A Poente...

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Na Baía de Nacala!

Alfacinha

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encontra Mapebanes

Luso calaico

Luso calaico
visita Etxwabo

sábado, 12 de dezembro de 2009

Aprendendo a vida

Chegam Ministros e Colaboradores. Agitação de final de ano muitos planos para o próximo. Perspectiva de saudades. Antecipação da ausencia. Com um novo passatempo, explorando o espaço entre o conhecimento e a sabedoria. Reconhecendo velhos novos caminhos, vivências, relações. Abrindo novos horizontes. Com calma, desfrutar bem a felicidade do momento prolongado. De novo com o tempo, essa dádiva da vida!

domingo, 29 de novembro de 2009

Eleições em Moçambique

O clima geral è calmo, os resultados não espantaram ninguém, embora tivessem havido algumas escaramuças localisadas. A democracia funciona maioritariamente, identificando alguns problemas específicos. Começaram as mangas e os lichies e o calor vai aumentando temperado por algum vento.

domingo, 8 de novembro de 2009

A descoberta de Iunga

Saio cedo da empresa, passo em casa buscar o essencial, paro na marginal, a maré está quase cheia e o movimento é intenso. Vou a pé ver como está o barco atracado e pago o bilhete. De marcha atráz, meto o Surf na rampa do porto da população de Quelimane, manobra delicada para entrar no ferry que já tinha um camião grande (recuou ligeiramente o máximo antes de eu chegar), ficando as rodas da frente bem sobre a rampa de carga do barco, cheio de gente, bicicletas carregadas de pesados sacos e motorizadas. Depois da sirene saimos pelas 16h 30 e em 10 minutos atravessamos o Bons Sinais e estamos a desembarcar na Recamba, já Distrito de Inhassunge. Seguimos directos pela péssima pista de areia, muito irregular, cheia de lombas e buracos, numa paisagem plana de capim e mangal ao longe, em breve arrozais a perder de vista, árvores de tronco amarelo e verde alface, inclinadas e elegantes, até Mucupia, sede do Distrito. Paragem logo à entrada no amigo Macangi, reserva de quarto e de jantar. Agitação no ar, vários carros e brigadas de diferentes candidatos às eleições Presidenciais, Legislativas e Provinciais em acção, colam cartazes neste fim de tarde quente. Passamos para o outro extremo da Vila até casa da avó, junto ao cemitério onde estão enterrados a maior parte dos familiares, em especial o Avô e o Pai – túmulo em terra. A família reune-se e ouve as visitas: vinham para limpar a campa do pai e pôr flores. Muito bem, amanhã de facto já havia um “programa” para aquela pequena comunidade: a limpeza geral do cemitério; começará muito cedo, por volta das 6h. Agradecemos e despedimos, está a escurecer. Deslocamos-nos para próximo, noutro bairro, paramos e visitamos uma tia avó, tida como um pouco louca, é convidada para participar também no dia seguinte e é-lhe pedido que não se venha a zangar. Diz que sim, que virá e de maneira nenhuma se irá zangar. Continuamos um pouco mais, no meio de coqueiros, arbustos, mangueiras, cajueiros, capim alto, paramos e deixamos o carro que não passará uma certa vala; seguimos a pé entre as palhotas e chegamos a outra casa dos avós. Esta avó, será aquela que detém a permissão de acesso à ilha deserta, propriedade da família, herança do Avô, chamada Iunga. Está difícil, um determinado tio deveria também autorizar. A visitante discorda a conversa anima. De qualquer das maneiras terá que ser feito o Mucuto (cerimónia). Veremos amanhã se conseguimos organizar a expedição; o avô lamenta que se tenha reservado quarto na pensão; gostaria que se dormisse ali mesmo, pensa que foi uma escolha totalmente errada; não queriamos incomodar, também o medo dos mosquitos. Talvez amanhã, se formos à ilha. Despedimos-nos e voltamos à pensão. Um bom jantar de peixe fresco, batatas fritas, salada de tomate e cebola, laurentina bem gelada, café. A musica, entre passada, kizomba e marrabenta, está mesmo boa. Amena conversa com o Sr. Macanji, personagem educadíssimo, bem disposto e ótima companhia. Vamos dormir que amanhã há que levantar antes do sol.

sábado, 7 de novembro de 2009

Buscando raízes

Levantamos cedo na calma do Macanji e saimos mesmo sem tomar o mata-bicho, atravessando Mucupia, pouca gente na rua, voltando na saida para Gonhane, virando logo à direita na margem do palmar, mais uma vez à direita para dentro, algumas palhotas, a pista imagina-se para chegar ao Cemitério familiar pelas 7h. Cerca de 40 pessoas distribuem-se por uma àrea rectangular, com alguns coqueiros, aquelas àrvores pequenas de folhas verde garrafa grandes e flores brancas muito bem cheirosas, varrendo, arrancando arbustos, cortando a erva, retificando os túmulos em terra, arranjando flores, falando. Várias campas em cimento são grandes e apresentam 3 ou 4 cruzes. Uma oração solitária. Afasto-me para ouvir os pássaros. Troco os bons dias com raros passantes. As crianças, muitas, aproximam-se: claro, não faltam os rebuçados de coco. Concluidos os trabalhos, as pessoas retiram-se em pequenos grupos, os da família mais próxima regressam à palhota da avó e lavam-se com a água do buraco pouco fundo, perto do declive para a baixa onde se semeia o arroz. Também bebem esta água turva acastanhada, não a fervem, não a tratam, dizem que estão habituados, não lhes faz mal. Sentamos-nos nas cadeiras dispostas em fila logo à nossa chegada e as conversas rolam em Português, Macarungo e Chuabo (Etxwabo). Aqueles que não vieram participar na limpeza do Cemitério, deverão dar um contributo em dinheiro. A neta deixa 50 Meticais e um sabonete. Despedimos e agradecemos. Seguimos já ao fim da manhã para a zona da outra avó, não muito longe, do lado (do Seminário) dos Padres junto ao estuário. O Avô recebe-nos animado e insiste muito na necessidade de ficarmos a dormir aqui hoje, na medida em que para ir à ilha terá de ser feita uma cerimónia e assim a visita deverá permanecer na casa da família. Chega um tio e mais outro, um primo e mais outro. À sombra do pequeno rectangulo de paus cobertos pela trepadeira de maracujá, fala-se da vida de cada um, das história passadas, sempre muito engraçadas, do comportamento deste e daquele familiar. Por tráz das duas palhotas está em curso a construção de salinas, com umas dez pessoas a trabalhar na remoção e alisamento de terra – o chamado “matope”; o problema até agora era que os tanques não conseguiam reter a àgua; mas mais recentemente, há já meia duzia de tanques que parecem funcionar; não se sabe ainda quando poderá ser tirado o primeiro sal; tudo graças aos “7 milhões” e também à contribuição do Avô. A Avó está de acordo: podemos visitar a ilha dos antepassados. Decidimos então regressar à pensão para anular a reserva de hoje e recolher os sacos. Rápidamente retornamos à Vila, onde o tio irá para o mercado adquirir o necessário para o Mucuto. Um duche no Macanji, comprar cigarros, Zed, mais qualquer coisa e regressamos a casa dos avós. Estaciono o carro, a tenda monta-se sózinha e preparo o necessário para a noite. O jantar está pronto, à luz da pilha e da lua, arroz local, muito, com caril de coco e galinha, está razoável; no final, mais uns pedações de frango assado, melhorou; tinha trazido umas Super Bock, um pouco quentes mas de fato ótimas neste ambiente. As histórias são muitas, ao lado do fogo; os tios aparecem, muito animados, estiveram a beber bastante cachaço; vamos controlar alguém para guardar a canoa, já apalavrada pelo tio, para que não saia para a pesca de manhã antes de nós chegarmos. De facto, a cerimónia só será realizada na ilha da família. Céu bem estrelado, apesar da luz do quarto crescente, às vezes escurecido pelas nuvens. Saída marcada para as 6 da manhã, vamos dormir; um vento fresco marca um clima ótimo. Parece de propósito, os coros das mulheres, de três palhotas perto, ecoam alegremente e de forma compassada, musica suave que embala os sonhos.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ilha Deserta

O sol ainda não despontou e os lichies ainda um pouco verdes despertam os sentidos. Depois de lavar mal a cara na “casa de banho” em folhas de coqueiro, algumas bolachas, água bastante, duas moças lavam a loiça do jantar, arrumo a trouxa e já estamos atrazados: a Avó, o Tio, outro sobrinho órfão, os 2 meio irmãos e eu, saimos a pé ligeiros até à margem do “rio”: o marinheiro aguarda-nos na canoa familiar, prepara um “banco” para mim, folhas de palmeira no fundo do barco para não pôr os pés na água, saimos acompanhados do sobrinho com a sua canoa pequena. Cruzamos-nos com vários pescadores, também de canoa. Pássaros grandes, brancos, de pescoço comprido, ondulam isolados na margem do mangal. À direita o ramo do estuário dirige-se para Micaun, Chinde. Continuamos em frente, junto à margem, em expectativas frustada de sombra: embora ainda cedo, o sol fustiga. Bolas castanhas, grandes, pontuam nas árvores da margem, cortada por enseadas perpendiculares e curtas, segundo diz o Tio; avistamos ao longe, à esquerda, alguns coqueiros, bem acima do mangal; passamos o antigo acesso das pessoas à ilha, avistamos uma linha branca, na barca acostada ao “porto” atual, fazendo uma paragem muito suave junto de 3 canoas e vários homens. A ilha deserta, Iunga, de facto, não o é; houve-se, pouco distante, uma motoserra; no alto da margem, um grupo de negros concentra-se atentivamente nos visitantes; a Avó inicia o desembarque; há alguns pescadores e mais fabricantes de carvão; é grossa a pilha coberta de terra libertando fumo cinzento. Iniciam-se as explicações em Macarungo, junto à tenda grande; um grupo de 5 homens acompanha-nos e penetramos no mato. A Avó tenta orientar-se na paisagem um pouco queimada, à procura de um Cajueiro, o tal. Andamos pouco mais de 15 minutos e paramos – é aqui. Estende-se a secção de folha de bananeira, bem verde, no chão, os sacos de géneros ao lado. Vai começar o Mucuto. A avó dispõe os vários alimentos, as várias bebidas – vinho, cachaço, fanta, sumo, e inicia o desfazer fino da farinha de mandioca sobre a folha verde; vai invocando todos os nomes da antiga linhagem, à medida que o coro dos presentes bate ritmicamente as palmas e em coro sublinha cada personagem. A cerimónia dura mais de 10 minutos e no fim, bebe-se o que há e come-se o que se quer; uma pequena parte è derramada na terra, outra permanecerá sobre a folha verde. Estamos à sombra, sentados na terra coberta de erva e grandes folhas castanho amarelas e secas e as histórias antigas sucedem-se. Antigamente, havia aqui gazelas, macacos, porcos do mato, cobras enormes; as queimadas afugentaram tudo, mas se não as fizessem, não se poderia passar. Vamos passear, deparamos com plantas medicinais (raízes para lavar os dentes), árvores enormes cinzento brilhante de ninho e trepadeira, chegando à beira do mangal, muito verde, do outro lado; deparamos com a antiga localização da casa do dono, espaço não muito grande, rectangular só com capim alto; muito cuidado com o “feijão maluco”, provoca uma comichão diabólica. Está na hora de regressar e o grupo encaminha-se ligeiro para o acampamento da margem, identificando as àrvores onde outros vieram recolher ingredientes terapeuticos. A dona despede-se e instalamos-nos de novo na canoa. No regresso, sol mais quente, cruzamos-nos com uma barca cheia de carvão, 3 homens: levarão 3 dias até Quelimane; passa uma canoa carregada de “nhocas” (folhas de palmeira cortadas e entrançadas para servir de “telhas” vegetais enormes); cruzamos várias canoas ligeiras, o marinheiro recusa-se a cantar…para chegarmos de novo junto aos “padres” após 50 minutos de deslizar suave no liquido verde terra. Há ainda uma questão por resolver, aparentemente, o pagamento do remador, que não é o dono da canoa; são 30 meticais. Não tem problema. Continuamos até casa dos avós. À nossa espera está já um ótimo petisco (preparado pelo avô): pato assado – ainda sobrava uma cerveja; a conversa flui, desafios arrojados, confronto de culturas, entre português e Macarungo (dialecto de Inhassunge, parecido com Etxwabo), os familiares vão chegando, os avós brincam, as crianças observam, atentamente. O avô quer contar as estórias da história, fazendo o ponto da situação: foi Mutoa, o antepassado que tomou conta da ilha Iunga; casado com Fatiama, era empregado da Madal e foi um homem rico (“fumo”); roubou os bois do empregador e fê-los desaparecer na ilha, que nessa altura podia ser acedida a pé na maré baixa; levou também coqueiros, que lá plantou; o seu filho Custema, bisavô dos meio irmãos, teve 3 filhos: Amadeu, Afonso e Marta; o Amadeu, avô directo dos ditos, teve 3 filhos: Arcanje Amadeu Custema, Fernando Amadeu Custema, Francisco Amadeu Custema; o Afonso, teve 5 filhos: Afonso Alifanete Custema, Ana Alifanete Custema, João Alifanete Custema, Marta Alifanete Custema, Luca Luigi Alifanete Custema; e a Marta Custema Mutoa, a tia avó aqui presente, que nos guiou nesta viajem. Faz-se hora de ir apanhar a maré cheia, o avô diz que ainda è cedo, não vale a pena ir já, iremos esperar em Recamba; mas está na hora que se faz tarde e o Surf começa a bufar; grandes abraços de despedida, uma promessa de reencontro. Retomamos a falsa pista sinuosa entre os coqueiros, paramos mais à frente para levar uma mulher, seus dois filhos gémeos pequenos, sua mãe, em visita ao marido hospitalizado em Quelimane; abordamos o areal e desafiamos as lombas. Paramos no mercado para deixar o Tio que vai entregar as garrafas vazias; no Macangi, despedida do amigo, havemos de nos rever em breve; saimos de Mucupia, já depois das 14h, até à Recamba, quase uma hora de areia, lombas, regos, condução intensa. O ferry está do lado de Quelimane e vamos para “O Campino” para um refresco. O som da radio ecoa nas barracas de caniço e palha em frente. O barco chega e depois de sairem as muitas bicicletas e motorizadas faço uma manobra floreada de marcha a tràz para encaixar na ponte mal poisada no cais; vem outro carro, pequeno; aparece um terceiro, e as duas viaturas já embarcadas executam manobras de aproximação especial para fazer lugar…a sirene do barco avisa da partida, sobre fundo musical em Etxwabo. Marcha à rè, saída para os “Bons Sinais”, junto à margem direcção Este contra a maré enchente e depois Norte para Quelimane; o vento corre fresco, aliviando o sol intenso: voltámos à cidade.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A Serra que Canta

Saímos de Morrumbala passando o aerodromo pela picada em direcção a Oeste, para o rio Chire, descendo alguns montes em curvas até Pinda, na planicie vasta, para falar com o Chefe de Posto primeiro, o Régulo mais à frente, solicitar o seu filho para nos acompanhar. Existem alguns Ebondeiros magestosos, agora prateados à luz do sol, dois deles cheios de pássaros enormes, brancos e negros, de pescoço comprido, habitantes do rio. É uma zona de reassentamento de deslocados das cheias, com muitas casas em tijolo, centro de saúde e escola. Fazemos uma oferta para a cerimónia e seguimos em direcção a Micaula, ao longo da margem esquerda do Rio Chire, pouco antes de chegar à sua confluência com o Rio Zambéze. Aparece um corte perpendicular à pista com cerca de 50 m de largura, aparentemente rio seco, areia e pedras miudas. O jovem relata que há mais de 10 anos surgiu durante uma noite um bicho cobra com rosto de pessoa, que inrrompeu montanha abaixo, causando caos e destruição, abrindo este largo rasto até ao rio; e que a sua esposa ou esposo, poderá surgir a qualquer momento, saindo ali ou próximo, causando grande prejuízo. A população deve estar atenta. Mais à frente, as águas quentes, sulfurosas, brotam em três tanques forrados de ondulados sedimentos ocre esverdeado, junto a ruinas agro industriais imponentes da antiga Companhia da Zambézia. As mulheres lavam as capulanas e os filhos. Raros campos de algodão já apanhado, farrapos brancos dispersos nos ramos médios dos arbustos nas margens da pista. Pouco mais de 15 km e paramos na aldeia de Munguira. Sentamos nas cadeiras à sombra debaixo da Mangueira com o Chefe de Posto, o Secretário de Posto, o Regulo, o Fumo, o Secretário de Bairro, explicamos o motivo do nosso desejo de subir à serra. Adquirem-se os produtos para a cerimónia. Designa-se o guia. Saímos às 10h e 30 minutos, sol e calor abrasador. O guia inicia um ritmo rápido, contornando o Centro de Saúde para sair da aldeia e subindo de forma mais acentuada através da floresta. Fazemos duas paragens rápidas antes de chegar ao primeiro terço, relevo marcado percebido lá em baixo. Respiração ofegante, pulsação rápida, corpo muito quente. Temos a primeira desistência. A inclinação acentua-se, as sombras são raras. Água, respiração apropriada, esforço controlado. Aparece um macaco grande a comer Massalas que foge monte acima. Cruza-se a descer uma mulher bem disposta. Primeira machamba, mais acima duas casas, uma familia alargada, um homem escava à mão um buraco para a colocação de mais um pau em nova palhota em construção. Um fruto vermelho oval com polpa granulosa doce amarga. Persiste a inclinação difícil, carreiro entre o capim alto, terra solta com palha, desliza. Os musculos começam a doer. Para cima, nem o Diabo empurra. Pequeno corgo com bananeiras, está ali a água fresca. Bebemos bastante e abastecemos as garrafas. Carreiro estreito em falésia marcada, rochas e pedras grandes. Nova machamba, milho, mandioca, amendoim, mais uma casa um homem. Passamos o segundo colo. Atravessamos o vale e aparece então ao longe, pequenina, a antena no horizonte alto. Carreiro sinuoso, muita pedra, zona queimada, faz-se longo, mas ao fim de 3 horas, chegamos a Saikuni, também nome do Fumo local, disciplo do Regulo Sapanda. Lindos, minusculos, vermelhos e doces tomates abundam inexplicavelmente entre as pedras médias. Uma tenda de paus e plastico, vazia, com uns restos de fogo e lenha, dois tachos, uma mochila, um cartão grande dobrado no chão. Comemos tomates deliciosos, bebemos água, mastigamos umas bolachas. Quando chega o guarda das 4 antenas, vem de arco e flechas – atira bem longe, serve de arma de caça para coelhos, galinhas do mato e gazelas. Rimos de histórias da construção das antenas, falamos sobre os vários locais da serra – o pico das cobras, a origem do canto. Temos amendois e bolachas ainda para partilhar. A pouco mais de mil metros de altitude, apesar do fumo das inúmeras queimadas dispersas em todo o horizonte, avistamos a Oeste o Rio Zambéze, limitando Tete com Sofala, onde conflui ao longe a Sul o Chire, limitando a Zambézia. A Norte, as silhuetas das casas e os reflexos dos telhados de chapa da Vila de Morrumbala, sede do Distrito. A Sudeste, muito ao longe, os picos rochosos de Mopeia. Uma hora de descanso deve chegar, despedimos-nos e iniciamos a descida. Bebemos e abastecemos de água no mesmo sítio. Passamos a família que permanece tranquilamente sentada à sombra. A miuda dos seus sete anos no alto dos ramos da mangueira colhe alguns frutos, aparentemente muito verdes. Saudamos e seguimos monte abaixo. Primeira paragem após uma hora, com os joelhos de manteiga. Sentar, esticar as pernas. Temos pressa. Para baixo todos os santos ajudam. Mantemos um ritmo rápido, esforçado, escorrega-se às vezes. Mais 45 minutos e estamos na aldeia. Foi um passeio duro, agradecemos o apoio do Regulo, Fumo e companhia, retiramos-nos satisfeitos e bem cansados. A montanha só canta em certas épocas do ano. Voltaremos!

domingo, 11 de outubro de 2009

Preguiça de Domingo

O vento sopra forte do mar disfarçando o calor da estação. Da ponta Este da marginal, o Bom Sinais abre-se largo em dois ramos principais em direcção ao Índico. Ao longe, as copas altas dos coqueiros emergem sobre o verde denso do mangal. Algumas canoas deslizam suaves, a doca seca a Norte, boia de sinalização ao centro, duas belas cegonhas brancas na margem de matope. Em frente, abre-se outro ramo do delta e um bando de pássaros bem alinhados sobrevoa baixo sobre a superficie prateada da água. A Oeste, o sol mergulha entre nuvens de horizonte com reflexos vermelhos nas vastas superficies aquaticas do delta, razando o porto da Madal, o porto de pesca, o cais da população, o porto comercial. O último ferry atravessa de Inhassunge agora bem carregado de gente, motorizadas e bicicletas. Não tráz carros. Vários grupos espalham-se ao longo do passeio largo e litoral da rua, em conversas amenas de fim de tarde. Amigos, namorados, negócios – sobretudo indianos, muitos escolhem este local para falar ao crepúsculo. Seguindo junto à margem, aproxima-se uma canoa, lá dentro um remador transporta uma boa quantidade de grandes ameijoas acinzentadas. São para vender claro, não está caro. Passam dois taxis bicicletas ocupados e um vazio. Ao longe, um carro vira lentamente à esquerda e escutam-se as frases vivas gritadas por um grupo em campanha eleitoral. A cidade está tranquila.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Asterix

A água do mar aqui tem uma textura especial, flutuação menos eficaz e mais sensual. A temperatura acolhedora promete protecção e as ondas vastíssimas e intermitentes embalam no sono. A prata domina. Ao alto, zonas cizentas escuras enviam feixes de raios brancos em àreas próximas do mar. Ressuscitar, anfibiamente soerguer-se da maré baixa, executar os movimentos atleticos indicados, tatear as variações ondulantes e maleaveis das areias finíssimas, perscutar o horizonte na mira dos companheiros. Está a escurecer. O mais afoito, atravessou o rio vestido, refrescado…voltamos, contam-se histórias, subimos a corrente doce, chegamos ao local onde tinhamos deixado roupa e sapatos, estão a chegar mais uns 6 homens… pescadores ? caçadores ? Vindos em 2 canoas, paradas na borda do ribeiro com mais 4 pessoas, procuram o “caminho” (por àgua) para Chinde vila. São explicados, agradecem e retomam as embarcações. Começa a pingar, não muito, agora um pouco mais, ameaça. Aceleramos o regresso mas temos alguma dificuldade em encontrar a entrada certa para as dunas e espalhamos-nos para escolher o trilho. Lá está, subimos, descemos, entramos no mangal; lama e água pouco frofunda; 2 das motos estão caídas no chão – matope è lixado. Continuo rápido em frente e a pé, já os tinha sentido. Quando saio do outro lado do mangal, zunem como loucos atacando como bestas. Papulas volcanicas eclodem nos braços, punhos, coxas, pernas em comichões histaminicas! Em super rápido, tiro fato de banho, visto, cuecas, calças, meias, calço sapatos e começo a andar bem rápido, pelo carreiro de areia entre os regos das machambas, subindo até ao palmar, quase correndo. As motorizadas ficaram bem para tràz, o ar está fresco e arejado. A chuva parou e o Cruzeiro do Sul destaca-se naquele pouco azul escuro do céu. Faróis ao longe, passa uma, duas, vou na terceira. Equlibrios mirabolantes, sem queda. Um dos drivers è pouco experiente e atraza o grupo deixando a moto ir a baixo, por 3 vezes, na pista de areia funda. Chegamos no Cantinho de Chinde, verificamos o andamento do leitão assado para as 21h. Como em qualquer boa estória de Asterix, terminamos na mesa farta de alimento, cerveja, convivio e história!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Massacrado pelos mosquitos

Saímos da Vila sede de Chinde já pelas 16h 30m, 6 pessoas em 3 yamahas 125, pela pista de areia mole em direcção a Chacuma e Matilde. O condutor, eximio piloto em manobras mirabolantes, faz-se aos regos, enfrenta as inclinações, recupera equilibrios. A poucos 8 Km, sempre em zona habitada, saímos na perpendicular à esquerda, mais 2 mil metros de areia e casas, entramos no palmar. Passamos para carreiro sinuoso que sobe e desce as dunas ladeando as machambas não plantadas. Deparamos com o Mangal, carreiro estreito bem enlameado. O da frente diz que é necessário tirar os sapatos e arregaçar as calças. Penetramos na água. A derrapagem è constante, o trilho labirintico, a àgua vai ficando mais profunda. Ordem para parar, abandonar as motorizadas. Continuamos a pé com água até à cintura. Saímos nas dunas, ao longe a prata azulada do mar. No céu, nuvens cinzentas potentes batem-se com o branco. Chegamos à praia, cortada na horizontal por um ramo doce do Zambeze. A maré está baixa e os pássaros, grandes e pequenos, entretéem-se nas bordas d’água. Atravesso o ribeiro quente, 90 cm de profundidade. A areia estende-se finamente ondulada até às ondas de espuma branca regular. Andar, andar, sempre, àgua pelos tornozelos. Desisto. Está pelos tomates, mergulho.

MAINDÓ

Em Chinde, o dialecto que se fala è Maindó, aparentado com o Etxwabo e o Sena. Vejamos algumas palavras simples.
Bisso - olhos.
Bodo - joelho.
Cotomoia - tosse.
Dereto -bom.
Enzai - ovo.
Fiua - comichão.
Irido - arrepio.
Jala - unha.
Mainje - àgua.
Manda - mão.
Mimba - barriga.
Moindo - perna.
Murobue - medicamento.
Mussolo - cabeça.
Nhalo - pé.
Nhama - carne.
Numba - casa.
Oba - peixe.
Ocalau - vida.
Ocoma - gordo.
Ocua - morte.
Oladiua - tratamento.
Onda - magro.
Oudja - alimento.
Reda -doença.
Ridua - fraco.
Tovanda - forte.
Upa - dor.
Wabore - mau.
Zino - dente.

domingo, 13 de setembro de 2009

Ebondo

Fomos até Nicoadala, viramos à esquerda para Sul, em direcção a Licuari a caminho de Caia, a nova ponte sobre o Rio Zambéze. Mais à frente saimos para o mato, pista regular até Musselo Novo, ao encontro da casa do artesão. Em madeira da árvore Enungo, fabricou 4 batuques potentes, destinados a três tipos de música: Ebondo, Ialula, Marombo (música e dança que curam a doença tradicional conhecida por "reumatismo"). As peles ainda não estão bem secas e os batuques deverão permanecer ao sol ainda por alguns dias. Carregamos, pagamos, agradecemos e voltamos para Quelimane.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Batucada especial

Cerca das 21h saímos da vila sede de Inhassunge, pista de areia, viramos à esquerda e entramos no mato; floresta de coqueiros, mangueiras, capim alto, muitas outras árvores e arbustos, de quando em quando um terreiro bem liso e limpo com palhota. Alguns 6km à frente, escutamos o sibilar da música. O local chama-se Namingana, tem um telheiro grande de troncos e palha, à esquerda o grupo de Mutengo, à direita o grupo de Ebondo (cavalete com almofadas de palha, 5 batuques pendurados dois de um lado, 3 do outro, 2 batuqueiros de frente um para o outro sentados em troncos, 2 homens com ferros a percutir uma lamina de carro). Cerca de 30 pessoas estão presentes, mais de metade crianças. O pessoal vai aparecendo saindo do mato, as fogueiras estão acesas para permitir o aquecimento repetido das peles, a pouco e pouco reunem-se mais de 200 participantes. O grupo de Mutengo ainda está a preparar o quadrilatero dos 9 batuques. O grupo de Ebondo já aqueceu e o ritmo é forte. Á cabeça de um grupo que dança e canta em coro cada vez maior, estão 2 homens com uns tubos largos e compridos como tubas, por onde lançam a voz que fica estranha. A pouco e pouco, os pares organizam-se e agarram-se, muito juntos, colados uns aos outros num deambular sereno e elegante.

domingo, 23 de agosto de 2009

Iniciação

Os grupos de jovens raparigas e rapazes passam por um período de educação intensiva, antigamente durante seis meses no mato, actualmente reduzido a uma ou duas semanas por imposição do sistema educativo nacional: o "Mwali", em Etxwabo na Baixa Zambézia. Estas cerimónias são organizadas e acompanhadas por uma madrinha para as raparigas, um padrinho para os rapazes, personalidade reconhecida pelas famílias da comunidade local como detentor de conhecimentos tradicionais sobre os imperativos do comportamento social, figura exemplar: o "Mole". Actualmente, o dito e chamado "desenvolvimento", neste caso mais identificado pelos locais como crescimento económico desregulado, desorganização social pelas guerras, importação de modelos sociais ocidentais, tem vindo a contrariar aqueles ensinamentos: quatro a seis anos depois da iniciação, prematuramente e sem cumprir as regras propostas, os jovens começam a ter filhos precocemente em relações temporárias sujeitas a interesses materialistas.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O Céu na Terra

Nunca viram?
Olhem para cima e imaginem um céu de azul noite profunda, cheio de estrelas. Olhem para baixo, no horizonte próximo e escuro, descobrindo a imagem volátil das estrelas brilhantes; sobre a terra coberta de erva, os pirilampos voadores, vaga lumes ou caga lume, imitam o astral.

sábado, 18 de julho de 2009

Final da época das chuvas

Picado de branco pela vento do oriente, o índico de barro agita-se em figuras rupestres. Á entrada, a água, está ligeiramente fresca, logo depois adapta-se á temperatura da pele. Biliões de particulas brilhantes, douradas e prateadas, passam velozes e introduzem-se nos meandros da máquina. A música das folhas dos coqueiros alia-se ao murmurio forte do mar, desafiando a sinfonia das casuarinas. A época das chuvas está no fim, caem alguns aguaceiros de poucos minutos. O sol deita-se na floresta a oeste, em amarelos desmaiados. Inicia-se a estação do vento.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Provérbio Etxwabo

Zelu, opanguiwa: para ter uma ideia, é necessário ouvir um conselho; para progredir na vida, é preciso ouvir os outros.

domingo, 5 de julho de 2009

Músicos de Quelimane

Está fresco em Julho, tem chovido bastante, a roupa reforça-se, constipações não são raras. Dias de sol também, calor e céu azul. Comme je disais, il n'y a plus de saisons. No entanto, as noites animam-se com ritmos quentes. To get the whole sound, I accept propositions...

terça-feira, 23 de junho de 2009

Cacimba

Debaixo de um céu intensamente azul e profundamente estrelado, esconde-se a ameaça da noite: protecção, usar chapéu. Caso contrário, enfraquece a palavra, entopem-se as vias, amolecem as fibras...
A Via Láctea impõe-se monumento principal. O Cruzeiro do Sul evita perder o norte. Ás vezes, Orion defronta a Ursa Maior. A noite avança, os cães ladram, as folhas das palmeiras roçam ao vento, Nzu dorme no tronco do Coqueiro.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Vocabulário

Os praticantes de medicina tradicional da Baixa Zambézia, tem especialidades muito diferentes.
Kumbaisa: adivinho, pessoa que se acredita possa descobrir coisas ocultas como a causa da doença, quem foi o causador da doença, o autor da desgraça, o autor da morte, onde foram ocultadas coisas roubadas, quem detém a chuva. Ritual com objectos físicos.
Proverbio Etxwabo: Kumbaisa onomukutha Mukwiri (o adivinho descobre o autor da desgraça).
Mulaula: adivinho, pessoa que pretende desvendar coisas ocultas ou futuras, descobrir quem roubou ou fez feitiço; ás vezes indica o curandeiro apto ao caso.
Exemplo: Wafema eliwe omutomeya muzogwe, mudhele mulaula kamubulile muzogweya (Uafema foi acusado de deter a chuva, mas o adivinho quando chegou não desvendou chuva nenhuma).
Sinónimos: Kumbaisa, Muliba makaga, muliba makaga manddimuwa.
Mukwiri: pessoa que segundo a crença popular, possui o feitiço e pode dar a outrém qualquer espécie de mal, ele é tido como o responsável último do mal físico e moral. Secreto.

Provérbio Etxwabo: Mukwiri kanlowa nzuwa (a pessoa que possui a força de fazer o mal não aguenta enfeitiçar o sol).
Nahana ou Namusorho: curandeira / o que trata a doença do "histerismo" (Mazoka ou Matoa). Cura atravéz dos batuques.
Provérbio Etxwabo: Maliana Nahana, okana makobwa aye, onolaba na bafu, onotxetha marhombo (Maliana é curandeira, tem os seus cestinhos com remédios, faz o sufumígio, dança o Marombo e a Zoka).
Namabaliha: parteira.
Ñganga: curandeiro, herbanário, médico que dá remédio, tendo ás vezes em conta as indicações do adivinho, utilizando escarificações, plantas e raízes, um ritual.

domingo, 7 de junho de 2009

MUSICAS DAS CARAÍBAS


Temos o tradicional, o popular, o jazz, o reagge, a salsa, o regueton e o son, entre outras. Os músicos, funcionários públicos em grupos bem compostos, percorrem as salas e os palcos dos bares do país, animando as danças mexidas e retorcidas da ilha. A cultura e a história são muito promovidas, com inúmeros museus e conjuntos arquitectónicos de significado marcante no passado recente, grandes empresas de produção e distribuição de música e espectáculos, programas de documentário na rádio e televisão frequentes e interessante, inúmeras edições e outras publicações, obras plásticas e exposições, pintura, artesanato, fotografia, vestuário design, feiras e exposições, regionais, nacionais e internacionais.

MUSICAS DAS CARAÍBAS


Temos o tradicional, o popular, o jazz, o reagge, a salsa, o regueton e o son, entre outras. Os músicos, funcionários públicos em grupos bem compostos, percorrem as salas e os palcos dos bares do país, animando as danças mexidas e retorcidas da ilha. A cultura e a história são muito promovidas, com inúmeros museus e conjuntos arquitectónicos de significado marcante no passado recente, grandes empresas de produção e distribuição de música e espectáculos, programas de documentário na rádio e televisão frequentes e interessante, inúmeras edições e outras publicações, obras plásticas e exposições, pintura, artesanato, fotografia, vestuário design, feiras e exposições, regionais, nacionais e internacionais.

EDUCAÇÃO PARA TODOS


A educação é gratuita para todos. As crianças a partir dos 3 anos já podem ir para o infantário. A escola começa aos 6 anos. Materiais escolares, livros, alimentação e transporte não custam nada. Existem muitos estabelecimentos de ensino, primário, secundário e superior, pessoal docente e auxiliar suficiente. Depois do décimo segundo ano, os estudantes que seguem estudos superiores recebem um salário. Podem tirar licenciaturas, doutorados, mestrados, até aos 35 anos. A Casa dos Avós acolhe os idosos com actividades de formação diversas. A Universidade para Todos, emite na televisão duas horas diárias de cursos á distancia, sujeitos a exame e diploma.
O nível cultural médio em geral é deveras elevado. Os Cubanos tem das mais altas taxas de esperança média de vida de todas as Américas.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

O outro lado da moeda

As deslocações no país não são frequentes para a maioria, com custos elevados relativamente aos salários de 500 ou 600 pesos. E devem ser justificáveis aos agentes da autoridade, que ganham mais que os cirurgiões. A economia de duas moedas, instala injustiças. E a carne ou o peixe, nunca são baratos. Não se pode ser proprietário de uma casa, de um carro ou de uma vaca. Mas pode-se ter um cavalo. Os electrodomesticos, o vestuario, os sapatos, os produtos de higiéne estão a preços fora de qualquer economia doméstica. Não está fácil!!!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Acesso aos serviços de saúde


Em qualquer lugar, é fácil encontrar um Centro de Saúde. A entrada é livre, a informação imediatamente disponível, o tempo de espera mínimo. Os médicos são simpáticos, o serviço eficaz e gratuito, a consulta não demora. Alguns problemas de disponibilidade de medicamentos, não atingem normalmente os princípios activos mais correntes. Na maior ilha das Caraíbas...

domingo, 24 de maio de 2009

The best of



Não tem publicidade, não existe desemprego, não há pedintes, não se vêem sem abrigo. Todos tem uma casa, alimentação essencial, saúde e ensino gratuitos. A música é muito boa, o rum aprecia-se os charutos dos melhores. A população é hospitaleira, circula-se em completa tranquilidade, as praias bonitas, as cubanas lindas, o desporto nacional o baseball. País único no mundo!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Sonhamos o futuro

Bem entre terra, mar e céu, a ilha estende-se por mais de 1.000 km de estrada. Sempre quente refrescada pelas brisas marinhas, anualmente atacada por furacões destruidores, tem planícies, montanhas, praias e muitas mais ilhas. A água do mar azul é límpida e a vida submarina abundante. O povo misturado entre branco e preto, muito culto, tem das maiores esperanças de vida á nascença de todas as Américas.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Ritmos da terra

Em Barame, pequena povoação do Distrito de Inhassunge, dois grupos de batuqueiros alternam das 22 às 15: uns tocam o Mutengo - 9 percussões e 7 batuqueiros, outros a Cariba - 3 percussões e 3 batuqueiros. O povo dança e canta, fala e ri, sem parar. O vento ocasional do mar refresca ligeiramente os corpos transpirados. Bebe-se cachaço.Fala-se de histórias antigas, do caso do homem que abandonou a mulher e foi viver com outra...

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Típico português...

"Tendo visto com que lucidez e coerência lógica certos loucos justificam, a si próprios e aos outros, as suas ideias delirantes, perdi para sempre a segura certeza da lucidez da minha lucidez."

sábado, 21 de março de 2009

Obras de Fernando Pessoa

"Desejaria construir um código de inércia para os superiores nas sociedades modernas.
A sociedade governar-se-ia espontaneamente a si própria, se não contivesse gente de sensibilidade e de inteligência. Acreditem que é a única coisa que a prejudica. As sociedades primitivas tinham uma feliz existência mais ou menos assim.
Pena é que a expulsão dos superiores da sociedade resultaria em eles morrerem, porque não sabem trabalhar. E talvez morressem de tédio, por não haver espaços de estupidez entre eles. Mas eu falo do ponto de vista da felicidade humana.
Cada superior que se manifestasse na sociedade seria expulso para a Ilha dos superiores. Os superiores seriam alimentados, como animais em jaula, pela sociedade normal.
Acreditem: se não houvesse gente inteligente que apontasse os vários mal-estares humanos, a humanidade não dava por eles. E as criaturas de sensibilidade fazem sofrer os outros por simpatia.
Por enquanto, visto que vivemos em sociedade, o único dever dos superiores é reduzirem ao mínimo a sua participação na vida da tribo. Não ler jornais, ou lê-los só para saber o que de pouco importante e curioso se passa. Ninguém imagina a volúpia que arranco ao noticiário sucinto das províncias. Os meros nomes abrem-me portas sobre o vago.
O supremo estado honroso para um homem superior é não saber quem é o chefe de Estado do seu país, ou se vive sob monarquia ou sob república.
Toda a sua atitude deve ser colocar-se a alma de modo que a passagem das coisas, dos acontecimentos não o incomode. Se o não fizer terá que se interessar pelos outros, para cuidar de sí próprio."

Obras de Fernando Pessoa


"Desejaria construir um código de inércia para os superiores nas sociedades modernas.

A sociedade governar-se-ia espontaneamente e a si própria, se não contivesse gente de sensibilidade e de inteligência. Acreditem que é a única coisa que a prejudica. As sociedades primitivas tinham uma feliz existência mais ou menos assim.

Pena é que a expulsão dos superiores da sociedade resultaria em eles morrerem, porque não sabem trabalhar. E talvez morressem de tédio, por não haver espaços de estupidez entre eles. Mas eu falo do ponto de vista da felicidade humana.

Cada superior que se manifestasse na sociedade seria expulso para a Ilha dos superiores. Os superiores seriam alimentados

quarta-feira, 4 de março de 2009

Diálogo de gerações

Lá por Muiebele, quase junto ao Rio Licungo, existem umas lagoas chamadas Ereda (doença em Etxwabo). Poderão alimentar a plantação de ervas e árvores medicinais, em terreno bastante fértil, já pródigo em espécies valiosas. Para iniciar os trabalhos far-se-á a cerimónia no local com batucada; a lista do necessário é extensa; a compreensão e apoio dos espíritos da natureza e dos antepassados para o sucesso da empresa são capitais.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Pessoa

"Não se subordinar a nada - nem a um homem, nem a um amor, nem a uma ideia, ter aquela independência longínqua que consiste em não crer na verdade, nem, se a houvesse, na utilidade do conhecimento dela - tal é o estado em que, parece-me, deve decorrer, para consigo mesma, a vida íntima intelectual dos que não vivem sem pensar."

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Livro do desassossego

"Se eu um dia pudesse adquirir um rasgo tão grande de expressão, que concentrasse toda a arte em mim, escreveria uma apoteose do sono. Não sei de prazer maior, em toda a minha vida, que poder dormir. O apagamento integral da vida e da alma, o afastamento completo de tudo quanto é seres e gente, a noite sem memória nem ilusão, o não ter passado nem futuro, a ..."