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domingo, 21 de fevereiro de 2010

Concentração de grupo

Saída do estaleiro a subir

Não há truque! As trinta toneladas foram de facto arrancadas do estaleiro, ligeiramente a subir, seguidamente entrando no leve declive da praia, com uma elegancia marítima!

A força da palavra

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

É Natal

24 de Dezembro 2009

Prepara-se um grande parto. O estaleiro no topo da duna, junto ao farol da praia do bairro de Paquitequete, apronta-se a lançar nas águas da baia de Pemba, o veleiro ainda sem mastros, construido em madeira durante seis anos pelos carpinteiros navais locais. São os últimos preparativos, alguns toques de calafetagem, pintura do branco, remoção das canas e chapas de sombra. A cerimónia é conduzida pelo velho lendo os capítulos apropriados do alcorão, ajudado pelo jovem que acentua o coro e coloca os paus de incenso.
Abre-se o estaleiro retirando as paredes de caniço. Retira-se o pessoal e afastam-se as crianças. Ajeitam-se as tábuas longitudinais e os rolos transversais para a viagem. Amarra-se a corda, enchem-se e instalam-se os sacos de areia, aplica-se o macaco que levanta trinta toneladas. Removem-se, um a um, os calces. Rasgam-se os sacos de areia. O barco descai sobre os rolos de metal. A população ordena-se pelos dois ramos da corda e concentra-se no esforço. Fala-se muito alto. O movimento será ditado pelas palavras!

São várias tentativas sem resultado. A corda é manifestamente muito insuficiente. O percurso inicia com uma ligeira subida. Decide-se amarrar também a grossa corrente metálica da âncora. Aplica-se oleo nos rolos. Concentração geral. Ritmo gritado cadenciado. O enorme esforço arrasta o barco quinze centimetros. O pessoal anima, mais vinte centimetros. Mudam-se tabuas e rolos. Continuamos, o entusiasmo acentua-se. Fazem 10 metros, insistindo na curva a bombordo para encurtar caminho para a água. O movimento “rápido” e a falta de atenção na colocação do rolo para o estabilizador de bombordo, provoca a queda do barco e a fractura daquele.

O desânimo é pesado e a agitação está no auge. Devem estar por aí 150 pessoas, entre os 70 homens contratados, mulheres, crianças e espetadores. Fala-se e grita-se muito. Vários grupos empreendem acaloradas discussões. Mãos à obra, quer dizer, à madeira, com toda à gente a endireitar o barco. Ritmo cadenciado. Palavras gritadas, coro surdo. Mexe. Cunhas preparadas. E sobe 5 centimetros. Outra vez, mais 10. Mas descai um pouco. O pessoal está cansado. Volta a insistir e melhorou. Concentram-se na popa. Em coro. Fica direito. O estrago no estabilisador não é catastrófico, será possível resolver sem grandes contrariedades.

A tarefa não foi concluida. Estamos a 50 m do mar. O Chefe de 10 Casas arranjou alguma confusão com os pagamentos do pessoal ficando decidido adiar para amanhã de manhã. Ámanhã será sobretudo necessário reparar o estabilizador, prevendo-se que o barco só possa sair para o mar dia 26.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Crocodiles!

Esforço muscular humano

26 de Dezembro de 2009

A manhã está quente, embora com algumas nuvens para abrandar a potência solar. O Índico cercado na baia é de prata calma. Desço à praia, paro na sombra da acácia. Duas tripulações ocupam-se de pequenos arranjos nas embarcações encalhadas da maré baixa. Contorno a baía e seus naufrágios.

O estabilizador do veleiro foi bem reparado e teve tempo de secar a cola. Muitas crianças, alguns adultos, neste momento disputam-se as sombras todas, escassas. Tinha já sido escavado um leito na areia mole, em forma do casco, ligeiramente descendente até à linha de água, em que as tábuas e rolos foram sendo acomodados. A população juntou-se, a corda e a corrente estavam preparadas. Em coro comandado, incita-se o grupo. 50 homens concentram o esforço muscular ao som da voz cantada bem ritmada. Nem mexe. Nova tentativa. Zero centímetros. O pessoal desanima, a gritaria aumenta. Discute-se.

Já tinhamos pensado, combinado. Traz-se o 4x4. Liga-se a corrente. Puxa. Nem mexe. Precisamos do carro, mas só com a ajuda de todos poderá resultar. Volta-se a reunir o pessoal, todos pegam na corda, alguns na corrente. Coordena-se o comando de voz com o sinal gestual para o “driver”. Mas a população parece que tem medo, a corrente em extensão não oferece confiança. O 4x4 patina. A população observa. Puxa. Patina. Colocam-se tabuas e barrotes, o carro continua a enterrar-se e nem consegue estremecer o barco. Desânimo é geral. Não têm problema, amanhã vamos buscar um tractor potente. O barco vai para a água!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Paciência

27 de Dezembro

Domingo de manhã a cidade está vazia. Da Mesquita próxima chamam para a oração. Desço para a marginal por uma secundária com algumas sombras e as pessoas já dizem bom dia. Nas rochas da linha de água, duas pessoas em “fecalismo a céu aberto” como se diz aqui, hábito generalizado nos Mwani, Nahara e Khoti.

A maré ainda está meia e o veleiro recorta-se no horizonte da praia. Chega um “dhow” carregado de gente do outro lado da baía. Num barco de pesca á rede encalhado ao lado, o mecânico tenta por o motor a funcionar sem resultado. Visitantes vem apreciar os trabalhos de lançamento.

O comandante já se atarefa para um lado e outro, junto dos dois carpinteiros, do chefe de dez casas, do capitão. Sai para ir buscar um trator de um certo amigo, que aparece ao final da manhã, amarelo, rodas grandes, girando na areia ao longo da linha de água, vindo da direcção do Porto. Prepara-se e liga-se a corrente e reforça-se a corda. Combinam-se os sinais que devem marcar o arranque e a paragem da máquina, tendo em conta o correto apoio dos estabilizadoes e a facilidade de deslize da quilha. Ajeitam-se os tubos metálicos e as tabuas. Estica-se a corrente. A população, pouca gente, muito calor, assiste.

Mete a primeira, patina. Reforça-se o piso com mais paus e tábuas. Mete a primeira. De cada lado do barco, um “controlador” levanta o braço indicando autorização para puxar; conforme combinado, braço em baixo é para parar. Arranca, estica, estala a corrente. Nada feito, nem mexe. As pessoas reunem-se à volta da popa para empurrar. Reforçamos o piso em frente dos pneus do trator. Mete primeira, ao levantar o braço, ditado pela voz do coro que comanda os homens à popa, desembraia, patina, nada.

A população concentra-se na popa. Arranque à voz! Esticam-se os cabos. O trator patina. Nada feito, o barco nem mexe. Manobra-se a maquina e reforçamos mais uma vez os trilhos das rodas com paus, sacos de plastico, tabuas, lixo! Novo arranque, estrondo, rebentou uma das cordas de apoio, chicoteou um jovem: pequena tumefação na coxa direita, nada de grave. Voltamos a preparar os cabos. Arranca-se desta vez, com melhor coordenação com o povo que empurra na popa! E vai, estremece, mas não avança. Coragem, nova tentativa, coordenada, em coro. O esforço é grande, sem recompensa. Esta máquina não consegue ajudar, deveremos encontrar um trator com tração às 4 rodas e bem mais pesado.

E está na altura de tomar um banho para refrescar, nas águas transparentes azuladas e macias, limpando o falhanço e lavando a paciência. A tarde vai escurecendo e o trabalho ficará para amanhã! Vamos procurar de comer

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Entusiasmo

28 de Dezembro

Na cidade baixa as lojas estão concorridas, grupos de homens sentados na sombra dos armazéns, cabras passeiam nos jardins, duas pessoas levantam dinheiro no ATM. Como prioridade antes de descer à praia, comprar garrafa de água.

O amigo francês sentado à sombra do telheiro de bambu da sua lancha em reabilitação parece dormitar. Presentes o Capitão e os 2 carpinteiros principais. Vamos então buscar um tractor mais potente, com tração 4x4, pesado, rodas grandes.

Dispoem-se as pranchas. Estica-se a corrente, as cordas ficarão para as pessoas. Combinam-se os sinais. O homem tenor arranca a fala sincopada. O coro eleva-se, o trator mete primeira, o barco deliza 20, mais 15, mais 10 centimetros. Parar. Retirar troncos, rolos e tábuas, escavar mais á frente, voltar a colocar. Novo posicionamento. Voz, arranque, fazemos 1 metro, parar. O processo vai-se repetindo. O entusiasmo é geral. Cinco mulheres protagonizam a liderança e incitam a continuar para o mar, carregando tabuas e rolos. Com a ajuda da população animada, do trator, arrastamos as 30 toneladas do veleiro cerca de 15 m. No próximo movimento, a desatenção num rolo de Bombordo provoca a segunda queda. O desãnimo é geral, o ruido aumenta, a agitação atinge o auge. A queda sobre uma das estacas de apoio arrancou parte do corrimão de bombordo e o aspecto é de naufragio, confrangedor.

Mas os homens de Paquitequete não se deixam vencer: mãos à obra, melhor à madeira do veleiro, estacas e cunhas preparadas, voz de coro, e upa; centímetro a centímetro, lenta mas decididamente, a população remete o barco em posição vertical. Estamos mais descansados, o estrago não é catastrófico. Já tínhamos combinado para hoje – dois cabritos, seis galinhas, um saco de arroz, cinco litros de oleo, seis latas de tomate, alho e cebola, as mulheres trouxeram as panelas e o carvão - e serve-se a grande refeição comunitária de arroz com caril de cabrito e galinha. Em todo o areal à volta do veleiro, grupos atarefam-se em redor de pratos de folha avantajados, crianças, jovens e adultos. A boa disposição é geral!

A avaria do estabilisador poderia ter sido evitada se os parafusos tivessem sido substituidos, na medida em que depois de torcidos uma vez, ficam logo mais frageis. Mas enfim, aprender é até morrer e amanhã há mais. O mecânico sobe ao barco para pôr o motor a trabalhar uns minutos; já tinha preparado um recipiente de duzentos litros de água, ligado por um tubo à maquina, para refrigeração. Arranca, ruminante, soltando um fumo cinzento. OK!

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Persistência

29 de Dezembro

Saio da Hospedaria procurando as escassas e interruptas zonas de sombra junto às fachadas. As mulheres vestidas nas suas capulanas de cores vivas e contrastantes sobem a avenida. O sol ilumina tudo drásticamente e o calor é muito. Curvo á esquerda tomando uma transversal virada ao porto. Numa oficina mecânica improvisada de rua, três viaturas, dois motores à vista, um grupo de homens e jovens. Bom dia! Desço a colina da cidade baixa até à marginal, entrando na praia.

Ontem o barco parecia um naufrágio na praia. Hoje, os dois carpinteiros principais já repararam o corrimão de bombordo (até parece que não houve nada) e atarefam-se sobre o estabilizador de bombordo, ainda desmontado. Num toldo improvisado, a máquina de soldar fornece o apoio derradeiro. O povo circula, discute, o comandante pede espaço de manobra. Quadro homens orientados pelo carpinteiro chefe aplicam o estabilizador ao casco, com cola especial e a força do macaco. Apertam-se os parafusos a partir do interior. Parece novo. Agora deverá secar!

Vamos buscar água que a transpiração aperta. O chefe de dez casas está preocupado com a saída do barco para o mar e o ilustre muçulmano diz que tudo sairá bem. No final do dia o estabilizador está bem reparado e calafetado, fixado com boa cola impelida pelo “macaco” de trinta toneladas, com parafusos novos e mais fortes. Vai funcionar! O mecânico sobe ao convés, deche ao porão das máquinas, faz arrancar o motor. Trabalha regular, ruido fundo, expelindo jatos de água. Ótimo. Amanhã o barco poderá entrar no mar!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Batucada

30 de Dezembro

Quarta-feira na cidade de Pemba, capital da Província de Cabo Delgado, acordo com o chilrreio dos pássaros. Depois do mata-bicho, faço-me ao calor do verão africano. Passo a levantar um “cash” no “ATM”, aproveito a sombra da acácia enorme, flores vermelhas, aprecio os padrões arquitectonicos dos “setentas", marcas do esforço do “Estado Novo” para segurar a antiga “colonia”. As viaturas insólitas, ecoam na subida para a cidade alta. Remeto-me à costa, vagarosamente e saboreando só o tempo. Lá em baixo, o Índico reflete lápis lazuli.

Contorno a baia, paralelo à barreira de caniço do bairro e chego à zona do farol. Alguns miudos brincam na areia em pleno sol escaldante. O comandante ainda não tinha chegado. O capitão atarefa-se no convés. Os carpinteiros decansam à sombra no antigo estaleiro. Chega um barco de vela árabe da outra margem com várias pessoas que transportam fardos. Embora à sombra, a transpiração abunda. Tiro a roupa. A água é transparente e suave. Um banho no azul está mesmo a calhar!

Aparece o Comandante agitado, as coisas não correm bem com os locais, o trator não apareceu. O receio de um novo desastre é muito: não há duas, sem três. Decide-se aguardar pela próxima maré alta. Que será esta noite, pelas duas horas e vinte minutos, segundo as tabelas, diáriamente vigiadas pelo Comandante.

Entretanto várias crianças da Madrassa aproximam-se do toldo, transportando batuque largos, baixos e redondos, pintados de vermelho tijolo. Maioria de pequenas raparigas, de cinco a dez anos, cobertas de véus vaporosos azuis, cor de rosa ou verde claros, iniciam a cantiga em coro. Os rapazes, orientados pelo professor, percutem nos batuques, fazendo aquele a voz solo. Uma mulher mais velha, aproxima-se, vai cantando e dançando junto ao grupo. O fim de tarde de tons rosa laranja vermelhos, mistura-se com os sons do pequeno ponto de cores multiplas sobre a areia da praia

Então, vamos até à “Wimby Beach”, zona “queque” de Pemba, para uma boa refeição! Lulas!!! A Oriente a lua quase cheia está enorme ao sair do mar. A Laurentina está fresca mas deitamos cedo, daqui a pouco há que levantar!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Celebração

31 de Dezembro

A maré alta subiu bem e às duas horas da manhã o veleiro está, miraculosamente, a flutuar. Rápidamente dispõem-se as duas ancoras. Dá-se ao motor de arranque. Nada, uma, duas, três vezes, nada. O Comandante agita-se, o mecânico aplica-se, o motor arranca e o veleiro sai para a baia. Ensaiam-se as mudanças e o acelarador, tudo com muita cautela. A roda do leme responde muito bem e a estabilidade do barco é notável. Navega-se para o largo da baia, retorna-se para Oriente e depois regressamos à praia. Desligar o motor, lançar as âncoras, descansar um pouco – das emoções!

Às treze horas acompanho o Patrão Mor, o engenheiro e o carpinteiro navais, ao porto estaleiro para realizar a Inspeção da Autoridade Marítima ao Capulana. Na praia entramos num frágil plástico insuflavel de crianças. O Patrão Mor, descalça-se e pouco depois subimos na escada de popa do veleiro ainda sem mastros. Dão a volta, inspecionam: há uma entrada de água junto á quilha de popa. Convés, cabine, porões. Arrancamos com rota dirigida, bombordo, estibordo: o navio responde bem e rápido, o Patrão Mor aprecia. Muito bem, podemos celebrar com um pouco de branco fresco, temos liçença para circular na baia, até reparar a entrada de água e colocar o radio a funcionar.

Saímos então em bom ritmo para a praia de Wimby, passando pelo porto comercial, diante do cabo de Paquitequete, ao longo da marginal, pemba beach hotel, a uma velocidade de nove kilometros horários. Ancoragem, sempre a dobrar. Está maré quase vazia quando saimos no bote de plástico para a praia. O sol está a pôr-se e ao mesmo tempo aparece a lua cheia.

Jantar melhorado e bem regado, não fosse noite de festa. Ao longe, do complexo turístico, o fogo de artifício enche de cores reflexas o céu da baia. Céu limpo estrelado e muita animação. Música de todos os lados, quantidade de gente circulando em toda a praia e avenida, lindas raparigas!

Mais um copo e aparecem as nuvens. O Comandante está cansado e pede para o Capitão o levar para o barco para dormir. Quando volta, lamenta que o Comandante tenha caido ao mar quando subia do bote para o veleiro, molhando telemovel e documentos. Começa a chover. A Lua cheia, vai aparecendo entre as nuvens, mas a chuva tropical copiosa, puxada a vento, insiste em impôr-se. Afastamos as cadeiras e as mesas mais para tráz na esplanada. Cachoeiras aparecem em alguns pontos da cobertura de capim. Começam os relâmpagos e trovões, cada veis mais seguidos e potentes. O espetaculo é belo e intenso. Nisto, no centro do cenário, um raio cai mesmo a cem metros à nossa frente, com um ruido seco e estranho, sobre o barco!!!

Celebração