só as velas, no oceano encapelado,
E um sulco branco, ténue e espumante
Que a quilha traça quando ao mar se faz
E que persegue o ávido alcatraz.

CI
Na praia não restavam senão tendas,
As arcas, os barris e os capitães.
As caras dos doutores eram tremendas,
Sem batedores, sem armas e sem bens,
Sem soldados, sem guias, sem comendas,
Terrivelmente sós e sem reféns.
Olharam, aterrados, para o ar
E pediram a Deus para os salvar.

CII
Ouviu-se uma terrível gargalhada
Vinda do oceano imenso circundante
E uma enorme figura debruçada
Sobre eles, com voz rouca, praguejante,
Olhava a triste elite destroçada
Que ali jazia imunda, suplicante.
Na sua mão direita, um tridente
Assustava o medroso contingente.

CIII
Esverdeado era o seu cabelo,
O tronco desmedido, colossal,
As barbas transparentes como gelo,
Dos queixos e da boca um caudal
Escorria de baba de camelo,
O olhar era vítreo, abissal,
O corpo todo nu, a voz tremenda
Soltou do peito, grossa, fera, horrenda:

CIV
“Eu sou Neptuno, sumo deus do mar,
Aquele que vós traístes, não cuidando
De a flora e a fauna conservar,
Os pescadores andastes explorando
Em vez de as minhas águas explorar
E alimentar o povo miserando.
E porque, para ele, fostes traidores
Aqui vos pus na Ilha dos Horrores”.

CV
“Mas aonde foi a nau e os meus bens?”
- Inquiriuu o Zezito, ousadamente –
“ Não imagines tu o que não tens
- Retorquiu-lhe Neptuno, asperamente –
Que a nau que dirigias com reféns
Será sempre do Povo, eternamente.
O Povo é que a dirige e a sustenta
E não o teu comando que a atormenta.

CVI
A nau está agora em boa mão
Que a terra é só de quem a trabalhar.
O rato e o capitão, diz o rifão,
São os últimos, sempre, a abandonar
O barco quando ele está em aflição
E muito perto já de naufragar.
Ora tu, ó ratão, foste o primeiro
Por isso não és dela seu herdeiro.

CVII
Foge, portanto, antes que te mate”.
E levantou bem alto o seu tridente.
Correram os mesquinhos a rebate,
Um e outro empurrando o precedente,
Virando todos costas ao combate
Cada qual por pirar-se impaciente
Até um lodaçal onde pararam
E, asquerosos, aí se espolinharam.

CVIII
E eis que súbito, olhando em redor,
Viram sobre um rochedo uma figura,
No olhar sendo visível grande dor.
Talvez Amor marcado p’la amargura
Os Erros, má Fortuna ou o que for
O teriam levado à sepultura
Que era mais viva a pena que o habitava
Do que o corpo que a ela se agarrava.

CIX
Uma coroa de louro sobre a fronte,
Numa mão tinha a pena e noutra a espada,
Um olho contemplava o horizonte,
O outro era uma pálpebra fechada
E, olhando o fraco grupo ali defronte,
Proferiu, com voz triste e apagada:
“Sou o grande Camões, homem sem sorte,
Aquele em quem poder não teve a Morte,

CX
Aos Céus me hão subido, onde sou deus
Embora esse estatuto mo tirassem,
Meus versos eram lidos nos liceus
Até que, com reformas, transformassem
As escolas em circos e museus
Onde o ensino e a cultura se atolassem.
Fostes vós que causastes este Inferno
Votando ao esquecimento o que é eterno.

CXI
Tenho pena de não usar a pena
Para com ela vos dilapidar
Mas de Minerva a sua voz amena
Impôs aos mortos não participar
Naquela vida que chamais terrena
E que, para nós, não vai mais voltar,
Mas, se a pena da esquerda é interdita,
O uso da espada Marte mo permita.

CXII
A “glória de mandar, a vã cobiça”,
O crime da influência e a corrupção,
A avareza, a mentira e a injustiça
Acorreram em vossa perdição,
Uma trama de casos vos enliça
Merecendo a mais alta punição,
Assim, hei-de matar-vos, já predigo
Ou “acabe-se esta luz, ali, comigo”.

CXIII
Por isso, incréus, passai daqui ao largo,
Que a paciência tem o seu limite
Se não qu’reis conhecer o gosto amargo
Desta lâmina a cujo apetite
Eu nunca ousarei pôr algum embargo
Que se trate de párias ou da elite.
Ao largo, pois, vos digo, fariseus,
Ou vos matarei todos, juro a Deus!”.

CXIV
Não era ainda a frase terminada
E já se iniciara outra corrida:
Fugindo não à pena, mas à espada
Que mais que a honra lhes valia a vida,
Sócrates ia à frente da manada
Porque era mestre de armas nesta lida,
Atrás seguia o Passos, ofegante
Como convém a todo o ajudante.

CXV
Impossível seria descrever
Tantos horrores por que passou o bando,
Sendo os boys quem mais veio a sofrer
Pois, de longe, já vinham tropeçando
Na natural viagem do Poder,
Mas de tudo o que ali se foi passando
Pior é “experimentá-lo que julgá-lo
Mas julgue-o quem não” quer “experimentá-lo”.

CXVI
Quarenta noites e quarenta dias
Vagueou a medrosa potestade
Por desertos, por matas, serranias,
Com fome e frio e sem civilidade,
Angustiada com as profecias
Que Camões anunciara sem piedade.
Contudo o que os humanos não sabiam
É que os deuses, no ilhéu, se divertiam.

CXVII
De facto, enquanto a heróica Caravana
Galgava, a medo, terras pantanosas
Ou abria caminhos na savana
Povoadas de serpentes perigosas,
Temendo mais o gume da catana
Do que o morso de aranhas venenosas,
A imagem de Neptuno e de Camões
Acossava a cambada de poltrões.

CXVIII
Quando a Corja era à vista, se escondiam
Os deuses que, com risos delirantes,
Divertidos, por turnos se escolhiam
Para assustar, de novo, os meliantes
E os fazer correr enquanto os viam
Até caírem gastos, ofegantes.
Depois, era deixá-los levantar
E, entre outros animais, desesperar.

CXIX
Foi assim que “os heróis” tendo alcançado
Um ribeiro entre abruptas penedias
Para se lavar da bosta e vomitado
E muitas mais outras porcarias
De que o grupo seria agraciado
Pelos deuses, nas suas caquexias,
Lhes apareceu, súbito, Vulcano
Com ar feroz, mas calmo e soberano.

CXX
“Olha, cá está o nosso amigo Obama!”
- Disse o Zezito para os seus botões –
“Obama, não, ó tu, monte de lama
- Parecendo que o deus lera nas feições
O claro pensamento do “da mama”-
Eu sou o deus do fogo e dos vulcões,
Aquele que veio à Terra disfarçado
Para se decidir teu triste Fado.

CXXI
A Wikileaks diz, e com razão,
Que em Portugal passaram prisioneiros
Para Cuba, deixando o seu torrão,
Além disso, tu foste dos primeiros
A mandar tropas p’ró Afeganistão,
Só tens negócios com os sucateiros,
No teu sangue só ferve o fogo forte
E o fogo com que matas dá-te a morte.

CXXII
Portugal foi por ti ludibriado,
Que esta malta à mentira é predisposta,
Crescendo-te o nariz demasiado
Assim como em Pinóquio, a tua amostra,
E tanto dele fizeste um aliado
Que a tua enorme nariganga “posta
Entre a Terra e o Sol”, como um taipal,
O eclipse só podia ser total”.

CXXIII
E a vós, ó sanguessugas do país,
Habitantes da Ilha dos Horrores,
Cortar-vos-ei o mal pela raiz
Pois já basta de tantos comedores.
O Povo é que vai ser vosso juiz
Que no Forum se julgam os traidores.
Aos deuses vós queríeis ser iguais,
Mas não passais de meros animais.

CXXIV
Por isso, eu digo que é tempo de correr
Por montes e por vales, alcateia,
Pois sei que tendes medo de morrer
Ou pavor de irdes presos p’rá cadeia”.
Correi anjos da morte que o Poder,
Efémero, é certo que escasseia.
Correi enquanto é tempo e o Tempo corre,
Correi, que a minha arma em vós não borre!”

CXXV
Não havendo mais nada p’ra dizer
Recomeçou, de novo, a Odisseia,
Continuando os burros a correr
Com medo de uma nova Patuleia.
Como correm não posso descrever
Pois, não sendo Camões, não tenho a veia,
Mas, como nas histórias infantis,
Sei que correm por vales e alcantis,

NAS PAISAGENS VIRTUAIS DESTE PAÍS

Manuel Dias Baptista

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Imprevistos

Todos esperávamos a chuva e as pressões (Baixas penso) estão desaustinadas. O céu passou por todas as cores e o vento ameaçou. Pensava que era 22, quarta, mas é já 23, quinta-feira. Depois de recuperar o cartão com chip electrónico perdido por erro de velhice (2 anos) Banto, traduzido no ATM do SB, comprei Palmiers no Delícias e passei a taxi do mercado central. Pilhas a 2,5 Meticais. Sandálias de plástico. Avanço para a Temba, passo sem interferencia da Polícia de Trânsito, ou outra, arrumo no terreno bem limpo. O que se faz? Nada, só, está-se! Mas cada gesto contém um significado insuspeito! A maneira de gatinhar da criança, anuncia a vinda de hóspedes!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Construção tradicional

São cinco horas e trinta da manhã e o sol ainda não ultrapassou a linha do horizonte, mas muitas pessoas trabalham já no Mercado Central a montar novas bancas. Dirijo-me para o porto das madeiras, onde chegam as canoas de Inhassunges carregadas de vários tipos de paus. O estaleiro é grande, muito movimentado já a esta hora, com pilhas de vários tipos de varas e paus mais fortes. Os homens descarregam as canoas e transportam as pilhas de varas à cabeça, para um local mais acima, onde carregarão os “tchovas”, carros de ferro com 2 rodas puxados à mão; daqui passarão para os vários mercados da cidade, onde os compradores adquirem a matéria prima para construir as palhotas – há muita construção em Quelimane!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Chuva tropical

O coaxar das rãs e sapos é ensurdecedor, alternando com o gri gri dos grilos e cigarras e temperado pelo chilrear de vários pássaros. Algumas galinhas e pintos piam e agitam-se na procura de poleiro, as ruas dos bairros estão totalmente alagadas, muitos quintais e algumas casas também. As crianças continuam a circular, chapinham e brincam aos equilibrios sobre as àguas castanhas, enquanto algumas gotas finas vão caindo quase ininterruptamente. Algumas pessoas, de calças e capulanas arregaçadas, circulam cuidadosamente com água pelo joelho. A loiça do almoço lava-se agora à porta de casa, no lago do pantanal! O céu está cinzento prata com nuvens cinzento platina, o verde das palmeira mais vivo da água, temperatura agradável a 3 metros de altitude.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Fim de tarde

Sem dar por nada, o tempo passa rápido. Ao fim da tarde o Mercado Brandão está cheio de gente, colorida e circulante, a pé, de bicicleta, mulheres com filhos nas costas outras carregadas à cabeça, todo o tipo de mercadorias à vista, homens descarregam camiões e transportam volumes incríveis. O jeep avança lento alternando lombas e buracos, desviando camionetas e motorizadas. Os ananases estão a 30 meticais, ao lado do Malambe, Mandioca, Nhocas, carvão, roupas, sapatos, sacos e infinidade de produtos. Mais à frente, amendoim e muito feijão, vermelho, castanho, creme e amarelo. Moçambicanas muito lindas abundam, crianças ainda mais por todo o lado. Muitas penteiam-se umas às outras, sentadas nas esteiras dispostas no chão de areia dos recintos das casas.