A Poente...

A Poente...
Na Baía de Nacala!

Alfacinha

Alfacinha
encontra Mapebanes

Luso calaico

Luso calaico
visita Etxwabo

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Christmas

Saí ás 6 com céu nublado. Muita lama nos primeiros 30 km em reabilitação, depois muitos buracos até ao rio Ligonha e a ponte para a Zambézia, a partir daí um piso ótimo até Mocuba, com paragem em Alto Molocué, Nampevo para amendoin e limão. Em Mocuba enchi o depósito (estava a metade), deixei os caras na BG, encontrei o Nelson no BIM, passámos na casa dele para levar bebidas e saimos para Lugela ás 13h. A estrada está má, uma hora, compra galinha, encomenda no Murima ao cozinheiro, visitamos o alojamento turístico em construção e saimos para Tacuane. Pista estreita, sobe e desce, esquerda direita, vai subindo, 30 km. Em frente ao CS de Tacuane, tomar a esquerda: as subidas e descidas e as curvas acentuam-se, a floresta cresce e densifica-se, o relevo torna-se dominante. Mais uns 15 km, muito a subir, atravessamos uma aldeia onde perguntamos, um pouco mais á frente à direita, terá uma cancela. Prosseguimos e paramos na cancela fechada a 2 km. Paramos e vamos à procura do guarda na floresta de chá – estamos na antiga companhia do chá Lugela: casas antigas, construções enormes, instalações agrícolas e fabris arruinadas, o monte Mabu por cima, grandes espaços, árvores gigantes e particulares; em curso duas novas plantações de citrinos. Encontramos 2 pessoas, cumprimentamos, explicamos, e um vai nos abrir a cancela; mas parece que não se pode subir muito, cairam vários troncos com as chuvas. Vamos ver. Começamos a subir uma pista dura penetrando a floresta muito escura, quase parece de noite em alguns troços; a densidade e a dimensão das árvores arbustos de chá é incrivel. Um primeiro tronco, fino e ajeitado, oblicuo à direita e passo por cima. Mais acima, uma árvore enorme, muito ramos, tronco grosso; mas partiu ao cair; há maneira de afastar o cume para o carro poder sair á direita, lado do precipício, e passar; o Nelson quebra e afasta alguns ramos, dirige a manobra: subo a borda à direita, e o carro descaiu para o mesmo lado, avanço entro em frente, roda da esquerda cai numa vala, derrapa; marcha atráz, nada; marcha à frente, nada; engato as 4 em lentas; um pouco para tráz, mais rápido para a frente, está a andar e retomo a picada. Vamos devagar e não longe encontramos um novo tronco, este enorme, inamovível. Manobra lenta e delicada para conseguir dar a volta ao carro em poucos metros! Mas ok. Toca a andar a pé, sempre a subir, passo ligeiro; mais á frente um velho, com uma rede, um miudo (também) e uma velha (com rede e uma gazela pequena ás costas) passam rápidos por nós, pergunto se posso tirar foto, não tem problema. Mais à frente, um rapaz explica-nos o desvio à direita para a sua aldeia e a direcção da casa do director; em troca da boleia de regresso para a aldeia que passámos, vai acompanhar-nos à casa do director. Passamos outras casas, 3 jovens; muitos cogumelos, está fresco; numas árvores frondosas a 100 m os macacos divertem-se; lindas borboletas, lindas flores. E saímos da rua à esquerda por um atalho, entre bambu, bananeiras, chá, aparecem novos frutos, enormes, tipo fruta pão branca ou amarela. Chegamos a uma pequena plataforma a meia encosta, o cume do monte Mabu espreita por cima. A casa de arquitectura inédita de redondos contempla paisagem grandiosa, envolvida num universo de plantas exóticas e árvores belíssimas. Os pássáros e insectos dominam o fundo sonoro. A casa está bastante arruinada, mas poderia servir de ponto de apoio para a subida. Resta-nos saber se não há outro acesso que nos poupe alguns destes 500 m verticais. O sol já desce e nós temos que fazer o mesmo. Let’s go. Vou tirando algumas fotografias e ficando para tráz; as botas já não estão adaptadas – palmilhas ! – e tenho os pés, dedos já a doer. Retomamos o carro e ao chegar ao complexo principal é noite cerrada. Agradecemos, o guarda vai nos abrir e fechar a porta. Está a choviscar. Retomo a pista, deixamos o moço na aldeia, outro informa que quando quizermos subir o Mabu temos que falar com aquele, um outro, o chefe do mabu, sentado numa banca do outro lado da rua. Faço rápido até Tacuane, curva contra curva, sobe e desce (mais) e depois até Lugela; quando chegamos ao Murima está um grupo de amigos, bebemos uns copos, contam claro, as estórias dos feitiços e magias: debatemos muito e rimos bastante. Logo a seguir, sai a galinha assada, com chima; nada mal. Mais um JW Red e opto por continuar até Nicoadala, são 21h e estou em boa forma. Seguimos para Mocuba, passando antes na nova casa / quinta, em construção; com boa música, a estrada é menos longa e na ponte já estão a dormir e não cobram, deixo o brother em casa e saio da cidade. Ligo o piloto automático e inesperadamente chego a Nicoadala, em menos de hora e meia. É o Custema que acorda, descarrego tudo e deito-me. Longo dia!

Nature

Enfim, já me tinham dito. As mangas caem por toda a parte, formigas imagino, constroem torres tubulares de vários centimetros de altura e milimetros de diametro; os artropodes que se veêm em várias situações, são enormes; há 3 dias uma concentração de libelulas nocturnas acastanhadas claras; escaravelhos negros muito potentes; louva-a-deus verde brilhante; nuvens de mosquitos zumbindo ao escurecer e ao amanhecer.

Quase um mês depois...

Finalmente, a minha barba “peixes”, está a incomodar.me: grande à esquerda, grande à direita, rala ao centro. Não há centro? Ou è um buraco negro?

domingo, 13 de janeiro de 2013

Profissionais, especialistas, magos, médiums, xamãs

- Mwâlelo: remédio para produzir mais, atraindo para a própria machamba os produtos agrícolas das machambas dos vizinhos.


- Mulimelo: remédio considerado normal e comum, misturado com as sementes, para obter uma boa colheita. (mas em prática, é ainda um Mwâlelo de defesa, contra a possibilidade do Mwâlelo de ataque).

- Alipa nivuwo: os que possuem o nivuwo, remédio muito especial que contém uma parte do corpo de uma criança, etc., colocado no celeiro ou numa panela, ao pé de uma árvore, e com o qual se toma banho, para não morrer, para enriquecer.

- Anamutxutxa: homens ou mulheres, que preparam “filtros amorosos” de vários tipos.

- Mutxoka: é um mukhwiri “arrependido”, que aceitou tornar-se neutralizador dos seus ex-colegas, depois de ter sido “ritualmente tratado”. Este tratamento consiste em “limar os dentes” do ex-devorador.

- Mukhwiri: bruxa/o. Asocial e egoista; intrínseco e completamente negativo (o “desordenado” número um). A sua acção, em relação às pessoas, é qualificada pelo instinto de devoração: é devorador, comedor de carne humana, é a grande causa da mortalidade das pessoas (especialmente da mortalidade infantil), das doenças persistentes e dos desastres inexplicáveis. Os seus moventes são sempre o ciúme, a inveja, o egoísmo, o ódio e a ambição. O seu okhwiri, o instinto maligno que possui e guia o mukhwiri, provém da nascença, no sentido de que lhe foi “lançado”, com muita probabilidade, na altura do seu nascimento (do parto).

- Namakhurumela: pessoa possuída por um espírito mau (não de um verdadeiro antepassado), que faz mal ao próprio interessado e faz mal a todos aqueles que ele odeia.

- Nahavara: outra figura de mukhwiri com leopardo ou leão ao seu serviço.”
Elia Ciscato, Introdução à Cultura da Área Makhuwa Lomwe, Clássica Artes Gráficas, Porto, Portugl, 2012.