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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Centros

Saí às 15. Reserva Cosmobiológica de Marrere: duas horas de visita inspirada. Céu muito azul, está calor e o verde das árvores é brilhante. Abordei pelo Norte, contornando a nascente. Retomei uma zona, onde já tinha passado várias vezes, sem nunca ter notado nada de especial; nisto, um sinal – ondulação vertical no vento, junto a um relevo; aproximo-me e logo aparecem os outros sinais, tecidos brancos e vermelhos pendem em pontos estratégicos dos ramos dos arbustos e árvores; no centro, um pequeno penedo quase esférico; o local principal, bem à sombra, numa estreita passagem norte-sul, entre um penedo com uma árvore de raízes extraordinárias em adesão total (a Oeste) e um murmuche antigo com um velho tronco de árvore coberto de verde (a Este). Este é sem dúvida o lugar de culto principal do Penêdo sagrado. O murmuche umbigo do mundo, aliado à enorme árvore sinérgica com o penedo, constituem símbolos e realidades principais da religião tradicional. Não muito longe, embora sem ver ninguém, ouve-se uma voz masculina em cadência macua: aleluia, aleluia! Guardo um tempo de reflexão sobre o poder da geomância. As primeiras chuvas já fizeram efeito: o mesmo tipo de arbusto, um ao lado do outro, apresentam folhas de três cores contrastadas: o vermelho vinho vivo, o castanho dourado, o verde puro. Começo a subir na diagoal, rumo a sul, pela rocha lisa, até se tornar impossível andar pelo declive extremo; a cor torna-se negra em faichas verticais, talvez pelo efeito das águas correntes das chuvas? Subo a pique já na extremidade sul; passa uma rapina de envergadura, mal mexendo as asas, subindo lentamente e desaparecendo ao longe; os piáres dos pássaros e insectos vão variando; um passarito de pescoço vermelho acastanhado e asas negras, tipo andorinha, poisa na árvore em baixo; chegam outros dois e levantam os três rápido para baixar até perder de vista. Sento-me um pouco, á sombra; está um vento fresco maravilhoso; aprecio a paisagem; passa um lagarto grosso, castanho vivo e azul. Subo mais um pouco, nem sinal de cobra, apesar dos muitos buracos e nichos convidativos; vou chegando ao cume. A norte, avista-se o rochedo da última viajem; reconheço os outros relevos a nordeste; os horizontes são vastos: a oeste, uma linha de “Iselbergs” imponentes, interrompidos pela serra almejada, estende-se de sul a norte até perder de vista; a este, outra linha de relevos, mais muito mais escassos e menos imponentes; passo ao cume assinalado (sem pretender escalar desta vez), contornando a nascente: saltam dois animais peludos, cinzento e branco, sem rabo, cerca de 40 cm de tamanho; um desaparece logo, um fica a olhar para mim, longamente sem se mexer, meio abrigado atráz de uma pequena rocha, junto ao penedo e local secundário de Mucuto, enquanto eu vou tirando calmamente as fotografias. Retomo sul e oeste, abordando os relevos de meia encosta, enquanto o sol bate. A rapina jovem, talvez pelo calor ou pela presença humana, não dá sinal; impossível localizar o ninho. Em frente, não muito longe da linha de água, por baixo de uma grande árvore, um cemitério familiar. Vou andando e um pouco mais abaixo alguém esteve a descascar castanha de caju com o fogo; as mangueiras estão cheias de mangas, ainda verdes, e os cajueiros nesta fase, mostram muitas castanhas, ainda com o fruto pequeno. Circulo na vertente poente deparando com uma árvore naturalmente quase negra, agora sem folhas, brilhando ao sol como se fosse metálica. As uniões rocha-árvore – cinzento e prata, são esculturas elaboradas, simbióticas de vida e morte. Um pouco mais e estou práticamente no nível do Campus. Não se vê ninguém.

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