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Luso calaico

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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Serra de Muhito

Domingo, levantei-me às 6. Saí com mochila e pau no Surf e às 6h 30 estava no largo de Marrere, em frente ao Hospital, a pegar no A.. Saimos pelo norte até à primeira principal à esquerda, caminho quase sempre bom de areia, um pouco estreito, 3 passagens de ribeiros agora quase secos, e chegamos até à encosta da Serra de Muhito: 30 min de caminho, 15 km. Preparamos-nos para a subida e toca a largar encosta acima; são 7h mas já está calor; mato meio denso, árvores grandes, vamos sem carreiro, capim forte meio queimado, flores de cores muito vivas; depois do primeiro penedo, pequeno vale, muita pedra solta, grande e pequena; recomeçamos a subir, apanhamos antiga machamba e logo depois um carreiro íngreme; não longe ouve-se o bater de alguém que corta madeira; passamos um pau bom, cortado e descascado, a secar; transpiração é muita; sai uma galinha do mato a voar por cima de nós; mais um pouco e atingimos o primeiro colo. Paramos para beber água. Á esquerda, no próximo monte (no principal dos 3 picos), afigura-se uma mulher gigante. No vale em baixo, algumas machambas, poucas casas. Retomamos para o cume à nossa direita (a norte) e deparamos com uma machamba já semeada de milho e logo a seguir mais acima uma palhota em construção (os paus que definem a estrutura). O mato aqui é mais denso, muito bambo e aparecem novas flores (uma parecida com o colchique, diectamente a sair do chão em viojeta e branco), borboletas a acasalar e escaravelhos vermelhos; passam 2 pombos bravos. Subimos um penedo liso, passamos uma árvore estranha e estamos no cume, após 2 horas de subida puxada. Paisagem infinita, Nampula muito ao longe – quase não se vê, montanhas por todo o lado, uma luz prateada ofuscada por um ligeiro nevoeiro enfumado. Um vento fresco extremamente agradável! Sentamos-nos à sombra para comer umas bolachas e beber água; vamos falando; árvore boa para madeira, umbila; árvore boa para tratar as constipações, ferver a casca e misturar um pouco de cinza; árvore descascada, para fazer cordas. Com os binoculos faço o scan aos pontos cardeais: uma picada a oeste; no vale em baixo vê-se roupa pendurada numa casa mas não se vê ninguém; a norte o segundo cume da serra, mas separado do nosso por um profundo vale. Passam andorinhas. Após uma horita de descanso, retomamos o mesmo percurso para o regresso; serão mais 2 horas a decher, sempre com cuidado e sem pressa (para baixo todos os santos empurram, para cima nem o diabo ajuda), passamos uma mangueira e apanhamos 2 grandes e madurinhas no chão; uma antiga machamba, com enormíssimas plantas de mandioca (5 m); algumas bananeiras, sem frutos; massala, outro fruto desconhecido, com desenhos geométricos a verde, passa um cão, sem hesitações e sem coleira, como se fosse dispachado ao seu destino. Aqui as pequenas flores vermelho vivo sinalizam o horizonte próximo, enquanto as formas graníticas elaboradas limitam a perspectiva visual. No útimo relevo, perdemos a localização do carro, andamos um pouco, espreitamos a sul, o sol queima sobre o granito liso – não parece, retomamos a norte, volta a passar o mesmo cão; seguimos o trajecto do mesmo; abordamos a primeira casa; uma mãe de 6 filhos escolhe os grãos de milho do ano passado, ao mesmo tempo que dá de mamar; a filha mais velha ajuda; o marido diz que o carro está mesmo ali ao lado e vai apanhar mangas para nos oferecer; 2 de conversa e retomamos o veículo, não sem que eu tenha oferecido um pacote de caixas de fósforos ao senhor. O regresso é escorreito, boa música; paramos na ponteca do Rio Miaua para tirar umas fotos, 5 raparigas fogem a correr! Depois dizem adeus, de longe. Nos cruzamentos, grupos de mulheres vendem e bebem bebidas fermentadas (de caju -  cabanga e de farelo de milho). Só paramos no mercado de Marrere, para comprar pão, pepino, limão, castanha. 6 horas de viajem e chego a casa. Descanso!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Centros

Saí às 15. Reserva Cosmobiológica de Marrere: duas horas de visita inspirada. Céu muito azul, está calor e o verde das árvores é brilhante. Abordei pelo Norte, contornando a nascente. Retomei uma zona, onde já tinha passado várias vezes, sem nunca ter notado nada de especial; nisto, um sinal – ondulação vertical no vento, junto a um relevo; aproximo-me e logo aparecem os outros sinais, tecidos brancos e vermelhos pendem em pontos estratégicos dos ramos dos arbustos e árvores; no centro, um pequeno penedo quase esférico; o local principal, bem à sombra, numa estreita passagem norte-sul, entre um penedo com uma árvore de raízes extraordinárias em adesão total (a Oeste) e um murmuche antigo com um velho tronco de árvore coberto de verde (a Este). Este é sem dúvida o lugar de culto principal do Penêdo sagrado. O murmuche umbigo do mundo, aliado à enorme árvore sinérgica com o penedo, constituem símbolos e realidades principais da religião tradicional. Não muito longe, embora sem ver ninguém, ouve-se uma voz masculina em cadência macua: aleluia, aleluia! Guardo um tempo de reflexão sobre o poder da geomância. As primeiras chuvas já fizeram efeito: o mesmo tipo de arbusto, um ao lado do outro, apresentam folhas de três cores contrastadas: o vermelho vinho vivo, o castanho dourado, o verde puro. Começo a subir na diagoal, rumo a sul, pela rocha lisa, até se tornar impossível andar pelo declive extremo; a cor torna-se negra em faichas verticais, talvez pelo efeito das águas correntes das chuvas? Subo a pique já na extremidade sul; passa uma rapina de envergadura, mal mexendo as asas, subindo lentamente e desaparecendo ao longe; os piáres dos pássaros e insectos vão variando; um passarito de pescoço vermelho acastanhado e asas negras, tipo andorinha, poisa na árvore em baixo; chegam outros dois e levantam os três rápido para baixar até perder de vista. Sento-me um pouco, á sombra; está um vento fresco maravilhoso; aprecio a paisagem; passa um lagarto grosso, castanho vivo e azul. Subo mais um pouco, nem sinal de cobra, apesar dos muitos buracos e nichos convidativos; vou chegando ao cume. A norte, avista-se o rochedo da última viajem; reconheço os outros relevos a nordeste; os horizontes são vastos: a oeste, uma linha de “Iselbergs” imponentes, interrompidos pela serra almejada, estende-se de sul a norte até perder de vista; a este, outra linha de relevos, mais muito mais escassos e menos imponentes; passo ao cume assinalado (sem pretender escalar desta vez), contornando a nascente: saltam dois animais peludos, cinzento e branco, sem rabo, cerca de 40 cm de tamanho; um desaparece logo, um fica a olhar para mim, longamente sem se mexer, meio abrigado atráz de uma pequena rocha, junto ao penedo e local secundário de Mucuto, enquanto eu vou tirando calmamente as fotografias. Retomo sul e oeste, abordando os relevos de meia encosta, enquanto o sol bate. A rapina jovem, talvez pelo calor ou pela presença humana, não dá sinal; impossível localizar o ninho. Em frente, não muito longe da linha de água, por baixo de uma grande árvore, um cemitério familiar. Vou andando e um pouco mais abaixo alguém esteve a descascar castanha de caju com o fogo; as mangueiras estão cheias de mangas, ainda verdes, e os cajueiros nesta fase, mostram muitas castanhas, ainda com o fruto pequeno. Circulo na vertente poente deparando com uma árvore naturalmente quase negra, agora sem folhas, brilhando ao sol como se fosse metálica. As uniões rocha-árvore – cinzento e prata, são esculturas elaboradas, simbióticas de vida e morte. Um pouco mais e estou práticamente no nível do Campus. Não se vê ninguém.

Do outro lado da fractura digital

- Mwâlelo: remédio para produzir mais, atraindo para a própria machamba os produtos agrícolas das machambas dos vizinhos.


- Mulimelo: remédio considerado normal e comum, misturado com as sementes, para obter uma boa colheita. (mas em prática, é ainda um Mwâlelo de defesa, contra a possibilidade do Mwâlelo de ataque).”



Elia Ciscato, Introdução à Cultura da Área Makhuwa Lomwe, Clássica Artes Gráficas, Porto, Portugl, 2012.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Lobolo, inicio

Surprise

Em novo ponto de acesso, consegui finalmente reentrar no blog!