A Poente...

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Na Baía de Nacala!

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Luso calaico

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quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

A vida é bela !

Sem dúvida. Se a soubermos apreciar, encontramos detalhes espantosos, momentos sublimes, cheiros e sabores requintados, pessoas interessantes, amizades valiosas, aventuras explêndidas, paisagens grandiosas. As dificuldades, por mais que nos incomodem e assustem, ajudam-nos a melhorar e a evoluir. E se procurarmos a mudança podemos progredir: arriscar, mesmo sem rede, é ganhar. Disciplina é necessária, trabalho árduo, perseverança, muita paciência, ajudam a solidificar a personalidade e a obter os resultados positivos da nossa acção quotidiana. Reduzir ao mínimo as necessidades, acabar com todos os consumos inuteis, encontrar e preservar o essencial. Abertura à diferença e capacidade de integração do oposto, do nosso e o dos outros. Humildade perante os mais humildes, respeito perante os mais excluidos. Podemos mudar concerteza, por tal mudando o mundo, o nosso e o de todos. Apesar da mãe de todas as guerras, os filhos continuarão a inventar-se e a libertar-se. Vive la liberté ! Happy new year ! Abraços para todas as amigas e todos os amigos, espalhados pelas Américas, Europa, África, Ásia, Oceânia e Austrália !

A vida é bela !

Sem dúvida. Se a soubermos apreciar

domingo, 14 de dezembro de 2008

História da Zambézia 6

1884 – Conferência de Berlim: repartição da África pelas potencias capitalistas.

Entre 1986 e 1930, o Estado Português, realiza a ocupação e submissão militar progressiva do território actual; entretanto, evitando o modelo colonizador de exploração da terra aposta na exportação de mão de obra.

1890 – Um Decreto da Coroa cria trabalho rural obrigatório e promove a ocupação efectiva das áreas fora dos Prazos.

1892 – Fundação da Companhia da Zambézia, que administra o território entre o Rio Zambeze e o Rio Ligonha, cobrando um imposto de 400 Reis per capita, do qual entrega 50% ao Estado, criando uma área de especialização económica regional com as extensas plantações de monoculturas.

1894 – Alfredo Aguiar (um misto Angolano que depois foi preso) publica um periódico em Quelimane, “O Clamor Africano”, uma das primeiras formulações nacionalistas.

1898 – Fundação da Companhia da Boror.

1899 – As companhias da Zambézia e os Proprietários protestam junto do Governo contra a actividade dos contratantes (“engajadores”) da África do Sul que vem buscar muita mão-de-obra.

1904 – Fundação da Sociedade Madal.

1908 – Fundação da Empresa Agrícola do Lugela.

1909 – Os Portugueses dominam o “Muenes” Ossiuo e Unrugula na antiga Capitania Mor do Baixo Molocoé (hoje Pebane).

1910 – Os Portugueses dominam a região do Sultanato de Angoche.

1915 – Empresa Agrícola do Lugela exporta 30.400 Moçambicanos para a ilha de São Tomé.

1918 – Primeira Guerra Mundial: força militar Alemã desce da Tanzânia e destrói grande parte do património de Namacurra.

1920 – Derrota de Barué: as forças Zambezianas são vencidas pelo exército português, que incorporava grande número de soldados Nguni e tropas mercenárias. Foi o fim da resistência primária armada contra a implantação do domínio colonial no território.

1922 – As Companhias cobravam um imposto de 10$00 (dez escudos) por pessoa e por ano; entregavam ao estado 8$80 (oito escudos e oitenta centavos).

1923 – O Governo do Distrito de Quelimane emite um decreto que proíbe o costume do uso de argolas e anilhas nas pernas como ornamento.

História da Zambézia 6

1884 – Conferência de Berlim: repartição da África pelas potencias capitalistas.

Entre 1986 e 1930, o Estado Português, realiza a ocupação e submissão militar progressiva do território actual; entretanto, evitando o modelo colonizador de exploração da terra aposta na exportação de mão de obra.

1890 – Um Decreto da Coroa cria trabalho rural obrigatório e promove a ocupação efectiva das áreas fora dos Prazos.

1892 – Fundação da Companhia da Zambézia, que administra o território entre o Rio Zambeze e o Rio Ligonha, cobrando um imposto de 400 Reis per capita, do qual entrega 50% ao Estado, criando uma área de especialização económica regional com as extensas plantações de monoculturas.

1894 – Alfredo Aguiar (um misto Angolano que depois foi preso) publica um periódico em Quelimane, “O Clamor Africano”, uma das primeiras formulações nacionalistas.

1898 – Fundação da Companhia da Boror.

1899 – As companhias da Zambézia e os Proprietários protestam junto do Governo contra a actividade dos contratantes (“engajadores”) da África do Sul que vem buscar muita mão-de-obra.

1904 – Fundação da Sociedade Madal.

1908 – Fundação da Empresa Agrícola do Lugela.

1909 – Os Portugueses dominam o “Muenes” Ossiuo e Unrugula na antiga Capitania Mor do Baixo Molocoé (hoje Pebane).

1910 – Os Portugueses dominam a região do Sultanato de Angoche.

1915 – Empresa Agrícola do Lugela exporta 30.400 Moçambicanos para a ilha de São Tomé.

1918 – Primeira Guerra Mundial: força militar Alemã desce da Tanzânia e destrói grande parte do património de Namacurra.

1920 – Derrota de Barué: as forças Zambezianas são vencidas pelo exército português, que incorporava grande número de soldados Nguni e tropas mercenárias. Foi o fim da resistência primária armada contra a implantação do domínio colonial no território.

1922 – As Companhias cobravam um imposto de 10$00 (dez escudos) por pessoa e por ano; entregavam ao estado 8$80 (oito escudos e oitenta centavos).

1923 – O Governo do Distrito de Quelimane emite um decreto que proíbe o costume do uso de argolas e anilhas nas pernas como ornamento.

Roteiro dos caminhos difíceis

4 de Outubro de 2008, Sábado

Saída de Quelimane às 6h 30, com a cidade já bem movimentada, as bicicletas circulam ligeiras, percorremos as rectas planíssimas entre os palmares e os terrenos inundáveis, passamos a lixeira, a quinta das vacas, a antiga fábrica de tijolo, até Nicoadala. Entramos em velocidade lenta passando o controlo da PT, atravessamos a zona do mercado cheia de gente. Deixamos à esquerda a estrada nacional 1 para o Zambeze, iniciando o ligeiro ondular da baixa Zambézia, rio após rio, vemos os artesãos das caixas de madeira, passamos Namacurra, subimos pouco a pouco, até avistar os primeiros montes, rochosos, a Norte. Chegamos então à poeirenta “Cidade” de Mocuba, um dia suposta capital de Moçambique, para tomar café. Atravessamos a velha ponte do tempo dos colonos sobre o rio Licungo, entrando na Alta Zambézia. A partir daqui a estrada deixa de o ser, passando, alternadamente, a uma manta de buracos profundos ou a uma pista escalavrada e irregular, poeirenta e barulhenta; muitas bicicletas, muitos peões. Os camiões arrastam longas nuvens de pó vermelho. Passamos Mugema (desvio para Gilé à direita), Nampevo (desvio para Ilé e Gurué à esquerda), mais picos de rocha, imponentes, vão aparecendo. Está calor mas a cassete de música moçambicana tempera o ambiente. Chegamos à vila de Alto Molocue: é preciso re atestar de gasóleo, pelo sim pelo não, o nível do óleo está a meio, leva 1 litro; a compra de amendoins no mercado, pouco assados, grandes e saborosos, conclui os afazeres. Continuamos largando a Praça para a estrada principal, viramos á esquerda: a via está renovada, óptimo piso, vamos rápido chegando a Alto Ligonha (do Distrito de Gilé); a “Cabeça do Macaco” anuncia a passagem para a província de Nampula. Passamos Murrupula mas a estrada já esteve melhor, agora tem muitos buracos e fundos, o que leva a diminuir a velocidade. Chegamos à cidade de Nampula, marcando logo o quarto, antes de entrar no centro, na habitual residencial Recol. O restaurante é uma grande esplanada de vários níveis, lago central, comida moçambicana, portuguesa e outras, razoável e a preço normal. Foram 600 km em 9 horas. Prepara-se o começo da nova viagem de batida.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Roteiro dos caminhos difíceis

5 de Outubro de 2008, Domingo

Não havia pressa. São só 400 km e a estrada não está má até Pemba. Sacar cash no ATM em vista da escassez prevista de acesso no Norte. Descendo a Avenida Central, a feira espalha-se nos 4 passeios, á sombra das árvores: milhares de sapatos, roupa, artesanato, muita gente e cores. Mobiliário elegante, pau preto, cestaria, caixas, marfim. Não compramos nada. Saída de Nampula após atestar o tanque, boas rectas, bom piso, castanha de caju à venda, imponentes picos rochosos, até Namialo; viramos à esquerda (em frente continua para Nacala), directos a Norte; nas aldeias junto à estrada – processo local de urbanização - os artesões de esteiras, de uma certa palha bem parecida e macia, expõem os seus produtos; discutimos o preço e compramos 2; mais à frente, vendedores de frutos de Baobab (Ebondeiro), já com a polpa branca bem apresentada em sacos de plástico da mesma cor, montaram expositores. Os Baobabs, uns, apresentam grandes flores brancas; outras, oblongos frutos aveludados e escuros; as sementes, com sal, fazem bem à tosse. Perguntamos para que serve, como se faz, compramos seis frutos grandes, castanhos-escuros, pele de veludo. Mais estrada, está calor, passamos Nacaroa, bastantes buracos, Alua, Namapa e chegamos ao Rio Lúrio, que marca a fronteira entre as duas províncias, Nampula e Cabo Delgado. Continuamos até Chiure, deixando á direita um desvio em pista para as Quedas do Lúrio, local de concentração de praticantes de medicina tradicional e de espaço de tratamento. Finalmente chegamos a Metoro e viramos à direita, para Este, para Pemba, onde totalizamos 1.027 Km, só para começar a viagem. Aproveito logo para marcar 2 mergulhos no C. I. Divers para amanhã. A Residencial está cheia e vamos dormir nos bungalows do hotel mesmo em cima da praia.

sábado, 6 de dezembro de 2008

História da Zambézia 5



1836 – Proibição do Tráfico de Escravos pelas potenciais ocidentais. Sabemos que foi um negócio que continuou ainda durante muitos anos de forma intensa.

1858 – Dia 4 de Fevereiro, um diploma régio (do Rei de Portugal) cria o toponímico “Zambézia”.

1875 – Os camponeses (“colonos”) podem pagar o “mussoco” (imposto per capita), em géneros ou em trabalho. Assiste-se a uma emigração massiva dos produtores.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Roteiro dos caminhos difíceis

6 de Outubro de 2008, Segunda-feira

A marginal e a praia têm pouco movimento a esta hora. Algumas mulheres vendem amendoins na esquina da entrada para o mar. Em frente à residencial, a empresa de mergulho, aluga equipamento, dá cursos, apneia e pesca. Pertence a um sul africano. Saída às 10h 30min em barco de fibra com motor de 25 hp, durante cerca de 10 min para Sudeste, num grupo de 4, um casal americano e o monitor sul-africano. Mar calmo, céu bem azul e sol forte. O monitor fez o briefing do mergulho e pôs-me o americano como buddy; a moça era pouco experiente e necessitava fazer alguns exercícios no fundo de areia com ele. Mergulhamos por cima das Shallows, localizadas com o GPS, lentamente até uma profundidade confortável, os 10,7 m: fauna piscícola variada, de muitíssimas formas e cores, pequenos; começo a tirar fotografias, pensando que a pouca profundidade e a muita luz podem dar alguns bons resultados; também às estrelas-do-mar, anémonas, corais, de muitas outras formas e cores; entretanto, perdi o “buddy”, circulei 3min, subi lentamente à superfície onde cheguei com 51 min de mergulho. O barco estava a 100 m, veio ao meu encontro. O regresso foi soft. Uma salada de polvo na esplanada com uma cervejinha fresquinha, um café, estou pronto para outra. A segunda saída foi às 14h 30min, eu, o monitor e o piloto moçambicano, para um percurso Este de 15 min. À paragem na Wall, parede de coral que desce até aos 150 m, descemos até aos 18, rapidamente, sem fio. A Este, a escuridão azul ao lado da parede bem inclinada, dá uma ideia da profundidade do desnível. Muitos peixes miúdos de cores brilhantes e contrastadas, uma lagosta grande. Ouvem-se as baleias, ao longe na massa líquida, uivando sinfónica mente. Os corais tem também todas as formas e cores e albergam todo o tipo de bicharada colorida, peixes leão, alguns altamente alergénicos. A máxima é não deixar nada a não ser bolhas, não levar nada a não ser fotografias. Don’t toutch anything ! Circulamos bastante e subimos após 45 min; fiquei ainda com 100 bar no tanque, de tão tranquilo que andei. Encontramos os amigos com quem tivemos uma apetitosa conversa e o jantar na esplanada do bar da praia estava bem “nice” (peixe grelhado); fomos dormir na pacata Residencial Wimbi.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Roteiro dos caminhos difíceis

7 de Outubro de 2008, Terça-feira

Saímos de Pemba cedo, mas na aldeia logo a seguir, a polícia manda parar e mostra detector de velocidade, 68 km / h, seja 18 km acima do último sinal; 15 minutos para passar e pagar a multa de 1.000 meticais, continuamos ao sol; viragem à direita em Metuge, abandonando a estrada principal alcatroada, para chegar à entrada do Parque Nacional das Quirimbas; construção elevada em troncos e capim, homem fardado deitado por cima do portal; a pista está má, com piso ondulado fino e valas muitas e profundas obrigando a passar em segunda e diminuindo drasticamente a velocidade de cruzeiro. Em Mahate passamos pelo monumento Indígena e seguimos para Quissanga, onde apanha o barco quem quer ir para a Ilha do Ibo. A vila tinha pouca gente e os vários informadores todos garantiram que a pista para Mocojo estava intransitável há muitos anos; está no mapa, mas já não existe. Decepcionados por abandonar o litoral, voltamos para trás para apanhar o primeiro desvio à direita para Macomia e poupando uns 70 km de pista; que de facto também já não existia. No mapa sim, na realidade a floresta e os ribeiros tomaram conta. Obrigados a regressar a Mahate, viramos à direita para Dali, Bilibiza até Muaguide, saindo do parque nacional e passando à estrada de alcatrão muito razoável; subimos para Norte, contornando á nossa direita, o Parque, até Macomia. Entramos na vila bastante povoada. No cruzamento, mesmo à borda da estrada, uma pequena construção de blocos e cimento, pintada de amarelo, o “tak away” oferece biscoitos e latas, sandes variadas (!), outras comidas e bebidas frescas; o proprietário português informa que a pista para Mocojo está boa e se passa até Quiterajo (que vem indicado no mapa com alojamento, parque de campismo e possibilidade de mergulho). Voltamos a entrar no Parque Nacional, até Mucojo, 45 Km de pista renovada, areia vermelha, larga e boa. Chegamos à vila já de noite e viramos à esquerda para mais 38 Km até Quiterajo; a pista é difícil, com muita areia, terreno duro e com corgas, muitas curvas, mato denso e apertado, pontes e muita bosta de elefante, mais e menos fresca. Estamos já fora do Parque Nacional das Quirimbas. Muito contentes de chegar a Quiterajo, deparamos com uma única pessoa; o próprio guarda do Parque de Campismo, que só funciona durante o dia e mediante aviso da sede em Pemba. Outro alojamento não há, mergulho nem pensar, e onde comer, só amanhã. O Guarda procura informar-se sobre os nossos objectivos: queríamos subir junto à costa. Mas para Mocimboa da Praia não se passa, há vários anos que a pista está intransitável. Convida-nos a parquear nas suas instalações, indicando o caminho para a entrada na vedação singela e estacionamos debaixo da mangueira. Diz-nos que vai informar o Chefe de Posto que chegaram dois visitantes enganados, um casal, que ficarão esta noite para amanhã retomar caminho. Preparamos o acampamento inside Surf, comemos bolachas, amendoim, caju e bananas, água e sumo de maracujá. O guarda regressou e ligou a música. A noite é bela e as estrelas incontáveis.

Roteiro dos caminhos difíceis

7 de Outubro de 2008, Terça-feira

Saímos de Pemba cedo, mas na aldeia logo a seguir, a polícia manda parar e mostra detector de velocidade, 68 km / h, seja 18 km acima do último sinal; 15 minutos para passar e pagar a multa de 1.000 meticais, continuamos ao sol; viragem à direita em Metuge, abandonando a estrada principal alcatroada, para chegar à entrada do Parque Nacional das Quirimbas; construção elevada em troncos e capim, homem fardado deitado por cima do portal; a pista está má, com piso ondulado fino e valas muitas e profundas obrigando a passar em segunda e diminuindo drasticamente a velocidade de cruzeiro. Em Mahate passamos pelo monumento Indígena e seguimos para Quissanga, onde apanha o barco quem quer ir para a Ilha do Ibo. A vila tinha pouca gente e os vários informadores todos garantiram que a pista para Mocojo estava intransitável há muitos anos; está no mapa, mas já não existe. Decepcionados por abandonar o litoral, voltamos para trás para apanhar o primeiro desvio à direita para Macomia e poupando uns 70 km de pista; que de facto também já não existia. No mapa sim, na realidade a floresta e os ribeiros tomaram conta. Obrigados a regressar a Mahate, viramos à direita para Dali, Bilibiza até Muaguide, saindo do parque nacional e passando à estrada de alcatrão muito razoável; subimos para Norte, contornando á nossa direita, o Parque, até Macomia. Entramos na vila bastante povoada. No cruzamento, mesmo à borda da estrada, uma pequena construção de blocos e cimento, pintada de amarelo, o “tak away” oferece biscoitos e latas, sandes variadas (!), outras comidas e bebidas frescas; o proprietário português informa que a pista para Mocojo está boa e se passa até Quiterajo (que vem indicado no mapa com alojamento, parque de campismo e possibilidade de mergulho). Voltamos a entrar no Parque Nacional, até Mucojo, 45 Km de pista renovada, areia vermelha, larga e boa. Chegamos à vila já de noite e viramos à esquerda para mais 38 Km até Quiterajo; a pista é difícil, com muita areia, terreno duro e com corgas, muitas curvas, mato denso e apertado, pontes e muita bosta de elefante, mais e menos fresca. Estamos já fora do Parque Nacional das Quirimbas. Muito contentes de chegar a Quiterajo, deparamos com uma única pessoa; o próprio guarda do Parque de Campismo, que só funciona durante o dia e mediante aviso da sede em Pemba. Outro alojamento não há, mergulho nem pensar, e onde comer, só amanhã. O Guarda procura informar-se sobre os nossos objectivos: queríamos subir junto à costa. Mas para Mocimboa da Praia não se passa, há vários anos que a pista está intransitável. Convida-nos a parquear nas suas instalações, indicando o caminho para a entrada na vedação singela e estacionamos debaixo da mangueira. Diz-nos que vai informar o Chefe de Posto que chegaram dois visitantes enganados, um casal, que ficarão esta noite para amanhã retomar caminho. Preparamos o acampamento inside Surf, comemos bolachas, amendoim, caju e bananas, água e sumo de maracujá. O guarda regressou e ligou a música. A noite é bela e as estrelas incontáveis.

domingo, 30 de novembro de 2008

Roteiro dos caminhos difíceis

8 de Outubro de 2008, Quarta-feira

A noite foi tranquila, em cima das esteiras, apenas interrompida por algumas gotas de chuva nos dedos dos pés. O sol apareceu às cinco e meia por entre poucas nuvens. Havia água para beber, bolachas, amendoins e castanha de caju. Enrolamos as esteiras, embalámos o acampamento rapidamente, agradecemos a hospitalidade e iniciámos cedo na pista. Quiterajo estava tão calmo como o paraíso e a pista desafiava a condutora. O Índico, não longe, á esquerda. Até Mucojo, muita areia solta e funda, arenitos duros escavados, inclinados, mato cerrado roçando com estrondo, curvas apertadas, subidas e descidas, pontes e aldeias tranquilas. As crianças saúdam. Por todo o lado, bosta de Elefante. Ás vezes aparecem os macacos. Antes de virar à direita para Macomia, avista-se a Ilha das Rolas e a Ponta Pangane (a 11 Km). A pista para Macomia, atravessa o Parque Nacional das Quirimbas e foi reabilitada recentemente, bem larga e bastante lisa, fazemos facilmente 80 Km / h. Em Macomia, á esquerda no cruzamento principal, visitamos o “Tak Way” do português, para um sumo, uma sandes e um café. Pausa indispensável antes de nos fazer-mos a Chai mais a Norte – local do 1º tiro da guerra de independência, em direcção a Mocimboa da Praia. A estrada aqui está péssima, cheia de buracos fundos, tem que se ir com cuidado e devagar. Entra-se em Mocimboa numa avenida de 4 faixas, Vila principal da região, sede de distrito, tem gasolina, multibanco, 3 bares e 4 sítios para comer, ruas largas, casas de estilo com jardins grandes, árvores imponentes e um porto de pesca muito movimentado. Depois de visitarmos o hotel da Nancy, que estava cheio (4 quartos), ficamos no Complexo Turístico na marginal por cima da praia. Aqui fala-se Ki-mwani, aparentado ao Ki-swahili, e com variantes locais com Maconde, Makwa e também Lomwe. Mwani quer dizer gente da costa e Ki-mwani a sua língua. Os curandeiros chamam-se Fundi, os feiticeiros, N’sauoi e fazem Mava (feitiço). A ideia era visitar a ilha de Tambuzi, mas o próximo barco partirá só na sexta-feira à noite. Optamos por Muichamga, directamente a oeste, mais próxima de Mocimboa. Partida marcada para as seis da manhã.
Ba ka makaesu (até amanhã).

domingo, 23 de novembro de 2008

História da Zambézia

Século XIX

Em 1817 os portugueses criam o Distrito de Quelimane. Entretanto estava em curso, de forma difusa, a transferência dos trabalhadores rurais para as minas de ouro, a emigração para as colónias britânicas e alemã.
Em 1825, o chefe Makwa-Lomwe tinha uma das suas maiores fontes de prestígio e poder simbólico nos resultados do comércio de marfim.
Em 1832, a Coroa Portuguesa extingue os Prazos. Em 1835, a invasão dos Nguni, mais a Norte e na mesma altura também dos Yao, dá origem a novos estados militares, onde o culto dos antepassados e as práticas religiosas se misturaram com a islamização, e a caça ao escravo era uma actividade principal. Os Muzungos dominavam.

Roteiro dos caminhos difíceis


9 de Outubro de 2008, Quinta-feira

Levantámo-nos às 5 horas para tomar o mata-bicho preparado pela goesa obesa na sua cama de cozinha. Demorou, como habitual, mas cumpriu a sua função. A equipa já estava no local, apresentou-se o capitão e foi tratar dos preparativos. A praia de Mocimboa tinha já algum movimento, mulheres pescavam á rede na água pouco funda, o barco reclinava-se na areia. Para iniciar a viajem de dhow, vários homens vieram ajudar a empurrar, arrastando o barco na areia em água pouco profunda. Depois foi içar a vela, que contrariando o vento de nordeste, nos puxou silenciosamente, á bolina, em direcção à ilha Muichanga. Lentamente saímos da baía, a Sul avistamos a ilha de Nhunje, a sudeste a ilha de Tambuzi, a Norte Micungo. Após 3 h mudamos a vela e fazemos direcção a Norte, ultrapassando largamente Muichanga. Voltamos a mudar a vela e orientamos a sudeste, avistando a ilha de Yussune e o rochedo. Acostamos na praia da enseada oeste de Muichanga após 4 horas e meia de vela. O povo vem ver os brancos. Com fome e sede, desafiamos o sol violento, comemos umas bolachas com polvo logo ali na areia da praia. A água está morna mas sabe bem. Aqui o mar convida mas a visibilidade sub aquática não é a melhor e o fundo de areia fazem com que a caça em apneia seja medíocre; optamos por um passeio a pé ao longo da praia, visitamos as ruínas de casas dos portugueses na sombra das casuarinas, saudamos o casal de namorados, mulher com muciro, deparamos com o lago interior, verde, escavado na rocha e pouco profundo, de água salgada. O calor aperta, o sol escalda, mas parece que as cobras só saem à noite. Regressamos pelo carreiro interior, atravessamos a aldeia calma, talvez com 300 pessoas. O banho recompensa o esforço e os marinheiros desencaminham as garotas. O que dizem, amurimaia (não se sabe). O dhow chama-se Mungano ni bora (trabalhar juntos é bom) e a tripulação prepara-se para o regresso. Saímos para Mocimboa com mais 4 passageiros, 1 homem, 2 mulheres, 1 lactente. Com vento de feição, o barco galga as ondas em direcção à costa e em 2 horas e meia estamos em Mocimboa.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Roteiro dos caminhos difíceis

10 de Outubro de 2008, Sexta-feira

Saímos do Complexo Turístico na marginal de Mocimboa da Praia não muito cedo, para ir levantar cash no ATM e dirigimo-nos a Norte, em direcção a Palma; 80 km de pista bem boa, vermelha, larga e lisa, em 1 h e 30 min. Igreja branca e estilizada à entrada, damos uma volta á vila, descemos a Palma Praia, procuramos a pensão; era o local de contacto para o caçador. Na pensão única, que de facto já tínhamos passado mesmo á entrada, perguntamos pelo caçador. Mandam-nos à casa junto à Igreja. O segurança liga por rádio para o acampamento e informa, em linguagem pitoresca, que há 2 visitantes para o Chefe caçador. Há-de vir. Vamos dar uma volta á praia, passando pelo bairro de palhotas mais em baixo e separado da vila de cimento por um desnível de 10 m. A população é aqui mais muçulmana, sem dúvida, enquanto na vila alta, construções portuguesas de pedra e cimento, um centro de saúde ainda em acabamentos finais, avenidas e praças de árvores enormes, nota-se menos a influência árabe. Nos postes do antigo porto, pássaros castanhos de bico preto rectangular alinham perfeitos, contrastando com as aves brancas e pretas de bico vermelho que passeiam na areia. As mulheres nas soleiras das casas tecem as esteiras coloridas típicas da zona. Regressamos á Pensão e pouco depois, o land cruiser aparece com o caçador, 1 motorista e 1 pisteiro; depois de uma breve introdução, o caçador convida-nos a um passeio no mato. Vamos pela pista limpa mas com muita areia, lentamente, apanhando o vento fresco e encontramos macacos, facoceros (parecidos com javalis), uma cabrita do mato (tem nome difícil que não decorei), vários coelhos e aves variadas, como o peru e a galinha do mato, os pombos e pardais verdes, pássaros vermelhos e azuis. Neste litoral de Cabo Delgado fala-se Makwé (dialecto que mistura Makwa, Maconde, Swaili, Árabe), os curandeiros são os Fundi, os feiticeiros os Nhawi. Paramos numa aldeia junto á praia, na costa a norte de Palma, para ir ver a ruína da velha mesquita. Um bando de 20 crianças forma-se rápida e espontaneamente como turma de guias, com muitos risos, correrias, palavras em várias línguas, e conduz-nos no trilho através do mato denso; os macacos sobem nas árvores, e a ruína aparece á esquerda, em pedra cinzenta, paredes grossas, nicho orientado a Meca; dizem não haver muitas cobras; indicam-nos outro trilho que penetra na floresta mais densa, escuro, com muitas trepadeiras, para chegar a outra ruína; hesitamos, decidimos não arriscar; tiramos fotografias do grupo, passamos a outro local com enormes pedras, aparentemente ali colocadas pelos homens, mesmo á beira do mangal. A miudagem está bem disposta e comunicativa. O sol vai fugindo atrás do continente e a água azul calmo do Índico, de morna que está, sabe maravilha. Regressamos à vila para um peixe bem fresco e melhor assado.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Roteiro dos caminhos difíceis

11 de Outubro de 2008, Sábado

Saímos pelas 7 h da Pensão em Palma, na entrada á esquerda da Igreja, em pista regular, bastantes curvas e areia, direcção noroeste, para a Tanzânia. Não se vêem mais palhotas, não se vê uma única bicicleta, não há mais pessoas. Após 50 km no Land Cruiser modificado, começamos a avistar vários lagos, em pequenas planícies de erva alta e verde, mais em baixo; viramos para Este e mais a norte avistamos um traço de areia amarela, assinalando o limite fronteiriço, mais à frente já visível, o Rio Rovuma, bem azul. As áreas de floresta são aqui mais densas, contrastando com zonas planas de erva verde salpicada de grandes pássaros brancos; o caçador pede ao pisteiro e prepara a arma; circulamos na crista do planalto sobre a planície dos lagos, paramos e observamos o horizonte com os binóculos: ao longe, o rio e o areal marcam a fronteira da Tanzânia; á direita, o Índico muito azul. Mais à frente descemos ao vale, deparamos com outro lago, subitamente avistamos um elefante, negro, enorme, calmamente a abanar a tromba junto á água, do outro lado do lago; um grupo de 5 adultos e 2 crianças estava sentado perto da pista, á sombra, a observar o animal e à nossa passagem gritam “elefante, elefante!” apontando para o bicho; contornamos o vale, passamos o ribeiro para o outro lado e paramos o carro. Silenciosamente descemos o monte a pé até ao lago, viramos à direita ao encontro do maior mamífero em terra. Paramos a cerca de 50 m, escondidos pelo mato, na retaguarda do paquiderme: imponente, abala de vez em quando as orelhas; como o vento vem do mar não consegue cheirar-nos; tiramos algumas fotografias; pouco a pouco o animal vai se virando, talvez por ter ouvido algum som estranho, deparando com o nosso pequeno grupo (5). Elefante solitário, velho, com presas de 1 m 20 cm, impõe logo todo o respeito. O caçador recomenda uma retirada discreta e rapidamente tranquila para o mato e para o monte. Subimos ao carro em silêncio; esperamos o tempo suficiente para que o animal, ao sair do lago, possa atravessar a pista sem nos encontrar. Mais à frente na borda da pista o caçador ensina a reconhecer um arbusto local, o Gonozororo, de casca parecida com o sobreiro da cortiça, que tem uma raiz com propriedades estimulantes sexuais, para os homens. O pisteiro recolhe algumas raízes após desenterra-las com a catana. Andamos mais um pouco e a carabina é desarmada. Chegamos logo a seguir a Mwambo, o posto de fronteira; algumas palhotas, 2 casas de alvenaria, 3 carrinhas, algum povo. Seguimos para Sul até Quionga, pequena aldeia toda em palhotas e com muita gente, ainda longe do mar. Aproximando-nos da costa chegamos a Palma. Descemos a Palma Praia e tentamos negociar um dhow para a ilha. Proposta pouco convincente, giramos pela praia, reparamos nos pássaros pousados em linha em cima dos postes do antigo cais, castanhos-escuros, brilhantes, de bico negro rectangular, um banho; a maré está vazia e é necessário andar mais de 500 m para ter água pela cintura. 3 Velas recortam-se na baia, os dhows estão a entrar. As palmeiras verdes em cima da linha branca de areia do cabo a sul, separam o azul-turquesa da água do azul vivo do céu.

domingo, 9 de novembro de 2008

Roteiro dos caminhos difíceis

12 de Outubro de 2008, Domingo

Saímos de Palma com o Caçador, em direcção ao farol de Cabo Delgado, para uma saída exploratória de caça submarina. O percurso faz-se bem no Toyota aberto com banco elevado, bem arejado, há que concentrar e desviar dos ramos do mato; após 10 km de pista de areia com alguns trechos profundos e irregulares, desvios, muita maçala, a maior parte ainda verde (só cresce onde existem elefantes), galinhas do mato e pombos verdes, viramos à esquerda; 500m e entramos numa floresta galeria, de mangueiras gigantescas, árvores enormes, o Jardim das Mambas Verdes: atravessamos um túnel escuro e sinuoso, fresco e vibrante. Tomamos a primeira pista à direita depois da floresta totalizando mais 2 km: e chegamos a uma praia, a norte de Cabo Delgado, Mbuize. A maré está vazia e o carro chega perto da água. Equipamento ok e está a mergulhar na água turquesa, espingarda, bóia e anel; sobre o fundo de areia com erva verde aparecem os maciços rochosos, os corais e outra fauna; o peixe é miúdo, variado, colorido, pouco a pouco mais abundante; vêem-se muitas estrelas e apareceu também uma espécie de cobra; vi uma moreia e disparei; nada; aparece um mexilhão gigante (25 cm!); finalmente aparece um peixe um pouco maior (30 cm?), disparo, passa por cima; aparecem mais 5 idênticos, grandes, mas desviam rapidamente sem me dar tempo para armar. Após 2 h de apneia e caça 0, equipamento a secar, o caçador examina a arma e explica como está mal calibrada levantando o tiro; era a primeira vez que estava a ser utilizada. Regressamos à pensão em Palma com boas fotografias.

sábado, 8 de novembro de 2008

Roteiro dos caminhos difíceis

13 de Outubro de 2008, Segunda-feira

Saímos de Palma no Surf azul pela pista principal, boa mas com muita areia, em direcção á fronteira (Quionga); as palhotas sucedem-se dispersas, algumas crianças, raras bicicletas; virámos à direita a cerca de 19 km, existindo mesmo uma placa indicativa, o que é de facto muito raro neste país e nestas andanças, talvez ainda mais na Zambézia (…hábitos). Fazemos cerca de 10 km de pista de areia, por vezes profunda e sinuosa, em savana aberta, com muita massala, facoceros, galinhas do mato e pombos verdes, em direcção a Oriente, para o litoral. Pouco a pouco eleva-se e começa a aparecer a rocha no chão, cinzenta e cheia de buracos, dura e cortante; rochas longamente trabalhadas pelo mar; é perigoso sair do trilho, é fácil cortar um pneu; percorremos ainda, quase em linha recta, lentamente, com alguns degraus mais escarpados, 5 km desde o limite do continente, envolvidos de mato baixo e muito denso, para chegar ao Farol de Cabo Delgado. Avistamos primeiro os coqueiros e as casuarinas. Subitamente o traço branco, esguio e brilhante á luz do sol, eleva-se do verde espesso do mato cortando o azul do céu. Assim que paramos o carro perguntamos pelo responsável e o Faroleiro prontifica-se a conduzir-nos ao topo deste elegante monumento, visível mesmo de Palma. Após 170 degraus e 36m de altura, a paisagem é geográfica: a Oeste o cabo destaca-se rectângulo perfeito desde o continente; a Norte e a Sul, as costas de areias brancas, vegetação bem verde, o céu azul sem nuvens, o mar verde azul; a Este, o limite do recife na maré baixa, o Índico azul. O Faroleiro diz-nos que por vezes os elefantes vêm até ali, durante a noite. Ao lado de 3 casas brancas arruinadas (uma delas serve de residência ao faroleiro, natural de Pemba), existe uma pequena aldeia de pescadores. Boa tarde ou Salamalecum, tanto faz, passamos e vamos tomar um banho um pouco mais longe. Os pássaros marinhos, brancos e pretos, fazem voos baixos rasando a espuma das ondas. Trazem lagosta, compramos 3; tínhamos bom pão, limões – almoçamos sandes de lagosta, muito boa. Uma garrafa de água. Uma mulher tece a fita para uma esteira local. Regressamos pela pista rochosa, único caminho, virando para Quiwa, aldeia mesmo a sul de Cabo Delgado, no canto com o continente a 2 km á esquerda da pista principal; na praia estão barcos e alguns pescadores; entramos pela rua principal e manobramos para paragem á sombra; perguntamos pelas esteiras de cor; a gente junta-se, a miudagem farta-se de rir, as mulheres começam a mostrar as peças, um homem também. Negociamos e compramos duas, 200 meticais cada. Voltamos à pista principal e voltamos a sair, 1 km mais à frente, à direita para a praia de Mbuize; fica de facto antes do desvio para Quiwa para quem vem do continente, a cerca de 10 km da pista principal, á esquerda; após 500m atravessa-se a floresta galeria “Jardim das Mambas Verdes”, 100m após a saída do túnel verde, primeira à direita, 500m: praia deserta, areia branca, água verde turquesa azul, túmulo muçulmano, um embondeiro poderoso; existe também um pré-fabricado (!), 3 palhotas, onde habita uma família com muitas crianças. Distribuímos papel e canetas de cores, tomamos um banho, descansamos ao vento do mar, retemperamos. No regresso a Palma, é preciso meter a tracção que a areia aperta. Nada de grave. O azul porta-se bem e a musica Makwa anima.

Música de festa

Na pequena aldeia á sombra dos coqueiros, as crianças e as mulheres são as primeiras a chegar; os batuqueiros já montaram o quadro e o som fundo ecoa na floresta. Vão alinhando em roda, ondulando ritmados, cantando alto e agudo os coros alternados com o chefe do grupo. A miudagem dança de forma natural e flexível, algumas mulheres cobrem-se com as mesmas capulanas...

História

No século XVIII, o território produzia e exportava milho e feijão em grande quantidade, sobretudo pelos portos de Quelimane, Ilha de Moçambique e Ilha do Ibo. De Quelimane saíam também nos barcos muitas enxadas de ferro e sacos cheios de sal em grande número. Ao mesmo tempo, o comércio de escravos passa a ser um grande negócio e a caça ao escravo uma prática frequente. O Reino de Portugal, decide criar o regime dos “Prazos” no vale do Rio Zambeze, concessões extensas de terras alugadas durante três gerações. Em 1765 existiam 100 prazos administrados por portugueses. Nestes territórios processa-se a mestiçagem e a criação de novas alianças políticas e sociais.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

História

Nos séculos XVI e XVII , os reinos Lomwe e Makwa, o Reino de Lundo, o Bororo, eram estados bem organizados resultantes das conquistas Marave. Os estados Marave que invadiram a região durante os 2 séculos precedentes, adoptaram uma política de alianças de sangue com as elites locais, beneficiando até da transmissão matrilinear dos grupos derrotados, construindo uma lenta e segura integração entre ocupante e ocupado. O imposto era recolhido de todas as casas, em trabalho ou em produtos, os feiticeiros dispunham de uma influência e poder considerável, uma das melhores fontes de receita do estado era o marfim vendido na costa aos árabes, portugueses e outros.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Roteiro dos caminhos difíceis

14 de Outubro de 2008, Terça-feira

O sol estava escondido pelas nuvens. O pequeno-almoço foi frugal e o Caçador chegou com o pisteiro que deveria viajar até ao Sul – para Maputo, com saudades da família. Saímos às 6 h 30 min de Palma, pela pista vermelha em bom estado, descendo um desnível de placa de arenito, em boa velocidade até Mocimboa da Praia. Paragem obrigatória para Café. A precocidade da saída não permitiu mata-bicho eficaz na Pensão, há que completar. Atestar, imediatamente, o depósito. Desta vez, o ATM não faz falta. Estrada principal, alcatroada, longas rectas, aldeias, vai subindo ligeiramente, até avistar o planalto. Traço amarelo avermelhado delimita no alto o horizonte de escarpa a oeste. A subida acentua-se, a perspectiva altera-se, estamos a chegar a Mueda. Vila com bastante gente, mercado bem abastecido. Íamos à procura dos artesãos do pau-preto; muito difícil, não há placas, a expressão em português é singular; após várias tentativas, um velhote leva-nos até um artesão com uma escultura de multidão humana em torre hiper realista com 2 m de altura; pediu 7.000 Meticais, respondi que não cabia no carro. Fomos com o mesmo senhor a outra palhota, perto da estrada. Na zona do bambu amarelo. Apareceram 2 monstros surrealistas, 2 figuras humanas estilizadas e esbeltas, um homem e uma mulher, 1 busto de guerreiro; aqui fala-se Maconde; curandeiro diz-se Mutela, feiticeiro diz-se Muavi. A vila está animada e o mercado é o lugar mais movimentado. O músico tradicional Maconde na moda é o Chibunga. Compro 2 cassetes de um grupo de artistas locais, que cantam em Maconde e em Português. Voltamos à pista de areia, agora na rota da guerra de libertação e independência. Monumentos aos heróis, vários, muito coloridos e naif, Eduardo Mondlane, a aldeia do primeiro quartel da resistência armada, avenidas de buganvílias roxas, até Muidumbe. Á direita, para Sul, o alcatrão está razoável, até Chai – local onde foi dado o 1º tiro da Guerra de Independência. Compramos uma capulana diferente. Seguimos ligeiros para Macomia: paragem no bar do português, 1 sumo, 1 sandes, 1 café, comprar água fresca e vamos embora. Em Muaguide re entramos no Parque Nacional das Quirimbas, em Sunate deixamos o nosso amigo pisteiro que continuará para Nampula, viramos à esquerda para o litoral e chegamos a Pemba com 750 km. Marco logo 2 mergulhos no C.I. Divers para amanhã.

sábado, 25 de outubro de 2008

Roteiro dos caminhos difíceis

15 de Outubro de 2008, quarta-feira

Pemba, a capital de Cabo Delgado, é uma pequena cidade com aeroporto de algum movimento internacional, posição estratégica no topo norte do cabo que desenha uma bela baía. O porto, movimenta barcos comerciais e de pesca; algumas ruas e avenidas bem planeadas, a sede do Parque Nacional das Quiribas, as lojas dos indianos, o Internet café, vários restaurantes, muitos embondeiros, os bairros de coberturas de zinco, a praia wimbi, o mar azul. Tem ao lado do casino uma empresa de mergulho.
Saída às 9h, só com o monitor e o piloto moçambicano dirigindo o seu 25 hp, direcção Sudeste durante 20 min, para chegar a Finger Shallows. Descemos muito rápido aos 27,7 m, numa zona de corais arbóreos planos, grandes, bem redondos, roxos, castanhos e verdes. Aparece uma holutúria, muitas estrelas-do-mar de 3 tipos e cores diferentes, cardumes de muitas espécies, pequenos e muito coloridos. Subimos aos 50 min e acabei com metade da garrafa. Comme d’habitude, petisco na esplanada do hotel. A segunda saída foi às 13h, 10 min no barco de fibra para Este até chegar por cima dos Twin Peaks. Descemos até aos 26 m, em paisagem de corais arbóreos de tamanho médio, brancos e muito ramificados. Contornamos o primeiro pico e aparece uma holutúria gigante, várias cobras espalmadas, listadas e minúsculas; percorremos a planície de areia que separa as duas formações em cerca de 50 m, o monitor mostra uma pequena solha deitada na areia, com uma espécie de insecto allien na areia por baixo. Subimos progressivamente, chegando á superfície após 45 min. Regressamos ligeiros ao vento fresco do Índico até à praia. Lavar todo o equipamento em água doce, preencher o log book. Era noite de lua cheia. O jantar estava muito bom, o serão melhor, a companhia óptima. Repousamos no Complexo Turístico Nautilus.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Roteiro dos caminhos difíceis

16 de Outubro de 2008, Quinta-feira

Depois do pequeno-almoço em Pemba, fazemos 10 km de alcatrão e saímos à esquerda, entrando na pista razoável, durante 45 Km, o Índico sempre à esquerda até Mecufi; existem nesta zona várias cooperativas de cesteiros; visitamos uma com 54 membros e 23 anos de existência; fazem cestos, caixas, bolsas, simples ou ligeiramente decoradas com uma cor (castanho, roxo, azul). Saímos da vila à direita, a pista vai piorando; atravessamos, graças à época seca, o rio Megaruma; não se vê ninguém, o mato está seco e aperta a via, o solo endurece; paramos para beber, comer umas bolachas e uma lata de lulas; continuamos subindo a margem norte do Rio Lúrio. O terreno torna-se acidentado e começam a surgir subidas e descidas muito íngremes, durante 100 Km até Tacuaira em pista péssima, inclinações fortes, rochas altas e muita pedra solta, velocidade média 35 Km / h. Começam a surgir pequenas aldeia, Auraga, 1.440 pessoas, Napoloé, 586 habitantes, apresentando uma placa á saída (ou seja na entrada), dizendo “Venha mais vezes”. Passamos em Mazedé, sede de posto administrativo. A pista melhorou. Ao deixarmos à esquerda a pista para Ocua, atravessamos um pequeno rio e vemos os sinais dos Médicos Tradicionais á esquerda na rocha escarpada da margem do rio: vários lenços brancos pendurados espalhados no quadro; Maririne fica perto; em Makwa, curandeiro diz-se Kunucana, feiticeiro, Mukwiri, como em Etxwabo. Continuamos até Chiure onde apanhamos a nacional para Sul. Atravessamos o Rio Lúrio, fronteira entre as províncias de Cabo Delgado e Nampula, paramos em Nacaroa para uma água fresca. Seguimos logo para Namialo onde paramos num mercado iluminado com dezenas de velas num ambiente inusitado. Nampula já não está longe: jantar indiano e dormida no Hotel Milénio. Não servem álcool, mas oferece-se o empregado para ir buscar. Pedimos 2 pequenas claras e frescas.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Roteiro dos caminhos difíceis

17 de Outubro de 2008, Sexta-feira

O pequeno-almoço é razoável e Nampula às 8 h da manhã está movimentada; aproveitamos para shoping nos monhés e no shopright, depois de abastecer no ATM e na bomba petrogal; o óleo está bom e água não faz falta. Iniciamos a rota Sudoeste ligeiros até Alto Molocué: nunca dispensa a compra, agora mesmo no cruzamento da entrada da vila com a estrada principal, do grande e óptimo amendoim; a miúda pediu 2 meticais por medida, eu contei 50 e dei-lhe 100; um homem exaltou-se a dizer que estava a roubar, o preço era 1; acalmei-o e disse-lhe que era uma ajuda para a moça, tão pequenina, a trabalhar. Paisagem magnífica, floresta, picos rochosos e montes corpulentos, muitas queimadas. Alguns bons km de piso de alcatrão para andar rápido, depois os desvios de pista, vermelhos, poeirentos, fechar as janelas quando se cruza qualquer veículo. Algumas Sumaúmas estão em fruto; muitos buracos e pista vibrante, no cruzamento de Nampevo não há fruta a vender, no cruzamento de Mugeba já não há artesanato. Passamos o Rio Licungo deixando a Alta Zambézia para chegar a Mocuba. Paragem habitual para água e café. O Omar não está, foi para o escritório em Quelimane. Seguimos para Namacurra acompanhados pelo pôr-do-sol e chegamos a Nicoadala já de noite – anoitece cedo aqui. Mais um pouco e chegamos a casa, na pacata cidade de Quelimane; hoje foram 600 km em 9 horas. No total, de Quelimane ao Rovuma, percorremos 3.330 Km. Sem problema.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

História

No início da era, as migrações Bantu entraram na zona e deram origem aos grupos étnicos e linguisticos Lomwe e Makwa, que produziam tecidos de algodão em 1.100 DC. Entre 1.200 e 1.400 outras migrações do interior sul, Marave, deram origem aos primeiros estados. Os comerciantes árabes e indianos visitavam a zona e tinham criado os seus balcões comerciais. Em 1.530 os Portugueses entram pelo Rio Zambéze e em 1544 fundam Quelimane em Etxwabo, um povo, uma lingua, uma cidade.

Domingo

As aldeias sucedem-se na areia, entre os coqueiros, os mangais e as machambas de arroz. Por todo o lado as bancas dos comerciantes oferecem uma diversidade de utilidades e cores, concentradas nos mercados em capulanas, amendoin e mandioca, oficinas de bicicletas, som e muita gente. Subindo e descendo a duna antes da praia avista-se o mar. O vento tempera o sol e a areia da praia espalha-se lisa no horizonte. A corrente quente arrasta-se para norte. Os caranquejos abrem buracos. Pequenas garças brancas alinham na paliçada do curral de vacas. Ao longe, as velas dos pescadores recortam-se no azul. As crianças aproximam-se e dão mais do que recebem.

domingo, 28 de setembro de 2008

30 metros

Depois de um mergulho rápido obrigado pela forte corrente de superfície, a estabilização em profundidade abre um domínio sonoro ignorado, a conversa dos golfinhos e baleias...
Repetidamente, em vários tons, volumes e sonoridades, de várias direcções e distâncias, de cadências alternadas, a bicharada põe a escrita em dia...maneira de dizer.

sábado, 20 de setembro de 2008

Baleias


O mar não estava demasiado agitado, o vento ondulava a massa azul espumada de branco, quando aparecerem os dois dorsos negros, longos, lisos e brilhantes, contrastando o movimento e a cor envolventes. Fazem pacífica e rápidamente um movimento circular lateral e aproximam-se da embarcação.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Vento

Esta é a época.
As palmeiras vibram ao vento, os cânticos, acompanhados dos batuques, vibram nos centros e nos céus. Celebra-se a vida e o calor humano, criam-se novos hinos, revêem-se as histórias tristes e felizes das mulheres e dos homens da Zambézia, dança-se, fala-se muito, velhos amigos, novos conhecidos, vêem-se estrelas cadentes verdes.

domingo, 17 de agosto de 2008

Savana

Tarde na noite de lua cheia, depois da cidade de cimento já no bairro de coqueiros, entramos no recinto fechado, 20 Mt por pessoa. Parece uma aldeia animada e a música alta embala a malta. O ambiente é festivo e os petiscos assam na brasa. A dança é sempre mexida, mais ou menos local, o movimento permanente, a cerveja é a preferida.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Ancestralidade


Enquanto as mãos amassam e esmiuçam a farinha branca junto à terra ocre na base na nova construção, os nomes dos antepassado em lista interrompida pelo coro assistente ritmado e repetido, desfilam quase sem fim. Os batuqueiros instalam-se e afinam os ramos e as peles, as mulheres lançam o canto e o balanço da dança, a cerimónia cresce em som e movimento.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Globalmente

Somos uma empresa de inserção social. A espécie humana, divertida das outras pela fala, ao longo dos milénios, tem projectado objectivos, planeado, escolhido metodologias, realizado operações, de inserção social. O animal resiste, apesar de tudo. Pelo instinto, pela incapacidade, pela deficiencia. Globalmente, a nossa empresa de inserção social, teve todo o sucesso - basta olhar para a evolução demográfica mundial. Estará o mundo animal derrotado ?

domingo, 3 de agosto de 2008

Licungo

Descemos da Cidade de Mocuba à borda do rio. As obras da ponte dominam o quadro e o movimento local revela-se continuado, na cadencia das canoas que chegam e que partem. 1 Metical é o custo da travessia. Árvores largas bem escavadas, transportam bens e pessoas, conduzidas por 1 remador e 1 ajudante. Encontros com hipopotamos são raros. Os de Lugela, apreciam os estranhos e despertam para o século. A Tantalite foi localizada.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

da Selva

Os batuqueiros acendem o lume para aquecer as peles que vão afinando. Pouco a pouco, mãos vigorosas abatem-se compassadamente produzindo um ritmo profundo, de repente mais forte e mais rápido. O grito do macaco empoleirado na mangueira é estranho. O som da selva chegou ao jardim da casa na cidade.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Geomancia

Nesta época do ano, percorrer as pistas faz-nos deparar com uma produção agrícola notável, tudo manual. Á borda das aldeias, centenas de sacos brancos ou de cestos de volume acrescentado, acumulam-se em linhas bem organizadas à espera de serem carregados nos camiões dos comerciantes. Arroz, mandioca, milho, amendoin, feijão, laranja, já alguns ananases, carvão e lenha como sempre. A terra das mulheres mostra a sua fartura.

sábado, 12 de julho de 2008

Monte Namuli

Os povoadores Makwa - Lomwe registaram origem naquela formação geológica imponente (2.419m), dificilmente acessível.

O grupo do bairro, tudo gente nova, inspira-se na raíz da tradição e com ritmo firme expressa-se e transmite animada e eroticamente o sentir das gentes da Zambézia.

Preparamos o acontecimento e o local. Preparamos os bailarinos e bailarinas. Preparamos o público. O espaço desfaz-se na pressão inexistente do tempo.

O grupo de batuques, canto e dança de Quelimane fez uma intervenção bem de raíz, cativante, até inquietante, os convidados vinham da cidade e distritos, mesmo de quase todos os tipos e continentes, com dominancia das linguas locais...

Abria-se um novo espaço urbano, promotor do locus, valorização do direito à vida, exprimida, consecutiva, cooperativa e imaginativa.

domingo, 29 de junho de 2008

Zalala

Tons de verde variados distribuem-se pela veiga entre dunas, ainda com alguns dourados de arroz. O sol realça os brilhos e o vento do mar refresca-nos corpo e espírito. No céu azul passam calmamente as cegonhas pretas e as crianças brincam sem pressa. A floresta de casuarinas reflecte, propaga e abafa os sons, o do mar o mais forte. A praia lisa e muito extensa, define-se na rebentação do Índico, maré baixa ao longe. No horizonte, 9 velas assinalam a actividade principal.

domingo, 22 de junho de 2008

Ilha Miragem

Saímos ontem á procura de uma ilha que não existia. Em Musseliua, o armador muçulmano recolocou-nos da realidade e decidimos sair de Macuze de canoa para visitar Idugo, comunidade de 2.000 pessoas com 4 curandeiros habitando uma ilha fluvial onde se pesca, cultiva arroz e ...
Em Maroda, já mais perto de Mbaua, o palmar brilha organizado. Na linha de horizonte surge a este o mar, soprado e sonoro. Sente-se o calor do fim do Inverno e o mar transforma-se no estuário do rio Licungo, definido a negro e branco. A súbida das águas do mar nos últimos 50 anos revela-se no cemitério de coqueiros na praia, pista de obstaculos, fotografia de livro de geografia climatica. O chefe interpela-nos no mercado, são 7.800 habitantes e terá cerca de 20 médicos tradicionais. Os homens das canoas, cantam canções de amor e dizem que há muitos mais "mukwiris" que "ngangas".

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Monumento

No Sábado subimos a Zambézia na vertical, dia explendido, 350 Km até Gurué. Domingo, depois dos abastecimentos básicos no mercado, fizemos-nos à serra: passámos as plantações de chá, subimos 500 m e deixamos o carro à guarda de um particular em Mouresse. O sol esquentava e a subida íngreme até ao primeiro colo desafiava a falta de treino. Belo planalto, 1.500 m de altitude, ligeiramente inclinado para leste, rodeado de pequenos grupos de palhotas, abre-se em avenida de eucaliptos. Chegando a uma pequena elevação deparamos a Norte com o Namuli, monolito liso e impressionante, rasgando os raios solares, imponente e desafiador. Abandonamos o caminho principal em Murabo e tomamos o atalho mais curto. Cruzamos um mercado, cheio de gente bem animada, música e aguardente de cana. No termo do planalto, tiramos sapatos e roupa para atravessar o Rio Malema, que passa calmo e gelado. Retomamos o caminho principal e revisitamos a avenida de eucaliptos. Quando chegamos à aldeia da rainha, Mogunha, 2.000 m, decorria a festa e o povo acorreu para ver os recém chegados. Acompanhada de vários homens, a Rainha conduz-nos à sua residência, onde ficaríamos instalados para a noite. Descansamos então após seis horas e meia de marcha moderada, iniciando as negociações sobre a cerimónia a realizar, logo de manhã cedo, para permitir a subida ao Monte Namuli. O céu bem estrelado, via láctea imensa, ursa maior e cruzeiro do sul, com a lua em quarto minguante, é rapidamente invadido do sul por nuvens espessas. Na casa de tijolo não cozido e cobertura de capim, o lume central garante calor e lágrimas. Lá fora o vento manifesta-se.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Espírito da terra

O espírito da tera é um bom conselheiro, ajudando o homem na sua sobrevivência e desenvolvimento. Quando se sente incapaz, alia-se ao espírito do ar, da água ou do fogo para se tornar mais determinante. Mantém-se o principal.

domingo, 18 de maio de 2008

Medicina tradicional

O encontro com 27 médicos e parteiras tradicionais de Namacurra, iniciou-se com os cânticos e o ritual de boas vindas das 9 mulheres presentes. As doenças que curam são em número limitado mas variadas e existem diferentes grupos de praticantes. 26 utilizam além de partes diversas de plantas, árvores e arbustos, escarificações com lâminas. 5 protegem-se do sangue, 1 com luvas e 4 com sacos de plástico. Mostraram o seu interesse em ser formados e em colaborar como promotores de saúde nas suas comunidades.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Mukwiri avirhimevi, mulugu munddimuwa

A feiticeira gosta de matar pessoas, mas deus é grande.
= grandes voos param baixo, cá se fazem cá se pagam.

domingo, 11 de maio de 2008

Arrozais

Estendem-se a perder de vista, em planicies estreitas delineadas por elevações dunares povoadas de árvores. As espigas gordas de cereal meio maduro pendem auguriosas. Embora tenha chovido pouco, a água está por todo o lado. Verde malhado de amarelo acastanhado domina até ao horizonte. Em Chirimane evitamos enterrar-nos no matope e apanhamos a lancha, 2 remadores. O estuario esvazia-se pouco a pouco com a maré e o mangal respira ao sol quente. "Caranquejos" de uma só mandíbula, enorme, amarela, azul ou vermelha, deslocam-se rápidamente na vertente inclinada. Pacientemente dobramos as curvas e chegamos a Olinda. Aqui não há automóveis.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Africa Europa

O casamento do último Almosharif em Portugal, moçarabe de Alcafache bem conhecido, decorreu no local mesmo da implantação da torre da gávea da caravela de granito, no centro das terras lusas, terras dos donos da nação, consolidadando a velha aliança luso-galaica com uma brácara das antigas, conservadora das letras da fundação. A força da nação do Viriato, falando luso-galaico com os da Galécia e seguindo a mesma tradição, viria a beneficiar da engenharia africana na revolução agrícola, nas artes e na medicina. A presença musulmana liquefez-se nas termas, penetrando grande parte do território e continuando a dar os seus frutos.
Nossa Senhora dos Prazeres, tradição católica pagã, bem no âmbito dos milagres da Galecia, serviu de quadro exemplar. A banda de Ti Baldinho assumiu as honras da bravura lusa. A inovação tecnológica despertou evocações e sonhos de passado. A boa tradição celta, do javali assado no fim de todas as aventuras, marcou todos os convivas. Gente gira, da revolução, das alternativas, dos projectos, da cooperação e da construção. Longa vida aos noivos ! Longa vida às ideias, atitudes, comportamentos, pessoas, positivas.
Foi no passado dia 25 de Abril. Dia de Luta contra a Malária em Moçambique. Dia em que Portugal celebra a construção e a destruição da utopia democratica. Celebraremos nós a permanente construção do presente utópico...

domingo, 13 de abril de 2008

TEMPO

O tempo parece não existir aqui. só acontecendo quando se passa algo.
Na velha Europa medieval, a apropriação do tempo pelos Burgueses comerciantes urbanos, em rápida ascensão económica, substituiu os sinos das torres pelos grandes relógios de pesos; numa época mais moderna, em que as comunicações promoveram a acumulação material, o tempo transformou-se em dinheiro.
Aqui, o tempo continua a ser uma dádiva para todos. Ninguém conhece a sua data de nascimento - não há um ponto temporal de partida, ninguém se preocupa com a morte - o ponto de partida não será registado.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Pista brava

De manhã antes do nascer do sol, o capim escorre água e as pegadas muito frescas na areia mostram a passagem de Cudos, Pivas, Urupis, Changos e também do Gato bravo. Os bandos de macacos deixaram marcas fortes em áreas limitadas e os cogumelos, brancos, amarelos, vermelhos, castanhos surgem por toda a parte. Os pássaros tem cantos intrigantes e os perus selvagens fogem espavoridos. Aranhas grandes e coloridas estendem redes armadilhas no trilho.
De regresso à pista os obstaculos aumentam. Troncos enormes atravessam-se impedindo qualquer tentativa de passagem, somos obrigados a contornar embrenhados na floresta. Nesta época de chuvas, lamaçais escondidos no mato ameaçam qualquer tracção. Rios caudalosos, com pontes de troncos mal seguros, desafiam o equilibrio e a perícia; ravinas escavadas obrigam a manobras impensaveis; areias soltas e profundas provocam desafios de velocidade; a mecãnica é posta à prova; os jogos de luz baralham a vista; a atenção é levada ao rubro.
No Posto de Fiscalização de Lisse, na periferia do terreiro bem limpo, o único fiscal da reserva ainda residente, preparou na cerimónia um cone perfeito de farinha bem branca de mandioca, para afastar os maus espíritos, as cobras, os leões e os leopardos. Os hipopotamos tem destruido algumas machambas de arroz, milho e amendoin da população da comunidade envolvente do outro lado do rio. Os leões rugiram de manhã cedo hà dois dias.
A festa anunciou-se pelo grupo de mulheres a cantar. Na noite escura de céu muitíssimo estrelado, o prato de lata no topo do pote esférico de barro, cadenciadamente batido e variado, marca o ritmo da terra. O coro polifonico repetido e prolongado, atinge tons inesperados, surpeendentes, maravilhosos. As palavras traduzem-se em erotismo e destino, multiplicação e celebração. O monte Gilé perfila-se no azul universal.

domingo, 9 de março de 2008

Estaleiro de Democracia

DEMOCRACIA EM CONSTRUÇÃO

MOÇAMBIQUE

O processo de construção do sistema democrático em Moçambique encontra-se em fase de aceleração. Após o censo populacional de 2007 decorre actualmente o recenseamento eleitoral e em breve, pela primeira vez, as eleições Provinciais.
Os direitos e os deveres dos cidadãos vão sendo a pouco e pouco divulgados nas áreas mais periféricas e aparecem iniciativas sociais organizadas.
Na Organização Cooperativa dos Países de Língua Oficial Portuguesa destaca-se o grupo de empresas cooperativas de Moçambique, que representa um volume de negócios e de emprego muito significativo, mas ainda muito aquém do seu potencial de crescimento económico. Este seria um domínio a privilegiar em termos de cooperação para o desenvolvimento com Portugal.
Existe já actualmente um número considerável de organizações da sociedade civil nas mais variadas áreas de actividade. No entanto, uma grande maioria, não foi ainda legalmente constituída e não dispõe dos recursos necessários à devida realização dos seus objectivos. Torna-se necessário um esforço suplementar na desburocratização e diminuição de custos do processo de registo e uma capacitação prática dos membros dos corpos sociais em temas como diagnóstico de problemas, elaboração de projectos, preparação de candidaturas a programas de financiamento, articulação de parcerias, avaliação, gestão económica. A implementação dos comités de gestão de áreas comunitárias na Zambézia mostra já exemplos de sucesso, onde carvoeiros tradicionais evoluíram em modernos fruticultores. Como se pode ver aqui, o trabalho de animação de iniciativas nas bases produtivas da população moçambicana em meio rural, deve ser feito com parceiros locais experientes e comprometidos com o desenvolvimento das comunidades de base (neste caso, a Radeza, rede das associações ambientais e de desenvolvimento comunitário sustentável da Zambézia). Os conselhos comunitários de saúde, os núcleos multisectoriais para a protecção de órfãos e crianças vulneráveis e muitos mais, representam fóruns maioritariamente de iniciativa pública onde cooperativas, associações e representantes da sociedade civil ocupam posição destacada. Com uma organização suficiente apesar dos escassos recursos, a participação é elevada. As mulheres constituem a maioria das organizações de base, mas o seu protagonismo vai diminuindo à medida que se sobe na pirâmide; no entanto, é de salientar que Moçambique é um dos países com melhor proporção de mulheres na Assembleia Nacional. As vontades de aprender, agir e melhorar dominam. Falta muitas vezes a capacidade de execução prática, determinada por condicionantes internas e externas ao grupo, predominando a inexistência de financiamento. E educação para a cidadania passará forçosamente pela capacitação institucional da sociedade civil.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Help

We need somebody's...!
Conhecidas palavras de velha musica,
já nem me lembra os artistas !
Mas acontece. Todos os dias. Em milhares de vidas reais.
As mudanças acontecem rápidamente, más e boas. Façamos difundir a consciencia dos direitos e a informação indispensável, apoiemos a educação para a vida e a inteligencia prática, cultivemos a nossa realização eficiente, a aprendizagem da diferença e a dialectica do desenvolvimento. A raça precisa de apoio.

sábado, 1 de março de 2008

Boa vontade

Boa vontade, sinceridade e respeito, são as qualidades que o treinador Caboverdiano considera necessárias para o sucesso dos desportistas das 10 ilhas. Simples, directo e eficaz este povo exemplar da raça. Fazer é melhor maneira de dizer.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Descentralização

A equipa chega pela terceira vez ao Centro de Saúde da sede do segundo Posto Administrativo do Distrito. A enfermeira, em Etxwabo, dirige-se a cerca de 60 pacientes reunidos rápidamente a partir dos 3 núcleos de acção mais frequentados na unidade (consulta criança saudável, consulta pre-natal, triagem) sobre a transmissão, a prevenção e a fisiopatologia do VIH, a vantagem do teste e os serviços do Hospital de Dia. 30 voluntários aceitam fazer o teste. 16 são positivos, 4 desaparecem, 12 vão à consulta, 2 recusam seguimento, 1o pretendem encarar a situação. Há pessoas corajosas.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

pela Saúde de Moçambique

A saúde da população moçambicana está neste momento bastante debilitada. A maioria das pessoas recorre aos praticantes de “medicina tradicional” para resolver muitos dos seus problemas, físicos e psicológicos. O sistema nacional de saúde serve menos de metade da população, em grande parte rural e isolada. A maioria dos partos decorre no domicílio, com o apoio de parteiras tradicionais. A água é inexistente na maioria dos lares. As mortalidades infantil e materna são elevadas. A malária continua a ser a principal causa de morte mas a tuberculose é também muito frequente, com alguns casos já de multi-resistencia às drogas habituais. A epidemia de VIH veio agravar a situação, reduzindo a classe produtiva, des estruturando as famílias e provocando o aparecimento de um grupo enorme de órfãos num sistema sem capacidade de cobertura pela assistência social. O Governo desencadeia um processo de formação acelerada de técnicos de saúde (em número actualmente muito reduzido para os 18 milhões de habitantes), de reabilitação da infra estrutura de prestação de cuidados e de inovação de processos. Mas na Zambézia existe 1 médico tradicional para 500 habitantes e 1 Médico convencional para 150.000. As escarificações rituais são uma prática generalizada e recorrente. A prevalência do VIH subiu a 18% e os casos de SIDA, agravados pela mal nutrição, inundam os serviços de saúde. O desafio é enorme, as respostas muitas vezes inadequadas, as estratégias demasiadas vezes alteradas, sem uma correcta avaliação de resultados, não chegando à maioria da população que não fala português. Será necessário reunir vários e importantes esforços para inverter esta situação. A construção de infra-estruturas mínimas de água, saneamento e habitação, a investigação sobre os factores disseminadores, culturais e sistémicos, a utilização de mensagens compreensíveis nos vários dialectos (32), o desenvolvimento económico das comunidades locais, a educação nutricional, a educação para a promoção da saúde, são alguns dos investimentos necessários. Todas as contribuições são benvindas. O apoio nutricional é urgente, a construção de “casas mãe espera” em materiais locais (100 euros) aumentará imediatamente o número de partos institucionais. Criatividade, persistência, solidariedade, precisam-se.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Feiticeiro

Vindo da Tanzania a falar swaili, instalou-se em Namacurra um novo "médico tradicional", trata tudo, abre, corta e cose os corpos, mas também faz feitiços... Na sessão pública (20 Mt o bilhete), a multidão que se acumula à porta é dominada pela companheira do artista, vestida simples salpicada de bastante sangue. Ouve-se um burburinho. Um estrondo profundo, mesmo estranho e desconhecido, de ossos, musculos e articulações, as centenas de pessoas, sobretudo jovens e crianças, que simultaneamente efectuam um movimento brusco e rápido de fuga: o feiticeiro, descalço de calções, tinha saído à porta e dado duas ou três palavras.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Florestas de Sofala

A floresta é baixa e densa, muito verde e cerrada. As trepadeiras cobrem arbustos e árvores. Muito ao longe, a serra cinzenta da Gorongosa, cumes enublados, domina a paisagem. A pista não é das piores, alguns valados profundos com água bastante, zonas de areia, nesta época bem encharcada. Ao lado, a linha do comboio, em reabilitação. Um bando de macacos pequenos dispersa-se rápidamente á direita. Um macaco grande, solitário, atravessa ao longe. O carro enterra-se, a ambulancia de Marromeu reboca para tráz e resolve a situação. Cai a protecção do carter, ata-se com uma corda. Acelera-se o veículo para evitar a noite. A Beira ainda está longe.

domingo, 27 de janeiro de 2008

sons da cidade

Escuta-se a radio cruzada de vozes amenas. As bicicletas circulam ligeiras nas ruas planas com muitos e grandes buracos, agoram bem cheios de água da chuva. Os cães, muitos e vadios, desafiam-se a ladrar. Raros carros roncam os motores. As chamadas para as oraçoes dos musulmanos nas mesquitas ecoam das torres ao longe. O avião descola uma vez ao dia. Ás vezes, a sirene do barco soa repetida do porto.

sábado, 26 de janeiro de 2008

começou o Carnaval

As barracas de paus e palha instalaram-se na praça da independencia. Músicas africanas, altas e várias, pequenos grupos que bebem cerveja, os roadies montam o palco. O "pequeno Brazil", alcunha para Quelimane, não se distrai e antes que acabem as férias, celebra o Carnaval.
Movimento inusitado de monhés em todo-terreno caros ao longo da marginal, chuva forte, relampagos muitos e trovões potentes. Funana e Coladeira, Marrabenta ou Passada, o ritmo domina.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Crianças

No distrito de Namacurra, existem 4.800 órfãos no Posto Administrativo da Sede e 5.300 no Posto Administrativo de Macuse.
São várias (cerca de 40) as associações que se dedicam a este grupo vulnerável, algumas legalizadas outras informais, algumas poucas apoiadas outras em auto-gestão.
Que vamos fazer ?

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

00 ZULU Missão Impossível, o Oeste do Índico

O coro de rãs, alterna na estação das chuvas, com o chiar dos morcegos no cio.
A chuva tropical refresca, os mosquitos atacam, a transpiração abundante domina.
A jangada humana, embalada pelas ondas, ameaça partir.
A lua cheia, anima os mukwiri, aparecem crianças.
Os órfãos lutam pela sobrevivencia.