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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Tentativas falhadas...

Em outros sites de redes sociais, limitam o número ou a qualidade das palavras. Assim apesar de não ser um texto da minha autoria, já tive autorização do autor, ele mesmo, para publicar. Leiam com toda a calma...

OS SOCRATÍADAS
(ou os 1001 versículos messiânicos)

I
Às damas e aos varões sacrificados,
Que nesta ocidental praia Lusitana
Em tempos que não eram conturbados
Deixaram que passasse a Caravana
De traidores, gatunos e drogados,
Eu canto, p’ra tirar o Zé sacana
Que é isso o que eu, ardentemente, peço
Pois suportá-lo mais eu não mereço.

II
E cantarei também os desvarios
Dos que supostamente governaram
O país e a frota de navios
Que nestes trinta anos naufragaram
E aqueles que, os cofres já vazios,
Dos salários dos pobres retiraram
O fruto do trabalho que os sustenta,
Se, por cantar, o mal se me afugenta.

III
E vós, ventres ao sol, arraia miúda,
Ó vítimas da fome e da injustiça,
Fazei que a vossa inspiração me acuda,
Pois é por vós que a pena a voz me atiça,
Não deixeis que uma boca fique muda
Que o medo e a precisão os lábios plissa.
Morra de inveja aquele que não combata
Se por trinta dinheiros a alma mata.

IV
E a ti que já viste o Limoeiro
E sofreste na pele o amargo travo
Da clara insanidade do engenheiro
Eu ofereço este canto em vez de um cravo
Que as rosas debotaram no canteiro
Onde, hoje, cresce, só, o mato bravo.
Bem hajas tu que deste a grande ideia
De eu mostrar os lagartos da colmeia.

V
Que todo aquele que vive em sociedade
Deve encontrar o néctar de uma flor
Que ao corpo dê um pouco a liberdade
De se saber nutrir com seu labor
Sem cuidar de explorar à saciedade
Dos restantes obreiros o suor
Como o faz o lagarto do cortiço
Que passa a vida inteira a pensar nisso.

VI
E é isto que nós vemos com frequência
Nas sociedades ditas progressistas
Que são acometidas da demência
De protegerem sempre os vigaristas,
Vivendo sobretudo da aparência
A mostrar que são muito altruístas
Com subsídios sacados ao obreiro
Para comprar o voto ao calaceiro.

VII
Cada qual só governa p’ra ganhar
Agindo para obter as clientelas,
Produzir não é alvo p’ra alcançar
Mas sim trazer caniches pelas trelas.
Sendo assim, o dinheiro há-de faltar
E mingar a comida nas panelas.
Cada vez o país está pior,
Mas, agora, batemos o record.

VIII
Noutros tempos Guterres governava,
Vivia-se melhor do que hoje em dia,
Quando o Sócrates ainda militava
Nas alas da Social Democracia,
Mas deste Zé Ninguém não se esperava
O vil trafulha em que ele se tornaria.
Tu que votaste diz como é possível
Ser mandado por quem não mostra nível.

IX
Forçoso é começar por descrever
O carácter do boy que ele era então
Dos caminhos que andou a percorrer
Desde a Direita à Esquerda e ao Centrão
Como provam os recuos, no Poder,
Atitudes normais no aldrabão.
Conquanto todos saibam quem ele é
Nuca é demais dizer como é o Zé …

X
O Sócrates é o Zé Pinto de Sousa
Que, em pequeno, era tido por Zezito
E, ousado aventureiro (quem não ousa?)
Na vida teve sempre como fito
Ser um soba qualquer ou qualquer cousa
Como um Titã cantado nalgum mito
Onde os seus semideuses Socratíadas
Fossem lembrados como n’Os Lusíadas.

XI
Discípulo do tal Grego sem reserva,
Aquele que diz “só sei que nada sei”,
Ressurgido, este trengo ainda conserva
A mesmíssima ideia como lei
E que, para iludir a vil Caterva,
Usa como se fosse um grande rei.
Só lhe falta beber a tal cicuta
P’ra que se seque a sua seiva bruta.

XII
O Zezito mostrava um ar contente
Exibindo o seu diploma adquirido
Lá na Universidade Independente,
Com fraudes e artimanhas conseguido,
Assinando projectos de outra gente
Porque nunca p’ra mais fora intruído
E como um refinado vigarista
Lá foi ele p’ró Partido Socialista.

XIII
Com peneiras e lábia e arrogância
Depressa o fizeram deputado
E, apesar de mostrar tanta ignorância,
P’ra Secretário de Estado foi chamado
E em trafulhices, burlas e jactância
Em que sempre ele andou tão embrulhado
Seria neste Ambiente tão sinistro
Que lhe viram apetências p’ra Ministro.

XIV
Ó tu, pobre Cavaco, ora me ensina
Como tirar tal gajo do poleiro
Pois não passa de uma ave de rapina
Mas é segunda vez nosso Primeiro.
Manda-o já para África ou p’rà China
Se o não podes mandar p’ró Limoeiro.
Mas já que nada podes, como eu acho,
Manda-o embora com um grande tacho!

XV
Que seja p’los pecados deste Povo,
Teimoso no seu voto sempre às cegas,
Eu imploro a Deus, aqui, de novo
Que depressa venha outro João das Regras
Ou que venha o tigre ou venha o lobo
E limpem o país dos Estrategas,
Pois, sem receio, a gente anda a votar
No émulo do Oliveira Salazar.

XVI
E a verdade é que o Tonho inda poupava
Embora nos tirasse a liberdade
Mas este, se pudesse, até limpava
As esmolas das almas, sem piedade.
De uma coisa, contudo, este gostava
E defendia-a com fogosidade:
Ser livre de partir à aventura
Numa qualquer viagem de loucura.

XVII
Mesmo que os outros pagassem a factura
Mesmo que não voltassem nunca mais,
Ele vivia obcecado na procura
De “Paraísos Artificiais”.
De Beaudelaire, sem dúvida a leitura
Teria influenciado o grande arrais,
Por isso o Zé queria navegar
Que “o que importa é partir e não chegar”.

XVIII
Se o mundo é feito de realidades
Que nem sempre são materiais
Como o provam imensas divindades
De que falam a Bíblia e manuais,
Não admira que o Zé visse as cidades
E os campos como imagens virtuais,
Vindo da Net todos os recursos
E o bem-estar do Povo, dos discursos.

XVIX
E, deste modo, tinha de partir
À procura do bem-estar da Gente
Fosse de barco, de nave ou de menhir
Como o grande Obelix, tão valente.
E partiu… `a procura do Porvir,
Armado de um sorriso omnipotente.
Passou ao largo de outras realidades,
Gerou ventos, colhendo tempestades.

XX
Já no Oceano da Net navegavam
Pois “navegar” é fado deste bando,
Os novos, brandamente, ressonavam,
Que as noitadas os iam aleijando,
E os velhos, já cansados bocejavam,
O Social Rendimento lhe bastando,
Só o homem do leme prosseguia
À vela da Nova Tecnologia.

XXI
“De pé, ó nautas da Demagogia –
Dizia ele à récua duvidosa
Que tão servil narrava o que lhe ouvia –
De pé, enquanto eles sonham cor-de-rosa!”
A Oportunidade surgiria
Simplex, serena, Nova e proveitosa:
“Se, dormindo, eles ganharem dois tostões
Nem vêem que ficamos com milhões.

XXII
Lembrai aquele grande marinheiro
A quem o nosso Povo chamou Gama
E, se ele jamais gamou algum dinheiro,
Não me admiro que gamasse a Fama
Da coragem de ser grande guerreiro
Matando as crianças da mourama.
Tomai-o como exemplo, ricos-nobres,
Temei os grandes e batei nos pobres.

XXIII
Nunca se pode um jogador cansar
De dar a pata a quem lhe dá um porco,
Uma migalha a quem o abarrotar,
De prometer a quem já cai de borco.
A pouca grana que se deve dar
Nos levará, Estrategas, a bom porto.
Digam que a tanga é fruto duma crise
E na Grécia já fazem “stipetise”.

XXIV
Tais palavras dizia o engenheiro,
Os caciques instando a actuar,
Quando os deuses se ajuntam no estrangeiro,
Central Banco Europeu, seu doce lar.
“Se os portugueses gastam o dinheiro
- dizia Baco, pronto a atacar -
Em cimeiras e festas para quê
BPN, Alcochete e TGV?

XXV
Não é melhor, comer, encher a pança,
Em meu nome beber da pinga boa
E, em mentes o Zé Povinho dança,
Nós, deuses soberanos de Lisboa,
Pormos a sete os juros da fiança,
Cortarmos nos salários, tudo à toa,
Co’o apoio dos mandantes portugueses
«Tredores», que houve muitos, muitas vezes?”

XXVI
“Que dizes tu, ó Baco, deus do vinho?
- Retorquia Marte alvoroçado –
Façamos guerra do Algarve ao Minho,
Todo o caminho seja portajado
Ou vendamos-lhes algum submarino
Ou algum “caça” meio avariado.
Com’ àssim a pagar eles já não vêm.
Quem poderá pagar quando o não tem?

XXVII
É na guerra que está nosso sustento
E não nas festas onde a pinga abunda.
Numa festa o amor é um momento,
É, no silêncio, a voz, mas não profunda.
Ora, amar, na guerra, é eterno alento,
É vida, é paz, é luz que nos inunda.
Por isso, ó deuses, do Orçamento a guerra
Vai trazer todo o amor a essa Terra.

XXVIII
Assim, teremos controlado as contas
Co’ os impostos que o Povo vai pagar,
Depois do PEC, as marionetes tontas,
Em conjunto, terão que o aprovar.
Ficaremos gordinhos como lontras
E os lorpas, de mãos dadas, a abanar”.
“É minha opinião, ó grande Marte,
E sempre te amarei até que farte

XXIX
- Atalhou Vénus com rubor na face –
Que cuides de meter tanto veneno
Que ao Sócrates e Coelho o Fado trace
Toda uma guerra num ambiente ameno.
Eu providenciarei ao desenlace,
Proporcionando logo o acordo pleno
Que a paixão que os une é-lhes mais cara
Que o meio bilião de euros que os separa”.

XXX
“Confirmo – disse Merkel, sem surpresa,
Por Marte também ela apaixonada -
Se estes milhões são corte na Despesa,
Melhor fora dizer «não cortes nada!».
O que eles precisam é de guerra acesa
Que os expurgue dos boys, à vassourada,
Que reduza os chorudos ordenados,
Lacaios, assessores e deputados,

XXXI
Que acabe com mancípios, privilégios,
Os vencimentos das deslocações,
Subsídios fartos a ricos colégios,
Governos Civis e às Fundações,
Atribuição de apartamentos régios
A juízes e tantos figurões.
Por isso, Marte, apoia a inócua guerra
Que o amor virá depois a essa Terra”.

XXXII
Ouvindo tais palavras amorosas,
Foi Trichet, deus dos deuses, convencido
E alçando o rabo do assento em rosas,
Todo ele a punhos construído,
Deu a beijar as suas mãos mimosas
E o Concílio deu por concluído.
Ó deuses, pois mandais em Portugal,
Por que será que lhe quereis tão mal?

XXXIII
Ora a nave lá ia navegando,
Placidamente sobre as águas calmas,
Quando súbito, a sua vista alçando,
O vigia gritou batendo as palmas
E disse, algumas nuvens apontando
Negras e espessas como aquelas almas:
“Não teremos, ó nautas, salvação
A não ser co’uma tricoligação!”.

XXXIV
“Juntem-se os que foram e ainda são
Os garantes da nobre maioria!”
- Gritavam o Ramalho, o Amado e o vão
Portas, mais conhecido por Vigia,
Se bem que o que fizera até então
Fora apenas tratar da peixaria.
E a Selectiva Espécie Natural
Juntara-se a berrar a Nacional.

XXXV
E quando os gritos roucos entoaram
“Às armas, sobre a terra e sobre o mar”,
Os homens do convés petrificaram
E, olhando, aterrados, para o ar,
Viram que as velas se despedaçaram
Sob uma tromba de água a desabar,
Com gritos e blasfémias misturada,
Despejando-se sobre a marujada.

XXXVI
Trinta sóis do Natal eram passados
Os marujos remavam lentamente
Que os mastros tinham sido destroçados
Durante a tempestade precedente
E os mantimentos eram racionados
Pelos Mestres de toda aquela gente
A fome entre os grumetes era tal
Que se temia um surto canibal.

XXXVII
Tinham lançado tudo borda fora
Que as forças p’ra remar já lhes faltavam
Contudo, sem piedade, a toda a hora,
Os capitães de morte os açoitavam.
Desfeita estava a esperança de melhora,
Sem pão e sem razão todos ralhavam,
Só de esbanjar o Mestre não se priva
Num batel onde tudo anda à deriva.

XXXVIII
Porém, eis que de súbito aparece
Sob o sol moribundo a Ocidente
Como escolho que pouco a pouco cresce
Ou dorso de baleia reluzente,
Talvez a névoa que, em silêncio, desce
E na água pousa o manto transparente,
Talvez seja uma ilha abandonada…
“Uma ilha!? Sus! Remai marujada!”.

XXXIX
Sob o astro mudo a ilha dormia
Pisava-lhe a terra a tripulação,
Nas areias da praia não bulia
Nem um só ramo da vegetação
“E aquela quieta e sã melancolia”
Sufocava, apertando o coração.
Subitamente um vulto apareceu
Ágil, esguio e negro como breu.

XL
“Às armas!”- gritou logo o da vigia -
“Deixai… com calma!”- sossegou o Zé –
É um cão e juro que há muito que eu não via
Outro igual a ele. Que giro é…”.
Mas logo atrás dele aparecia
O perfil de um indígena, de pé:
“- Quem sereis vós que ousais pisar o chão?
Meu chão!..” - Pergunta a Sombra em seu jargão.

XLI
“É Sócrates!” – Diz Passos apontando –
Ele é o causador da situação.
Perdido como ele também eu ando
Mas não sou eu o Grande Capitão.
Indo ele à escola só de quando em quando
Nada aprendera de navegação.
Agora não castigues nosso engano
Porque culpado, aqui, é só o mano”.

XLII
“Tomei sempre as medidas necessárias
Como, no Olimpo, fora decretado,
As reformas de fundo foram várias
E, se ainda não foi remodelado,
Excepto em assessores e secretárias,
Meu camarim parece conservado,
Resta saber que rombos tem o casco
Que, a meu ver, já roçou muito penhasco”.

XLIII
Estas palavras Sócrates dizia
E mais falou da escola de sucesso
E quanto mais dizia mais mentia,
Virando as frases todas do avesso
Até que a sombra, enfim, com ousadia,
Adivinhando o seu arfar opresso,
Cortou: “nada temais, ó gente estranha,
Que já vi malta muito mais tacanha”.

XLIV
Depois, falou da terra onde nasceu,
Da raça de quem era suserano,
Das batalhas e guerras que venceu
Como chefe do povo americano,
De ter ideia, como Prometeu,
Que mais que os deuses vale o ser humano
E, contra a Tirania, o “fogo forte”
Aos homens vida e aos deuses dava a morte.

XLV
Falou ainda muito do seu cão
Que nadava com muita qualidade
Inda que fosse um pouco trapalhão
Ora devido à Naturalidade
Ora que fosse pela geração,
Em todo o caso tinha habilidade
P’ra ladrar em Inglês ou Português
Ou numa qualquer língua que Deus fez.

XLVI
Contou, em pormenor, sobre o Iraque,
O que fizera o seu antecessor
O qual co’ o “fogo forte” de um só traque
Arrasou as cidades do Terror,
Em vinte dias pôs um Povo a saque
E mandou enforcar um ditador
E foi com esse fogo belicoso
Que muito infiel partiu ao céu ditoso.

XLVII
Mais contou que não era qualquer drama
Ter morrido na guerra tanta gente,
Sendo certo que aquele que o país ama
Ficará na memória eternamente
E, se pudesse ser que ele, Obama,
Tivesse de avançar p’ra aquela Frente
Destruir-lhe o programa nuclear
Fá-lo-ia, outra vez, sem hesitar.

XLVIII
“Então és tu – diz Sócrates - o Obama
De quem se fala tanto em Portugal?
O mata-moscas de origem muçulmana
Que tanto ama o seu país natal?
Ó vida! Só a mim ninguém me grama
A mim que nunca fiz nada de mal.
Tomei sempre as medidas necessárias,
As reformas de fundo foram várias…”.

XLIX
“Não mintas mais, ó Pinto – disse Obama –
Que eu sei que és descendente de João Mentes.
No caso da “Fripor” ganhaste a fama
Que atravessou depressa os continentes,
Revolveste o teu couro em suja lama
E fizeste descrer todos os crentes.
Traíste os teus amigos mais leais
E, agora, ainda queres mentir mais?

L
Dizes tu que as reformas foram várias
E dize-lo com muita persistência,
Com leis e portarias tão precárias
Que só parecem justas na aparência,
Lesaste o Povo todo com sectárias
Nomeações por “alta conveniência”,
Aumentaste os políticos e os gestores
E trataste os fajardos por doutores.

LI
Prejudicaste toda a faixa etária,
Permitiste às empresas a insolvência
Abusaste em receita extraordinária,
Trataste opositores com insolência
E nesta enumeração algo sumária
Ainda estás à espera de clemência?
Ó promotor dos cortes salariais
Que nunca para Todos são iguais!”.

LII
“Meu Deus que eu não mereço esse trato –
Disse o Zé com um ar muito sentido –
Uma Cimeira vou fazer da Nato
Em Lisboa. Pois já terás ouvido
Que vestirei, por isso, o melhor fato
E, desde já, amigo, eu te convido.
Veremos quem será mais elegante
Pois no ranking do mundo o sou bastante.

LIII
Já tirei as medidas necessárias …”
“Tens é que as tomar – cortou Obama –
Que este mundo anda cheio de alimárias
E tanto nos aplaude e nos aclama
Como exibe posturas ordinárias
Ou simplesmente algum bombista chama.
Por isso trata lá da segurança
Em defesa da nossa velha Aliança”.

LIV
“Tomei sempre as medidas …”. “Alto lá!
- Atalhou Obama já zangado –
Não fales em medidas, por Allá!
O que tens é de ter muito cuidado
E comprar uns blindados, para já.
Tenho aí cinco que já pus de lado,
Mas tapa as etiquetas que eles têm
Para que ninguém saiba donde vêm.

LV
Pagarás com o pré do contribuinte
Que é funcionário e já nem o recebe.
Porquê cinco por cento em vez de vinte
Que lhe extrais do ordenado, se ele os bebe?
Nunca faças figura de pedinte:
Quem não ‘stiver contente, faça greve.
Se afirmarem que foram três milhões,
Tu dirás que são todos aldrabões.

LVI
Já que estou a falar de pagamento,
Ainda não pagaste o “softuere”
Que compraste ao “Billguei”, naquele momento
Em que a Lurdes foi tua “partenere”,
Porém não te incomodes que eu assento
Pois vais tudo pagar haja o que houver.
A verdade é que o preço dos blindados
Vai subir: por estudos realizados

XVII
Tanto na Grécia, França ou Inglaterra
Como na Áustria, Itália ou na Hungria,
As manifestações são como terra,
Aumentando a procura dia a dia
E em consequência o preço que ela encerra.
Impera em Portugal grande abulia
Mas diz-se que haverá greve geral
O que torna esta compra natural.

LVIII
Agora vou pedir-te, por favor,
Que me encomendes já o meu discurso
A falar dos perigos do Terror
E das “grandes opções do plano” em curso,
Para darmos ao mundo mais Amor
E usar a guerra só como um recurso…
Mas só por mim ele seja pronunciado
E não por nós os dois em duplicado”.

LIX
Atalhou o Zequinha que, a seu ver,
A vergonha do Campos e Mendonça
Não podia voltar a acontecer.
O azar, o bruxedo e a geringonça
Dês sempre a esta pasta foi bater
Mas esta é a Obra pública mais sonsa:
É Obra presenciar Ministro lendo
O que o seu Secretário ia dizendo.

LX
Qual seria o papel dos dois morcões,
Soletrando um discurso tal e qual
E no Dia das Comunicações
Transmitido p’ra todo Portugal?
Uma “gaffe” a lembrar as emoções
Do anterior Ministro, desleal,
A desmentir-se ao próprio e a si, Zé,
Com Alcochete sim, não e “jamé”.

LXI
O americano ouviu ainda mil
Lamúrias do Zezito com seus tiques
Das “reformas de fundo” e o subtil
“Medidas necessárias” p’ra caciques,
Saídos da neblina de um Abril,
Divulgarem em fartos piqueniques,
E, paciente, ouviu a história louca
Dos párias e do Fisco que os apouca.

LXII
Pouco a pouco o ar da praia arrefecia.
Chamou Barak Obama a comitiva
Que na sombra da mata se escondia
A qual, por sua própria iniciativa,
Cercou a armada lusa, em euforia,
Que dos “seus bons costumes” fez cativa.
A “caritas” entrou naquele batel
Preso, ali, por durável arganel.

LXIII
Enquanto os mantimentos se amontoavam
Carreados, sem cessar, pelos gentios
Para o porão, no qual já dormitavam
De sono e fome todos os vadios,
O Sócrates e o Obama conversavam,
Recostados na areia, reinadios,
Sem “uiquilique”, enfim, sem jornalistas
Mas orgulhosamente sempre autistas.

LXIV
Durante vários meses, os dois povos
Conviveram felizes, nas chefias,
Que os humildes, os néscios e os mais novos
Se apressavam, velozes, nas coxias,
Para atingir a popa, o céu dos probos,
E fazer entrar luz pelas vigias.
A engraxar urgia ainda o mastro
Depois de equilibrar, no fundo, o lastro.

LXV
Porém, para maior felicidade,
Devia ser tomada outra medida
Pois Obama, não vendo uma vontade
Do Zé em apressar a despedida
E a sua resistência à “caridade”
De lhe pagar a dívida assumida
E sabendo que tinha mais despesa
Tratou de organizar sua defesa.

LXVI
E a mais barata e simples solução
Que ele algum dia houvera imaginado
Consistia em falar-lhe ao coração
Onde ele tinha “um aperto” comprovado,
Quando sobre o Orçamento o seu sermão
Nas rádios e TV foi divulgado,
Não se sabendo ao certo se esse aperto
Provinha do conserto ou do concerto.

LXVII
Por seu lado, o Zezito bem sabia
Ter perdido o maior quinhão da multa
Que o Governo Civil ocultaria
A pedido dos boys e gente estulta
De Câmaras, Partidos, Confraria
De fanáticas áspides que insulta
Toda a Lei da Justiça e a Natural
Ao não nos tratar todos por igual.

LXVII
Só vinte e oito milhões foram perdidos
Por mera culpa destes responsáveis,
Além dos biliões dos evadidos
Dos lucros das empresas intocáveis
Mais os cinco por cento concedidos
Ao César dos Açores, ilhas prestáveis.
Ave, ditosa Pátria, minha amada,
Que ao pobre tiras tudo e ao rico nada!

LXVIX
Por isso, ao Zé, também não interessava
Sobrecarregar muito o hospedeiro,
Primeiro porque o Obama não fiava,
Segundo porque não tinha dinheiro
Terceiro porque, aos três dias cheirava
Tanto a visita como o carneiro.
Por isso, tomou ele a dianteira
Dizendo que ia ter outra Cimeira.

LXX
Na Justiça, além disso, as demissões
Forçavam seu mais rápido regresso
Pelo que eram muitas as razões
Para se dar início ao processo
De se aparelhar as embarcações
Sem, contudo, haver pressa em excesso
Que o maior inimigo do perfeito
É sempre mais a pressa do que o jeito.

LXXI
Durante cinco luas trabalharam
A restaurar o barco e sua gente
As tribos que na praia se ajuntaram.
Os mordomos, os amos e o Regente
Da Lusa Companhia descansaram,
Lassos de areia e festas eloquentes,
Até que numa bela madrugada
O Zezito subiu à amurada.

LXXI
Ou porque lhe admirasse o seu estilo
Ou, para isso, fora convocada,
Juntara-se a “maralha” para ouvi-lo,
Na praia, toda ela engalanada.
Havia aqueles que lhe deram o Asilo
E não faltava um só da marujada,
Em filas agitavam bandeirolas
E, dançando, bebiam coca-colas.

LXXIII
De súbito, um silêncio sepulcral
Abafou danças, vozes e bandeiras
Vindo abater-se sobre o areal.
Do seu corcel descia as estribeiras
Obama, o anfitrião, que de um sinal
Deu o seu aval ao Zé das cavaqueiras
E, metendo a mão esquerda na direita,
Abençoou o cão e a sua seita.

LXXIV
Explodiram as palmas e os “vivas”
Na nave e na Assembleia, em todo o lado.
O Zé passava a língua p’las gengivas,
Olhava o fato escuro, bem vincado.
Depois, ao fim de duas tentativas,
Abriu a boca muda e, animado,
Abriu também os braços e … sorria
E, enquanto ele sorria, já mentia.

LXXV
“Morningue tu dei ai not du futingue –
Abriu o Zé, fechando a um tempo os braços –
Ai héve note taime for smoukingue…
- A malta bateu palmas, dava abraços -
Bât mai costum iz naice… chip for holding
Ai secure… sank iú …” – e, de olhos baços,
O Zé humedeceu… e emudeceu
A terra da Fortuna e o povoléu.

LXXVI
O coração estoirava num aperto,
Numa angústia brutal, numa aflição
Pela total ausência de um acerto
Que o orador levasse à aplicação
De uma língua comum, como um enxerto,
Que desse às duas tribos compreensão.
Por isso, o difusor da anglofonia
Suava quando a boca se lhe abria.

LXXVII
E logo optou por dirigir aos seus
Alguns termos na língua de Camões
E ou que fosse o Diabo ou fosse Deus,
Mesmo por parte dos anfitriões,
Mal sua língua natal voou aos céus,
A praia redundou em ovações:
“Amigos, aqui estou!... os portugueses
Conhecem-me … bastante … há muitos meses.

LXXVIII
Não estamos em festa, mas em crise…
(Assobios romperam da assistência)
Nós não podemos ter qualquer deslize…
(A Assembleia aplaudiu em consequência)
Urge, então, promover que se analise:
Ou o nosso sacrifício ou a insolvência…
(As palmas não vieram das chefias)
Mas nada de tocar nas mais-valias!”.

LXXIX
Foi aqui que as chefias aplaudiram.
E a cavaqueira ainda se alongou
Pela manhã e, enquanto os chefes riam,
O Sócrates os braços apertou,
Cruzou e descruzou e já pendiam
Quando um ausente e fixo ponto olhou:
“Precisamos de ter tento na língua
Ou querem morrer todos à míngua?

LXXX
Algum bota-abaixismo corriqueiro
Tem grassado na praça de nós todos.
As “medidas difíceis”, em primeiro
São só sectoriais e não a rodos,
São “necessárias” como um sucateiro…
Não se deixem cair naqueles engodos
De que a crise é resolvida sem impostos
Pois viriam a ter muitos desgostos.

LXXXI
Saber ler, escrever, também contar
É o grande objectivo nacional,
Tal como, em tempos, disse Salazar.
O excesso de instrução é sempre um mal:
Do trabalho o mercado vai parar
Se não se promover um curso tal
Que permita um canudo sem escola
E que dê aos alunos uma esmola.

LXXXII
Já encomendei à OCDE
Um rankingue sobre a “nossa” Educação,
Com dados “nossos”, como manda o Zé,
E já temos a “nossa” conclusão:
O insucesso levou um pontapé
E o abandono já teve solução!
As reformas têm sido estruturais
E, em breve, nem é preciso estudar mais.

LXXXIII
Quanto ao Iva, não há qualquer aumento,
Mas tão só um acerto com a crise.
Ora, em particular, neste momento,
O Ministro … é preciso que se frise…
Das Finanças… é um barra… é um portento
E não há quem melhor o caracterize
Do que a bem conhecida Agência Lusa
Numa notícia que ontem foi difusa.

LXXXIV
Devemos ter orgulho em ele vir
Já na décima sexta posição
Dos melhores ministros… Omitir
Tão elevada consideração,
… “Dezasseis em dezanove” …era fugir
À nossa solidária obrigação.
À imprensa, também, os parabéns
Pois enaltece os “nossos” capitães.

LXXXV
Sinto-me muito triste e abatido
Por ver na Oposição tanta ignorância…
Como pode não ter reconhecido
Tanto trabalho a par da petulância?
Por não terem de Estado algum Sentido
Bem sei que lhes mostrei certa arrogância,
Mas hoje que não tenho a maioria
Não podíamos ter mais harmonia?

LXXXVI
Que culpa tenho eu que os Presidentes
De Câmara e esposas vão de férias
Ou em viagens mais e mais frequentes
Porque as Empresas de Águas sem Bactérias
Das quais eles sempre foram bons agentes
Lhas pagam e aos impostos não dão néria?
As empresas que são municipais
Tiveram sempre Estatutos Especiais!

LXXXVII
Como disse estou farto de ignorantes…”
Irromperam aplausos na assistência.
“ …Quero dizer… mas não nos governantes…”
Há palmas, mas de mera complacência.
“… Mas a minha resposta já a dei antes
E a minha resposta é a persistência…
Que esta nau entrará no bom caminho…
Bem sabem… Não há rosa sem espinho.

LXXXVIII
Ao contrário do “nosso” Magalhães
Que emigrou para além da Venezuela
Nós vamos encontrar as nossas mães
Descobrir um caminho para ela,
A Pátria, que hoje está de parabéns,
Pois restaurámos esta caravela,
O caminho da Net e não do mar
Para todo o meu povo navegar”.

LXXXIX
Mal disse estas palavras, o Astronauta,
Hoje em dia nomeado o Banda Larga,
Ergueu-se a Lusa Companhia, exausta,
Das escopetas dando uma descarga
E os nativos, marchando ao som da frauta,
Entoaram uma melodia amarga.
Subiu à barca, então, o bravo Obama:
“Se quiseres ficar, ninguém reclama…

XC
- Disse ele, olhando o Zé com alegria –
Não tens que aturar toda esta “tropa”,
Seguramente, o povo agradecia…
Não fugiu o Barroso p’rá Europa
E o Guterres, Constâncio e companhia?
Tu sabes, muita gente não te topa:
Começa tudo a arder, barbas de molho,
Em terra de ceguinhos, manda um olho!...”.

XCI
Porreiro, pá!... Mas não…, não trairei
- Disse Sócrates, muito emocionado -
Primeiro a minha terra, a minha grei.
De qualquer modo, um muito obrigado.
E juro-te que não me esquecerei
Do caso dos blindados… Combinado!”.
E a gente Lusa a nau aparelhou
E aos vivas dos gentios lá zarpou.

XCII
Dando a todos as ordens e os recados
À esquerda e à direita e aos do leme,
O Sócrates mostrava-se em cuidados,
Apesar de ser homem que não teme.
Pensava na “confiança dos mercados”
Naquela grande dívida que o espreme,
Pensava na proposta do Obama,
Que aceitava … se não perdesse a mama

XCIII
Dos negócios, naquela Pátria insana…
Ainda era uma coisa para ver …
E a Cimeira Ibero-americana?
Seria a ocasião para vender
Seja à pátria do Hugo ou à cubana
Alguns magalhãezitos, que é dever
De empresário do seu país natal
Do qual ele era o mais fiel zagal…

XCIV
Se, ao menos, se exprimisse sem problema
Na língua de Shakespeare, era assente
Que isso ia pesar muito no dilema,
Mas as línguas daquela Independente
Foram consideradas um eczema
Que a Oportunidade Mais Recente
Resolveu com imensa prontidão
Porque só isso é que era … Educação.

XCV
E a nau sulcava as ondas azuladas,
Como a Alice, “naquele enlevo de alma”,
As sereias cantavam, descascadas,
Que a nudez de princípios tudo acalma,
Os capitães untavam com pomadas
As costas e as mãos, com muita calma,
E “colhiam” dos dias “doce fruito”
“Que a Fortuna” não pode “durar muito”.

XCVI
O sol queimava o corpo e as ideias,
Mas, pouco a pouco, um espesso nevoeiro
Ia inquietando as míticas sereias.
Continuando a sonhar, o timoneiro
Tinha ordenado o assalto às ameias
De imaginárias torres de frecheiro,
Sendo a névoa o castelo assombrado
E ele, na tarde fria, o Desejado.

XCVII
A nau rasgava as vagas sem parar
Até que, com a maior serenidade,
Tranquilamente, a treva deu lugar
A uma inquieta e morna claridade
E sob o brilho turvo do luar,
Surgiu, em toda a sua majestade,
Por sobre a água clara e deleitosa
A sombra de uma ilha temerosa.

XCVIII
Lentamente, ancorou a caravela,
Mas, devido à estranha escuridão,
Tomaram-se medidas de cautela
No desembarque da tripulação:
Uma dúzia ficou de sentinela
Enquanto outros tinham por missão
Descarregar as arcas e os barris
Para aprovisionar… e os fuzis.

XCIX
Desceram os pioneiros com punhais
Juntamente com homens bem armados
Que formavam as filas laterais,
Enquadrando os paquetes carregados,
Desceram, logo atrás, os maiorais
Por mais outros gorilas escoltados.
Enfim, tendas montadas, uns comeram
E outros, na paz de Deus, adormeceram.

C
O quarto da modorra era passado
Quando se ouviu um grito lancinante.
Ergueu-se o povo luso alvoroçado
E, olhando as águas, viu muito distante,
Só as velas, no oceano encapelado,
E um sulco branco, ténue e espumante
Que a quilha traça quando ao mar se faz
E que persegue o ávido alcatraz.

CI
Na praia não restavam senão tendas,
As arcas, os barris e os capitães.
As caras dos doutores eram tremendas,
Sem batedores, sem armas e sem bens,
Sem soldados, sem guias, sem comendas,
Terrivelmente sós e sem reféns.
Olharam, aterrados, para o ar
E pediram a Deus para os salvar.

CII
Ouviu-se uma terrível gargalhada
Vinda do oceano imenso circundante
E uma enorme figura debruçada
Sobre eles, com voz rouca, praguejante,
Olhava a triste elite destroçada
Que ali jazia imunda, suplicante.
Na sua mão direita, um tridente
Assustava o medroso contingente.

CIII
Esverdeado era o seu cabelo,
O tronco desmedido, colossal,
As barbas transparentes como gelo,
Dos queixos e da boca um caudal
Escorria de baba de camelo,
O olhar era vítreo, abissal,
O corpo todo nu, a voz tremenda
Soltou do peito, grossa, fera, horrenda:

CIV
“Eu sou Neptuno, sumo deus do mar,
Aquele que vós traístes, não cuidando
De a flora e a fauna conservar,
Os pescadores andastes explorando
Em vez de as minhas águas explorar
E alimentar o povo miserando.
E porque, para ele, fostes traidores
Aqui vos pus na Ilha dos Horrores”.

CV
“Mas aonde foi a nau e os meus bens?”
- Inquiriuu o Zezito, ousadamente –
“ Não imagines tu o que não tens
- Retorquiu-lhe Neptuno, asperamente –
Que a nau que dirigias com reféns
Será sempre do Povo, eternamente.
O Povo é que a dirige e a sustenta
E não o teu comando que a atormenta.

CVI
A nau está agora em boa mão
Que a terra é só de quem a trabalhar.
O rato e o capitão, diz o rifão,
São os últimos, sempre, a abandonar
O barco quando ele está em aflição
E muito perto já de naufragar.
Ora tu, ó ratão, foste o primeiro
Por isso não és dela seu herdeiro.

CVII
Foge, portanto, antes que te mate”.
E levantou bem alto o seu tridente.
Correram os mesquinhos a rebate,
Um e outro empurrando o precedente,
Virando todos costas ao combate
Cada qual por pirar-se impaciente
Até um lodaçal onde pararam
E, asquerosos, aí se espolinharam.

CVIII
E eis que súbito, olhando em redor,
Viram sobre um rochedo uma figura,
No olhar sendo visível grande dor.
Talvez Amor marcado p’la amargura
Os Erros, má Fortuna ou o que for
O teriam levado à sepultura
Que era mais viva a pena que o habitava
Do que o corpo que a ela se agarrava.

CIX
Uma coroa de louro sobre a fronte,
Numa mão tinha a pena e noutra a espada,
Um olho contemplava o horizonte,
O outro era uma pálpebra fechada
E, olhando o fraco grupo ali defronte,
Proferiu, com voz triste e apagada:
“Sou o grande Camões, homem sem sorte,
Aquele em quem poder não teve a Morte,

CX
Aos Céus me hão subido, onde sou deus
Embora esse estatuto mo tirassem,
Meus versos eram lidos nos liceus
Até que, com reformas, transformassem
As escolas em circos e museus
Onde o ensino e a cultura se atolassem.
Fostes vós que causastes este Inferno
Votando ao esquecimento o que é eterno.

CXI
Tenho pena de não usar a pena
Para com ela vos dilapidar
Mas de Minerva a sua voz amena
Impôs aos mortos não participar
Naquela vida que chamais terrena
E que, para nós, não vai mais voltar,
Mas, se a pena da esquerda é interdita,
O uso da espada Marte mo permita.

CXII
A “glória de mandar, a vã cobiça”,
O crime da influência e a corrupção,
A avareza, a mentira e a injustiça
Acorreram em vossa perdição,
Uma trama de casos vos enliça
Merecendo a mais alta punição,
Assim, hei-de matar-vos, já predigo
Ou “acabe-se esta luz, ali, comigo”.

CXIII
Por isso, incréus, passai daqui ao largo,
Que a paciência tem o seu limite
Se não qu’reis conhecer o gosto amargo
Desta lâmina a cujo apetite
Eu nunca ousarei pôr algum embargo
Que se trate de párias ou da elite.
Ao largo, pois, vos digo, fariseus,
Ou vos matarei todos, juro a Deus!”.

CXIV
Não era ainda a frase terminada
E já se iniciara outra corrida:
Fugindo não à pena, mas à espada
Que mais que a honra lhes valia a vida,
Sócrates ia à frente da manada
Porque era mestre de armas nesta lida,
Atrás seguia o Passos, ofegante
Como convém a todo o ajudante.

CXV
Impossível seria descrever
Tantos horrores por que passou o bando,
Sendo os boys quem mais veio a sofrer
Pois, de longe, já vinham tropeçando
Na natural viagem do Poder,
Mas de tudo o que ali se foi passando
Pior é “experimentá-lo que julgá-lo
Mas julgue-o quem não” quer “experimentá-lo”.

CXVI
Quarenta noites e quarenta dias
Vagueou a medrosa potestade
Por desertos, por matas, serranias,
Com fome e frio e sem civilidade,
Angustiada com as profecias
Que Camões anunciara sem piedade.
Contudo o que os humanos não sabiam
É que os deuses, no ilhéu, se divertiam.

CXVII
De facto, enquanto a heróica Caravana
Galgava, a medo, terras pantanosas
Ou abria caminhos na savana
Povoadas de serpentes perigosas,
Temendo mais o gume da catana
Do que o morso de aranhas venenosas,
A imagem de Neptuno e de Camões
Acossava a cambada de poltrões.

CXVIII
Quando a Corja era à vista, se escondiam
Os deuses que, com risos delirantes,
Divertidos, por turnos se escolhiam
Para assustar, de novo, os meliantes
E os fazer correr enquanto os viam
Até caírem gastos, ofegantes.
Depois, era deixá-los levantar
E, entre outros animais, desesperar.

CXIX
Foi assim que “os heróis” tendo alcançado
Um ribeiro entre abruptas penedias
Para se lavar da bosta e vomitado
E muitas mais outras porcarias
De que o grupo seria agraciado
Pelos deuses, nas suas caquexias,
Lhes apareceu, súbito, Vulcano
Com ar feroz, mas calmo e soberano.

CXX
“Olha, cá está o nosso amigo Obama!”
- Disse o Zezito para os seus botões –
“Obama, não, ó tu, monte de lama
- Parecendo que o deus lera nas feições
O claro pensamento do “da mama”-
Eu sou o deus do fogo e dos vulcões,
Aquele que veio à Terra disfarçado
Para se decidir teu triste Fado.

CXXI
A Wikileaks diz, e com razão,
Que em Portugal passaram prisioneiros
Para Cuba, deixando o seu torrão,
Além disso, tu foste dos primeiros
A mandar tropas p’ró Afeganistão,
Só tens negócios com os sucateiros,
No teu sangue só ferve o fogo forte
E o fogo com que matas dá-te a morte.

CXXII
Portugal foi por ti ludibriado,
Que esta malta à mentira é predisposta,
Crescendo-te o nariz demasiado
Assim como em Pinóquio, a tua amostra,
E tanto dele fizeste um aliado
Que a tua enorme nariganga “posta
Entre a Terra e o Sol”, como um taipal,
O eclipse só podia ser total”.

CXXIII
E a vós, ó sanguessugas do país,
Habitantes da Ilha dos Horrores,
Cortar-vos-ei o mal pela raiz
Pois já basta de tantos comedores.
O Povo é que vai ser vosso juiz
Que no Forum se julgam os traidores.
Aos deuses vós queríeis ser iguais,
Mas não passais de meros animais.

CXXIV
Por isso, eu digo que é tempo de correr
Por montes e por vales, alcateia,
Pois sei que tendes medo de morrer
Ou pavor de irdes presos p’rá cadeia”.
Correi anjos da morte que o Poder,
Efémero, é certo que escasseia.
Correi enquanto é tempo e o Tempo corre,
Correi, que a minha arma em vós não borre!”

CXXV
Não havendo mais nada p’ra dizer
Recomeçou, de novo, a Odisseia,
Continuando os burros a correr
Com medo de uma nova Patuleia.
Como correm não posso descrever
Pois, não sendo Camões, não tenho a veia,
Mas, como nas histórias infantis,
Sei que correm por vales e alcantis,

NAS PAISAGENS VIRTUAIS DESTE PAÍS

Manuel Dias Baptista

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Imprevistos

Todos esperávamos a chuva e as pressões (Baixas penso) estão desaustinadas. O céu passou por todas as cores e o vento ameaçou. Pensava que era 22, quarta, mas é já 23, quinta-feira. Depois de recuperar o cartão com chip electrónico perdido por erro de velhice (2 anos) Banto, traduzido no ATM do SB, comprei Palmiers no Delícias e passei a taxi do mercado central. Pilhas a 2,5 Meticais. Sandálias de plástico. Avanço para a Temba, passo sem interferencia da Polícia de Trânsito, ou outra, arrumo no terreno bem limpo. O que se faz? Nada, só, está-se! Mas cada gesto contém um significado insuspeito! A maneira de gatinhar da criança, anuncia a vinda de hóspedes!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Construção tradicional

São cinco horas e trinta da manhã e o sol ainda não ultrapassou a linha do horizonte, mas muitas pessoas trabalham já no Mercado Central a montar novas bancas. Dirijo-me para o porto das madeiras, onde chegam as canoas de Inhassunges carregadas de vários tipos de paus. O estaleiro é grande, muito movimentado já a esta hora, com pilhas de vários tipos de varas e paus mais fortes. Os homens descarregam as canoas e transportam as pilhas de varas à cabeça, para um local mais acima, onde carregarão os “tchovas”, carros de ferro com 2 rodas puxados à mão; daqui passarão para os vários mercados da cidade, onde os compradores adquirem a matéria prima para construir as palhotas – há muita construção em Quelimane!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Chuva tropical

O coaxar das rãs e sapos é ensurdecedor, alternando com o gri gri dos grilos e cigarras e temperado pelo chilrear de vários pássaros. Algumas galinhas e pintos piam e agitam-se na procura de poleiro, as ruas dos bairros estão totalmente alagadas, muitos quintais e algumas casas também. As crianças continuam a circular, chapinham e brincam aos equilibrios sobre as àguas castanhas, enquanto algumas gotas finas vão caindo quase ininterruptamente. Algumas pessoas, de calças e capulanas arregaçadas, circulam cuidadosamente com água pelo joelho. A loiça do almoço lava-se agora à porta de casa, no lago do pantanal! O céu está cinzento prata com nuvens cinzento platina, o verde das palmeira mais vivo da água, temperatura agradável a 3 metros de altitude.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Fim de tarde

Sem dar por nada, o tempo passa rápido. Ao fim da tarde o Mercado Brandão está cheio de gente, colorida e circulante, a pé, de bicicleta, mulheres com filhos nas costas outras carregadas à cabeça, todo o tipo de mercadorias à vista, homens descarregam camiões e transportam volumes incríveis. O jeep avança lento alternando lombas e buracos, desviando camionetas e motorizadas. Os ananases estão a 30 meticais, ao lado do Malambe, Mandioca, Nhocas, carvão, roupas, sapatos, sacos e infinidade de produtos. Mais à frente, amendoim e muito feijão, vermelho, castanho, creme e amarelo. Moçambicanas muito lindas abundam, crianças ainda mais por todo o lado. Muitas penteiam-se umas às outras, sentadas nas esteiras dispostas no chão de areia dos recintos das casas.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O que se passa...

Mil noites, mil e um dias, muitas mais vidas, muitíssimas mais histórias, um sem número de emoções, sensações nem digo. Outra coisa são as ideias. Nascem por todo o lado, como as flores, lindas. Florescem, algumas frutificam.

O que se passa...

Mil noites, mil e um dias, muitas mais vidas, muitíssimas mais histórias, um sem número de emoções, sensações nem digo. Outra coisa são as ideias. Nascem por todo o lado, como as flores, lindas. Florescem, algumas frutificam.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Tratamento social

A “Matoa” é uma das doenças frequentes na Baixa Zambézia. A Nganga dirige-se para a casa da pessoa doente, acompanhada de 10 mulheres e 10 homens. Ficarão a comer e a beber, a dormir, dois dias, para realizar toda a cerimónia; o dono da casa deve fornecer todo o necessário. Os homens tratarão dos batuques quase em permanencia, as mulheres dançam e cantam. Paga-se 2.000 Meticais por dia, portanto quatro mil, que a Nganga depois repartirá com os 20 membros do grupo. A pessoa ficará bem, sem doença, durante 3 ou 4 anos, mas pode ter uma recaida. Se tiver um segundo episódio de Matoa, fará um segundo tratamento, semelhante ao primeiro. A partir daí, o paciente fica transformado – dizem mesmo em chuabo, diplomado – tratador de Matoa. Passa a ser ele a resolver o mesmo problema a outras pessoas!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A Cidade de Pó


Fino e brilhante, cobre tudo. Ondulante como dunas, penetra em todos os recantos. Levantado pelo vento, chega a todas as alturas. É o que resta de milhões de anos de erosão, antes e depois da erupção do Grande Rift, de pedaços do paraíso. O céu fica muito cinzento, parece que está a anoitecer mas ainda é cedo na tarde. Um relâmpago. Um trovão, como se não ouvia já há meses. Algumas gotas caem dispersas.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Início do ciclo

Sai-se da estrada principal à esquerda, pouco depois da placa de Quelimane, já em Namacata. Algumas casas térreas de alvernaria, palmar misturado com mangueiras e outras árvores grandes, pista com bastante areia e irregular atravessa zona baixa de machambas, entra-se em nova zona de floresta. Várias palhotas, bem espaçadas, cada grupo de 2 a 6, algumas muito elegantes, raras casas de alvernaria com cores garridas. O sol ainda não nasceu e há poucas pessoas, algumas crianças. Arrumo o carro. Caminhamos na floresta, paralelamente às terras baixas, no limite das casas. Bambus e bananeiras enfeitam a paisagem. Entramos na vastíssima zona plana, só de erva, terra crestada de enormes gretas, grandes torrões secos, quase por todo o lado. Tomamos carreiro que segue por cima de divisões de machambas, algumas já com a terra cavada e o capim seco ou queimado. Muito ao longe vêem-se, aqui ou ali, um ou dois vultos. Agora é a altura apropriada para preparar as machambas de arroz; pode-se comprar uma; não tem documento, não é “legal”, mas de facto o que conta são os testemunhos “orais” dos vizinhos; acham que o estado ou o governo não tem nada a ver com isso, que a população toda sabe muito bem que aquelas machambas já eram deles muito antes de tudo. O sol já nasceu mas está enovoado e o calor ainda não aperta muito. É longe, caminhar na terra seca, aos torrões que se esboroam imediatamente, há que manter o equilíbrio. Por fim, a machamba da mãe, que de facto tinha dado algum trabalho a encontrar, mas que está já, após 2 dias de acção, mais de metade cavada. As enxadas são muito curtas e o trabalho faz-se curvado. Vão circulando alguns comentários em Etxwabo e algumas risadas. O sol começa a desafiar. Vai ser só água, dois pães pequenos para cada um, a dar na terra até acabar, lá para as 18. Entretanto há já algum capim para queimar. Depois logo na primeira chuvinha, lançar a semente.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ten years after

Sem brigas, pela simpatia das pessoas, pelos desenvolvimentos naturais das acções, o vento moderou o clima e está-se quase completamente bem. Então, parece que por consequência directa, aparece a reflexão sobre porque não mais meditação, análise, síntese, conclusão, proposta, edição, divulgação – influência das redes sociais? Claro, sei perfeitamente o valor e a insignificância dos grandes livros. Mas quem poderá avaliar precisamente os efeitos directos e indiretos das ideias propagadas em palavras numa determinada conjuntura e tempo?
Deparei há poucos dias, quando visitava sites com Probarroso na internet, com a acta da Assembleia Municipal de M em que a Câmara pede a saída da associação. Penso que muitas pessoas e organizações podem atestar e reconheceram o enorme trabalho que aquela associação fez em favor do desenvolvimento sustentavel do Barroso – existem hoje muitas resultantes activas do seu trabalho. Então as mentiras que o Presidente da Câmara apresenta como “verdade verdadinha”, que a própria Assembleia denuncia como uma perseguição pessoal, destinam-se a “queimar” o “herege” Paulo Pires. Esta perseguição manteve-se durante 5 anos, sistemática, até chegar ao caso caricato da Clicoopsa, projecto de clínica cooperativa de promoção da saúde, tratamento e reabilitação: projecto de arquitectura aprovado, estudo de viabilidade económica realizado e eficiente, financiamento conseguido, terreno adquirido, em Salto. O PC recusa passar a liçença de obra enquanto o Dr. Paulo estiver à frente do projecto.
Pequenas estórias do quotidiano ou do Zé Ninguém. No entanto são todas estas gotas que fazem transbordar o copo. Este é mais um caso banal, dos muitos que constroem a crise financeira global. Atraso do desenvolvimento, prisão da iniciativa, poderes usurpados que impedem a criação de emprego e a melhoria da economia das famílias. O PC tinha 4 BMW. O grande capital, ganha sempre, mais ou menos; depois os políticos, ganham sempre, mais ou menos; quem se lixa? Toda a gente sabe: a classe produtiva – aqueles que só sabem trabalhar. A classe produtiva deixa-se levar pelas imagens do consumo aspirando a ser claro “ricos”! O círculo vicioso está criado: trabalhar para consumir, consumir sem regra ou critério, saqueando rápidamente todos os recursos. Precisamos de um novo “livro da consciência”!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Quelimane

Levantar às 13, pequeno almoço de fruta. Pela rua de alcatrão esburacada, pela estrada nova alcatroada, pela outra rua de terra de lombas e valas de matope, até ao recinto nas trazeiras do Mercado Central, agora também transformado em terminal de transportes, obrigado pelas obras na rua central. Os “chapas” de Lualua ou Liquari, apregoam destinos. A drenagem da água do buraco central da zona está em curso, vários homens atarefados, máquina em movimento. Passam muitos taxis bicicletas, alguns com passageiros, que desmontam, outros com cargas, de todas as qualidades – levantam as bicicletes ao passar sobre a grossa mangueira de água. Um ou outro faz batota. Um pedinte, cheira a álcool. Batatas, couve, pimentos, alface, galinha. Café expresso e água pequena na Lanche Net, a ver as Muzubias passar, algumas bem feitas, outras bonitas, outras sem mais, outras feias. De quando em quando um carro acelerado levanta poeira. A tranquilidade do estar.

Les grands voyages

10 de Agosto de 2010

Safari Tanzania 1
Saída na terça-feira muito cedo de Quelimane, ainda noite, nevoeiro baixo, pelas longas rectas em cima do velho dique. Em Africa, dizem que é aconselhavel só viajar de dia, assim quanto mais cedo chegar ao destino, melhor. Paragem em Nicoadala para incorporar H – preparativos demoram até ao nascer do dia, pequeno almoço e outros. Arranque em boa ordem, sempre a 90 em estrada de piso regular, música de radio, percorro a baixa Zambézia, verde e plana, passo Namacurra, vários rios, começam a aparecer ao longe alguns picos rochosos e após 1h 30m, sumo e café na pequena cidade de Mocuba. Tento telefonar ao I para combinar o encontro com o H. Os telefones, como é hábito, não funcionam. Atravesso o Rio Licungo pela velha e comprida ponte de engenharia portuguesa, mais 10 km muito bons, rectas ondulandes, depois em Mugeba pista má, estrada cheia de buracos, mais que péssima, velocidade 30 km / hora, segunda, raramente terceira. Estamos já em plena Alta Zambézia e lá muito ao fundo no horizonte o Monte Namuli, por tráz do monte Erego. Paragem para compras de géneros no cruzamento de Nampevo. Ao arrancar, o motor já não pega, parece que a bateria não funciona: abrir capôt, borne solto, impossível de apertar com chave; a fixar à mão em cada arranque, com o capôt aberto! Chato. Uma hora e meia de boa estrada, montes e colinas, até ao petisco no Molocué, onde mora o H; o Glorioso despacha rápido, compro os ótimos amendois a 5 meticais o “vidro” na banca do cruzamento principal. Mais quente ainda até Alto Ligonha, janelas abertas e muito vento e são outras 2 horas até à cidade grande capital do Norte. Como sempre, muito movimento, camiões carregados, centenas de bicicletas e motorizadas, milhares de pessoas, fábricas, comboio, sinais vermelhos. Chego directo no bairro em Nampula, ruas cheias de lixo, barracas de palha, bloco e tijolo, vendas de tudo, roupa, sapatos, malas, capulanas, produtos de limpeza, quinquilharia. Procuro sítio para dormir, está tudo cheio; a única possibilidade, fraca, é por trás do mercado municipal; preencho a ficha e deixo o saco. Passo para a reunião com o I, no Sporting, para falarmos sobre o contacto do colega para a montagem de laboratório na “futura clínica” de Quelimane. Jantamos com um grupo de amigos dele, antigos colegas também, muito bem dispostos e com boas histórias, da vida e de Moçambique, de tradições e factos insólitos. Mas o descanso é merecido e retirome cedo que amanhã é outro dia. São só os primeiros 600 km de viagem. Dou umas voltas nas ruas centrais, ver o movimento, pouco e passo para a residencial Muz que se faz tarde.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Le paradis est ici

11 de Agosto de 2010

Hoje é quarta-feira e na hospedaria não servem “mata-bicho”. O carro está guardado no pátio interior, desta vez não lavaram. Pago, abaixo da tarifa porque o quarto não tinha água corrente (duche de caneca, etecetra). E saio, ainda de manhã cedo, para café e entrevista telefónica com 3 colaboradores da ONG (sediada em Maputo), no Sporting, durante cerca de uma hora – candidatura a posto de trabalho em Moçambique, nesta organização americana. Cumprimdo a velha máxima trabalho = férias, férias = trabalho (pouco mais ou menos o paraíso é mesmo aqui). Visito o Museu de Nampula, exposição da etnografia Moçambicana do Norte e Centro, com os ateliers de artesanato no pátio trazeiro, escultura em pau preto predominantemente Maconde, alguns batuques e outros instrumentos, ourivesaria. A partir de agora, junto à costa e já em preparação do Swaili Tanzaniano, a expressão chave é: Salamalecum! Malecum salam! Depois saída de Nampula, boa estrada a descer em direcção a Nacala e ao litoral, compro castanha de Caju, viragem à esquerda em Namialo, mercado cheio de gente; paragem em Nacaroa para comprar duas esteiras, estrada piora, Namapa, atravesso o Rio Lúrio, entrando em Cabo Delgado; Ocua, Chiúre, viragem à direita em Metoro e chegada a Pemba já de noite. Tenho um quarto no primeiro andar do Wimby Sun, junto ao Diving para ver se amanhã há possibilidade de mergulhar; estamos na época baixa, não é difícil encontrar alojamento aqui. Foram mais 400 km hoje, estão feitos os primeiros 1.000 km do Safari Tanzania.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Is there anybody

12 de Agosto de 2010

Em Pemba, Wimby Beach, a Arquitecta R vem me buscar ao hotel no seu mini jeep e leva-me para o centro da cidade, sempre junto à marginal, à conversa na sua viatura TT. No centro dos centros, tentativa de acesso à internet (para aceder ao Plano de Maneio da Lagoa, enviado de Maputo) falhada. Almoço junto ao mar, vista explendida, mas serviço exageradamente lento; quase que desisto – escândalo? Ma non tropo! Acabo por comer. Peço desculpa, novas tecnologias da comunicação apoiadas nos ditos “telemoveis”, porque vou chegar atrasado. A Reunião com a D sobre a EETLK, Parque Nacional das Quirimbas, decorre calmamente, sem problemas, muito cordial, durante uns 90 minutos. Volto para Wimby e vou ver o P no Pemba Diving: mergulho só talvez amanhã; mas não é certo, se calhar só de tarde. Avanço, praia fora maré baixa, para uma visita ao barco do G; subo a escada e depois de circundar o convés sento-me à mesa dos mapas; chegam D e B, falamos sobre os cabos, as roldanas, as velas, a impermeabilisação, as âncoras. O sol chapa forte. O veleiro está encalhado na areia da praia vazia. Regresso ao Hotel para uma pequena sesta. Bate o vento, abre o apetite e há que sair para jantar. Muito perto, sempre animado, em cima da praia, música ao vivo - embora um pouco spaced out - está o Dolphin, mosquitos não largam, chega o R. O serviço está um pouco desleixado. Mergulhar não vai dar. Então, let´s go north! Cama, que amanhã há muitos kilómetros para fazer. Tarefas cumpridas, let’s go exploring!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Terras Maconde

13 de Agosto de 2010

Saida de Pemba cedo, velocidade constante, boa estrada para o interior, savana e floresta secas, virar à direita em Sunate, passar a floresta mais densa e verde do Parque Nacional das Quirimbas, para Macomia. A partir daí a estrada está péssima, até Chai e ao cruzamento para Mocimboa da Praia; viro à esquerda para Mueda, sempre pela estrada principal, um pouco melhor, que vai subindo lentamente, até avistar o planalto. Subida ígreme e estamos no famoso planalto Maconde, grandioso, pouco mais à frente a vila de Mueda, sede de Distrito; foram mais 400 km em 5 horas. Re-atesto o depósito de diesel, encomendando logo o “jantar” ao Sr. Coelho, antigamente no bar da estrada no cruzamento de Macomia, agora na pensão para a dormida, em Mueda. Uma boa galinha assada, batata frita e salada, laurentina bem gelada, café. Depois um passeio a pé pela rua principal, muita gente no mercado, ambulância a entrar no Hospital, bicicletas muitas e motorizadas algumas, carros (carrinhas de caixa a maioria) poucos; pela areia, andando lentamente até ao fim do alcatrão, onde se encontra a antiga casa da administração portuguesa. Moradia pequena, branca, local do histórico “massacre” – tem um museu, mas já era tarde e estava fechado. Desvio 100 m a Sul, estou sobre a linha de crista do planalto: ao longe e em baixo, a paisagem da planicie de savana estende-se a perder de vista. O sol já se pôs, em tons lindíssimos, está na hora de regressar, calmamente sem pressa e de ir dormir. Amanhã há que levantar muito cedo; porque até aqui, o percurso já era bem conhecido; mas daqui para a frente, está tudo por descobrir!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Mambo

14 de Agosto de 2010

Sábado. Saio muito cedo, alvorada a despontar. De Mueda até Negomane, são 150 km de pista, razoável em geral, maior parte de areia, sempre para o interior, que se vai aproximando a pouco e pouco do grande Rio Rovuma, percurso feito em 3 horas. Passamos Gungure e Nazombe, descemos o planalto e abordamos pequenas colinas, curvas e piso rochoso. Depois existem 4 ou 5 bocados muito maus, perigosos mesmo: pó vermelho finíssimo, aderencia zero; em terceira a 60, deslize à direita, saída da pista com subida da berma, sem árvores, estabilização, paragem, retomo a via principal. No problem! Raros macacos (2) e muitas queimadas, cinza, carvão, fumo em alguns sítios. De repente, galga-se da pista para uma recta perfeita de alcatrão, com sinalização muito bem pintada (financiamento chinês). Lentamente, ao longe, aparecem 2 enormes presas brancas verticais - imitando os dentes de elefante, marcando a travessia. A passagem do posto fronteiriço moçambicano, perto da vila de Negomano, pelas 8 h, faz-se sem dificuldades e a Ponte da Amizade, obra bela de estilo e forma, leva-nos até ao lado norte do largo Rio Rovuma. Em Masuguru, o visto são 50$US, o seguro do carro 25 e o Boletim Internacional de Vacinas controlado para a Febre Amarela. A revista do carro é anunciada mas simbólica. Mas o número de motor é metódicamente verificado tendo sido detectado um erro de transcrição – corrigido sem mais problemas. Seguem-se 40 km de pista média, não se enganar nos dois desvios, até um cruzamento principal onde a estrada está em construção (Nangomba) e voltamos a apanhar bom alcatrão, mais 70 km, até Masasi. O ATM do Banco funciona com VISA, mas como não há valores cambiais à vista, está um caos para as contas. Mais 124 km de alcatrão regular, bonitos montes e palmares, aldeias com cabanas e barracas idênticas às de Moçambique, até Lindi, já na costa, com praia e larga baia de mar azul. O vento é fresco. Total percorrido hoje, 400 km, ainda é dia, procuro sítio para dormir. Hotel na praia, 85.000 Sh, muito caro. Vejo preço do diesel, confirmo o valor do dollar (1$US=1.540 Shilling). Tiro 150.000 Sh no ATM e atesto o depósito. No Adela Lodge tem um quarto a 15.000 Sh, com casa de banho privativa e água quente. Peixe e batatas fritas, molho picante, cerveja gelada. Soube muito bem. Mas o corpo pede o descanso.
Para já preciso das expressões básicas para comunicar. Em Swaili, obrigado diz-se ASSANTÉ, e muito obrigado, ASSANTÉ SANA!
Bonitas palavras em Swaili são:
MAMBO !? (= Como está?);
BOA (= Bem);
KARIBU! (= Bem vindo).

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Pista terrível

15 de Agosto de 2010

Domingo. Preparo-me psicológicamente para mais 464 km de estrada africana, percurso para Norte, paralelo à costa, de Lindi a Dar es Salam. Retiro mais 150.000 Sh no ATM e faço os primeiros 250 km em estrada de alcatrão boa, com exceção das lombas altíssimas e estrias repetidas muitas vezes, em todas as aldeias, que parecem desfazer o carro com a vibração. Muita atenção, alguns camiões de longo curso, as galinhas e as cabras atravessam a estrada nas aldeias, causando algum slalom! Então aparece talvez o pior de todos os bocados de pista em Ndundu: estrada em construção, picada alternativamente de um lado ou do outro, de areia funda, solta, muito irregular, lombas e valados, buracos inesperados não assinalados, sobe e desce, cerca de 60 km em primeira e segunda, quase 3 horas. Cruzo vários rebanhos de gado, caprino e bovino, com os seus pastores. Esta parece ser uma zona inundável na época das chuvas. Seguem-se cerca de 160 km de estrada boa, onde cruzo vários “Masai” reconhecíveis pelo seu singular padrão de vestir (capulanas vermelhas e em tons de azul, pau na mão). Sempre muita gente nas aldeias, bastante pobres, alguns macacos aparecem na estrada perto. Até à abordagem da periferia de Dar, muitos kilometros quadrados de bairros de lata no meio do palmar, dezenas de pequenas colinas, o mar não muito longe, primeiro engarrafamento: um caos de muitíssimos “chapas” e outros, que triplicam e quadriplicam as filas, cortam e invertem, grande barulheira e confusão, 20 minutos para avançar 500 m. Procuro ajuda para chegar a Starlight Street, que fica perto da pensão indicada pelo Dominique. O guia local é agradecido com 1.000 Sh e há 1 quarto livre no último andar do Hotel Holiday, no bairro antigo no centro de Dar. A direcção do carro está muito pesada, deve haver algum problema, verei amanhã; é tarde, noite e estou cansado; também o borne da bateria deverá ser substituido, para evitar ter que abrir o capot de cada vez que tenho que por o carro a trabalhar; o carro está sujíssimo, poeira e areia aos quilos por todo o lado, necessita uma limpeza geral. Amanhã em Dar será o dia para a mecânica! No Holiday Hotel o quarto está a 30.000 Sh, sem pequeno almoço, mas é bastante limpo e tem um terraço com uma vista explendida para as ruas da cidade e as mesquitas. Estamos no Ramadam e os “Moidzin” competem no apelo às orações, através dos "alti-falantes" colocados no alto das torres das Mesquitas. Lavar roupa e jantar no restaurante muçulmano na rua em frente ao hotel: sumo de laranja e boa comida. Totalizo aqui 2.285 km desde a saída de Quelimane. Apesar de não ser a Capital da Tanzania (que é Dodoma, quase no centro geográfico do país), Dar é a maior cidade num raio de vários milhares de quilómetros rodoviários ou marítimos.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Swaili

16 de Agosto de 2010

Com a ajuda do rececionista do Hotel, pago ao guarda nocturno da viatura 6.000 Sh e chamam-me um mecanico para ver o carro, que identifica imediatamente o problema: bomba de direcção com eixo partido. Chama o irmão que fala inglês, orçamento da peça 100 $US (150.000 Sh na casa de câmbio), mão de obra 50 $US, diz que fica pronto em 1 hora. De acordo, chamamos um taxi e vamos ao mercado de peças labiríntico comprar aquela. O mecânico já tinha desmontado a bomba, volta a montar rápidamente, em plena rua, passantes nem reparam. Taxi, 6.000 Sh, óleo de direcção 5.000 Sh, despejo mais 2 l de óleo motor, substitui o borne da bateria, está ótimo. Entretanto, 100 Sh à hora de parqueamento, os empregados municipais colocam regular e compassadamente as senhas quadradas de papel nos para-brisas. A rua e toda a zona é muito movimentada a esta hora da manhã, pessoas e viaturas em circulação constante, bicicletas, muitas motorisadas, carroças e todo o tipo de pequenos transportes. Procuro um "car-wash" - a lingua inglesa predominante no comércio, saio do bairro velho por uma avenida principal, 4 ou 5 km mais à frente já lá estamos: lavagem geral, interior, exterior e motor, assisto sentado num podium à sombra, 20.000 Sh; lubrificação 5.000 Sh, revela que não tem oleo na caixa nem nos diferenciais: compro 10 l, mais 55.000 Sh. Enquanto espero, saio na ruela em frente, pequenas lojecas, compro um cartão para o telemovel com um número tanzaniano – Tigo! O moço instala tudo, está pronto a funcionar. O cash está a acabar, já utilizei hoje o VISA, sigo para um banco para trocar 250 $US a 1.468 Sh (367.000 Sh). Resumidamente, 1 $US = 1500 Sh, 1 Mt = 40 Sh. Finalmente, “Almoço / lanche” no restaurante muçulmano da rua em frente, com sumo de maracuja, bem cozinhado, apetitoso, companhia variada. Por toda a cidade o transito é caótico, quase impossível passar e orientar-se, vale mais andar a pé. Os Moidzin chamam para as orações do alto das torres das mesquitas, forte e bom som. O Swaili soa bastante bem, mas não é fácil: Muhuri wa Msimamizi wa Uchaguzi au Muhuri wa Serikali Ya Kijiji? Ou então: Fomu ya maombi ya kugombea ujumbe wa halmashauri ya kijiji? Adivinhem! Em Dar es Salam, foi fundada a Frelimo. Para Moçambique, tem um valor mítico! É uma grande cidade africana.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Zanzibar

17 de Agosto de 2010

Na terça-feira, o trânsito está intenso, com todos os quadros superiores, políticos e outros – bons carros - a entrar na cidade em direcção ao centro administrativo, junto ao Porto; saio de Dar es Salam para Norte, paralelo à costa em direcção a Bagamoio (vila que acolheu em tempos muitos moçambicanos), em estrada boa são 68 km. Pouco depois entro na povoação, pequena, localizo a praia com os dowhs, pergunto logo se há transporte para Zanzibar; um dos presentes pede 50 $US + 100.000 Sh; esta não é a hora de saída (normalmente viajam à noite, a partir da meia noite ou uma da manhã); o vento está contra, terão que usar o motor e o barco é só para nós; OK. Leva-nos a um complexo turístico para deixar o carro guardado (20.000 Sh). Voltamos a pé ao centro da vila e tomamos o pequeno almoço num bar simpático, junto à alfandega, enquanto o nosso amigo trata dos preparativos para a viagem. As portas das casas são muito trabalhadas, em madeira, com bicos salientes, metalizados e geométricos, constituindo autênticas obras de arte. Vamos para a praia. Depois de alguma discussão entre tripulantes e outros, está muito sol e calor apesar do vento do mar, entramos num dowh; a discussão continua, gesticulam, falam muito alto, mudamos para outro; questão, claro, de pagamentos; carregam 6 sacas grandes de areia para lastro e estamos a arrancar. São 5 tripulantes (o nosso “agente” mais 4 marinheiros), 4 horas de viagem, quase sempre à vela, sempre muito sol, céu azul, mar um pouco agitado. Passamos duas ilhas de areia muito branca, alguns pássaros cinzentos e brancos e duas zonas de fundo baixo, com pedras e corais, cruzamos-nos com 2 canoas de pescadores e um dowh de comerciante. Avista-se muito ao longe e chega-se por fim à ilha de Zanzibar, grande, comprida, com fachadas brancas, rosa e castanho, recortadas de muitos arcos, de arquitectura deveras interessante, uma mistura de Ilha de Moçambique e “próximo oriente”, cerca das 17 h. O Porto comercial estava bastante movimentado, 1 navio a descarregar, 2 flutuadores rápidos 1 a sair, vários outros barcos a passar. Saimos pelo porto de carga da população, para uma rua movimentada; os “Chapas” típicos muito decorados apressam-se a descarregar e carregar passageiros, circulam rápido; seguimos em direcção ao porto de pesca, bem mal cheiroso e o mercado do peixe oferece grande e abundante escolha. O nosso amigo ajuda-nos a encontrar um Hotel razoavel, Adam’ Inn Hotel, Malindi Street, 40.000 Sh por noite, com pequeno almoço. Mesmo à frente, na pequena praça, está o carismático e elegante Cine Afrique! Jantar na Pizaria do Italiano, depois do mercado, bom mas caro: clientes só brancos, mas tem cerveja e vinho. Aqui o mercado nocturno é animadíssimo também, com muita gente, abundância inusitada de tâmaras, todo o tipo de frutos, especiarias, legumes e outros manjares, cheiros e cores surpreendentes. Um pedaço de Oriente!

sábado, 2 de outubro de 2010

Back to the continent

18 de Agosto de 2010

De manhã é para passear no mercado da Cidade de Zanzibar, autêntico “souk”: as lojas – de roupa oriental cheia de cores e brilhantes, de sapatos, de ferramentas, de ouro e prata, de quinquilharia, de alimentação, os clientes muito variados e também coloridos, as linhas das ruas e fachadas, a forte influência muçulmana quase que me transportam para Marrocos ou Tunisia, apesar da numerosa população negra. O ambiente é totalmente Muçulmano; de facto esta ilha não é bem Tanzania, mas uma espécie de protectorado. As ruas muito estreitas e as varandas trabalhadas dão a sombra. Os portais de algumas fachadas, em portas e janelas, parecem rendas de bordados. Do terceiro andar, veêm-se os terraços e as torres das Mesquitas. O ATM está a funcionar, saem mais 150.000 Sh. O nosso amigo pede um preço muito exagerado para o bilhete de volta; o dowh de ontem já não está no porto; discutimos e por fim acordamos um preço de 15.000 Sh / pessoa, mas num barco de população normal, maior, carregadíssimo de tralha (frigoríficos, fogões, máquinas de lavar, caixotes) e pessoas, cerca de 25; só há um pequeno espaço para sentar. Pago 500 Sh para entrar no Porto, ao Revolutionary Government of Zanzibar e embarcamos; muita discussão, saimos lentamente do porto com motor, desfraldam a vela e ganhamos velocidade com vento favorável cerca das 13h 30m. O mar está mais agitado que ontem, com algumas ondas de 3 metros e mais; as conversas e debates vão decorrendo em Swaili, sempre muito animadas e sem problemas chegamos a Bagamoio após 3 horas de vela. A saída na praia é dentro de água, com sacos à cabeça. Retomamos o carro, re-arranjo dos sacos, duche, vestir, Tchau, obrigado e até à próxima. Saio com 2.370 km em direcção a nova pista, mais ou menos regular, para chegar a Msata, já na estrada principal de alcatrão; entretanto, já ao cair da noite, ao passar numa aldeia, Masugulu, ruído de arrasto, o pisa pés do lado esquerdo partiu 2 dos 3 apoios e caiu. Indicam-nos uma palhota, falo (mais por gestos) com o mecânico. Gerador, máquina de soldar, deitado na areia por baixo do carro, aplica vários eléctrodos e a situação está resolvida: 20.000 Sh, obrigado e até à próxima. A partir de Msata a estrada está bastante boa, em direcção ao Norte, faço ainda bastantes km de noite, aldeias como Mabuku, Manga, Mkata, Mgambo, atravesso várias barreira de estrada (polícia) sem que me façam parar até chegar a Korogwe. Não há quarto no Motel White Parrot. Dirijo-me ao centro da povoação, antiga e pobre à direita saindo da estrada principal, descobrindo uma pensão local, muito modesta, onde ninguém fala inglês. Quarto sem casa de banho, mas é tarde, estou cansado, não dá para procurar mais nada. Um dos homens da casa acompanha ao restaurante nas Bombas de Gazolina, onde podemos comer – sofrível! Voltamos à pensão, lavar os dentes e cama – sem rede mosquiteira; mas aqui os mosquitos também não aparecem, está bastante fresco!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Miragem nas nuvens

19 de Agosto de 2010

Saindo do albergue no centro antigo de Korogwe, no sopé e início da cadeia montanhosa Usambara, dirijo-me para as Bombas de Gazolina onde servem um bom pequeno almoço, com sumo, ovos, pão e café. Retomo a estrada em direcção a norte / noroeste, bastante boa, sempre paralela à fronteira com o Kenia, a Norte: a sudoeste, a extensa estepe Masai, seca a perder de vista; a nordeste, uma cordilheira de pequenos montes seguidos em linha, cada vez mais altos, a perder de vista nas nuvens muito ao longe. Passo as aldeias de Makuyuni, Mombo, Makaka, Makanya e paro em Same para levantar dinheiro; mas o banco não tem ATM com VISA. Retomo a nacional, está muito calor. Nisto, ao longe, saíndo acima das nuvens brancas, um reflexo mais branco e muito brilhante: a encosta junto ao cume do Kilimanjaro surpreende o horizonte com os seus reflexos de neve alvíssima, um espectaculo singular. Plantações de Sisal a perder de vista, muitas plantas espinhosas, árvores e arbustos, flores brancas, amarelas roxas, sobre um solo arenoso amarelo avermelhado! Mais um pouco, aumenta a densidade populacional e a presença de explorações agrícolas, pequenas fábricas, mais casas e movimento e chego à cidade de Moshi, com 2.880 km de viagem, no sopé sul do Kilimanjaro. Boa notícia, a segunda ATM funciona, no Standard Bank e retiro 150.000 Sh sem recibo. Peço um café e vejo uma pequena loja, Tourism Office. Explicam-me as condições para a subida da montanha, alertando que para chegar ao cume, são precisos pelo menos 3 dias; a ideia será subir amanhã, até onde for possível, depois descer. Indicam-me também um hotel económico, 25.000 Sh / noite, com pequeno almoço, o Umoja Lutheran Hostel. Procurar o Hotel não é fácil, poucos falam inglês, mas instalo-me rápidamente e saio para um pequeno passeio a pé no centro da cidade, bastante agitada; compro 2 mapas na Livraria Católica. Janto no self service do Hotel, preço económico, sem bebidas alcoolicas mas com café (instantaneo mas bastante bom). Filme no quarto para adormecer, tentar não levantar tarde amanhã!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Kilimanjaro

20 de Agosto de 2010

O Kilimanjaro, resultante de antiga erupção vulcãnica, originária do Grande Rift, a maior montanha de toda a Africa, está reservado para esta sexta-feira. Cerca de 330 km a Sul do Equador, em cima da fronteira entre a Tanzania e o Kenia, encontram-se 2 volcões adormecidos (Kibo, 5.895 m e Mawenzi, 5.149 m) e um extinto (Shira, 3.962 m). Levanto-me pelas 8 no hotel em Moshi para tomar o pequeno almoço, tiro 150.000 Sh no ATM sem recibo, atesto o depósito e começo a subir a montanha de carro, pista muito dura, irregular, cheia de pedras, zona densamente habitada e cultivada (agricultura familiar), muitas casas bonitas, jardins, várias igrejas cristãs, carne pendurada em muitas barracas e estabelecimentos, porcos, plantações de café, bananeiras, floresta luxuriante. Está fresco e o céu está todo coberto de nuvens cinzento escuro. A montanha não se vê. São cerca de 45 km até à porta principal do Parque Nacional Kilimanjaro. Fui sem guia e em direcção da porta de Umbwe Trail. Passo uma zona de lava totalmente solta e finalmente chego à porta. Um guarda informa-nos que aqui não se pode entrar e fornece-nos um mapa para atingir o local certo. Desco e retomo a direcção da porta de Machame Trail. Retomo o alcatrão e subo à direita em muitas curvas bastante íngremes. È a porta principal do parque. Estão vários jeeps artilhados de safari e vários grupos de brancos, sobretudo anglofonos. O preço de entrada é de 65 $US por pessoa, mais 1 $US. Já não tenho dollars e sou obrigado a pagar 21 $US com o cartão da CGD. Para o guia, Glady, serão 20.000 Sh a pagar no final do percurso. Esta porta principal está já a 1.800 m de altitude. Entramos com o carro para o parking e começamos a subida a pé, bastante íngreme, às 12h 15 min, por uma pista larga; passamos a entrada pedestre (aos 2.000 m) seguindo por um carreiro estreito no meio da floresta imponente. Os fetos gigantes, as lianas de musgo, as árvores enormes, a densidade de toda a vegetação, são inéditas. Por aqui ou acolá, minusculas flores, orquideas, vermelhas e amarelas, roxas, azuis, brancas. A subida é puxada e de quando em quando é preciso descansar. Às 17h 10 min, após quase 5 h de subida rápida, chegamos à cascata, a 2.500 m; provo a água fresca e comemos bolachas e amendois; os únicos animais que vimos foram alguns esquilos e vários pássaros, grandes e pequenos. O céu agora está ainda mais cinzento, totalmente coberto de nuvens. Está fresco, fresco! O Parque fecha às 18 h, assim teremos de iniciar o percurso de regresso. A descida a pé acaba na mesma porta principal, pelas 18h e 22 min. Foram 6 h de marcha esforçada, as pernas estão a doer, muitas fotografias. O guia, Glady, é de etnia e lingua “Chaga”: Eka! (Obrigado!). Regresso à cidade agora sempre por estrada de alcatrão, que desce muito e tem muitas curvas perigosas. Agora já com céu limpo, a figura do Kilimanjaro cheio de neve, recorta-se fortíssima no céu azul. Já em Moshi procuro um restaurante com melhor qualidade que o Hotel, indicam-me um restaurante “Masai”: comida boa, mas caro. Enfim! È para celebrar a grande subida, vale a pena! No hotel, lavar a roupa, arrumar bem as mochilas para amanhã, quando sairemos para mais 560 km, em direcção ao Lago Vitória. Um descanso merecido.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Os Grandes Lagos


21 de Agosto de 2010

Hoje é Sábado. O objectivo pre definido é chegar ao Lago Vitória – segundo conselho de meu grande amigo. Antes de sair de Moshi meto 2 l de óleo no motor do carro, estão até agora 2.959 km rolados. Saída para Oeste, interior, em direcção a Arusha, cidade importante e muito movimentada, que atravesso após multiplos engarrafamentos, passo o aeroporto, planície vasta, chego a Makuioni, população Massai por todo o lado. Viragem á direita, ainda na grande estepe, para subir para o planalto junto ao lago, terra muito vermelha até à vila de Karatu, passagem sob as árvores brancas, coloridas dos enormes e muitos passarões que nelas habitam, mais um pouco e paragem na Lodoale Gate (onde acaba a estrada alcatroada), porta do Parque Ngorongoro (outro vulcão, na linha do Grande Rift) . São até agora 3.200 km; o objectivo era passar até ao lago Vitória pelo caminho mais curto; mas esta pista atravessa 2 parques nacionais (Ngorongoro e Serengeti), são 50 $US por pessoa mais 40 $US para o carro, vezes 4 (ida e volta), para uma estrada muito má, portagem muito cara! Não há outra via, a não ser descer mais a Sul, contornar e fazer 950 km em vez dos 400 previstos, vezes dois. Desisto, será o momento certo para iniciar o regresso! Os macacos aqui fazem parte da população normal. Volto a Karatu, à procura de almoço e de capulanas Massai. Bonitas, em tons vermelhos e azuis, muito caras – tipíco para turista branco! Em Swaili, o acompanhamento mais popular e frequente das refeições, base da alimentação, a farinha de milho cozida, chama-se UGALI (a “Chima” de Moçambique). Estava bom o almoço e tinha cafezeiros no jardim. Desço o planalto, curvas perigosos, paisagem espectacular sobre a falésia, o lago e a estepe. Na base entro no “Lake Manyara Park”, um parque à volta do largo e comprido lago a perder de vista no nevoeiro a sul, junto á falésia do planalto vermelho interior; 350 km2, tem macacos, elefantes, leopardos, bufalos, bois-cavalo e muitos pássaros. Entrada 35 $US por pessoa, 40 $US para o carro e 10 $US para o Guia. Tiro algumas fotos e retiro-me ao pôr do sol, acompanhando os Masai que recolhem os rebanhos de gado bovino e caprino. Paro junto às manadas de burros para a fotografia. O luz do final de tarde transmite à estepe tons irreais. Regressar à noite è mais fatigante – concentração extrema, lombas e camiões! Pelas 20 h, após 162 km estou de regresso a Arusha (e vão 3.362 km), encontro um hotel chinês (45 $US / noite), quarto nice, casa de banho com água quente, restaurante e bar, parking, com guardas e empregados Massai: jantar, rápido, oriental e saboroso tipo china. Conversa, alguns brancos, retiro-me para o quarto; duche quente e canais TV strange. Descanso! Total silence.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Back home


22 de Agosto de 2010

No Domingo de manhã, depois de um duche quente (estamos nas montanhas e aqui faz um pouco de frio), não muito cedo, saída de Arusha, depois do pequeno almoço e de 2 fotografias com o Massai do Hotel, passando por Moshi e parando em Korogwe para atestar diesel. Na estepe Massai as extensas culturas de sisal perdem-se de vista muito ao longe. Bonitas as flores e os cactus deste deserto! Cruzo-me com vários pastores Massai acompanhando os seus rebanhos. Céu limpo, muito calor. Vou comendo amendoim, caju e bebendo muita água. E numa viagem quase “non stop” até Dar es Salam, interrompido pela polícia de trânsito: aparelho electrónico marca 79 km / hora, placa de aldeia determina 50, polícia diz que a multa são 50.000 Sh. Explicação sobre longa viagem, inexistência de ATM, cordialmente acaba por perdoar, com um pouco mais de conversa em Inglês. A polícia deste país é muito atenciosa, muitos falam inglês, fazem perguntas sobre Moçambique e gostam de quem aprecia o seu país. Passo outra vês em Msata, continuando desta vez pela nacional de bom piso. Chegando a Chalize viro à esquerda, passo Kibaha. Muito trânsito ao chegar próximo de Dar es Salam, já de noite, onde chego às 20 h depois de 627 km. Estou cansado. Atestar diesel que o depósito está quase vazio e levantar 110.000 Sh no ATM. O carro faz uns barulhos esquisitos e vai-se abaixo fácilmente quando está ao ralentie, com trabalhar irregular. Procuro outra vez o Holiday Hotel no centro antigo, que tem um quarto livre – grande ventoinha no teto, o céu! Rápidamente procuro também sítio para jantar, não Muçulmano, onde se possa beber uma cerveja. Na mesma rua, mais à frente, um restaurante chinês, rápido, relativamente barato. Um passeio nocturno para apreciar o movimento da cidade. Vários grupos de pessoas dormem na rua. O trânsito está por agora mais calmo. Nesta zona há poucos bares, os que há fecham cedo, devido à predominancia muçulmana na área. Toca a ir dormir que o corpo pede!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

PAZ


23 de Agosto de 2010

Em Dar es Salam – que significa originalmente em árabe Palácio da Paz, o Holiday Hotel está no centro antigo (1950), perto do porto, no bairro Kariakoo, Jamhuri Street, perto também da Jumbo Inn e da Starlight Street. Penso que a fundação da Frelimo ocorreu por aqui nos inícios da década de 60. A linha cultural dominante é: tolerãncia zero à violência. Após 47 anos de independencia sem guerras, os Tanzanianos sabem que conseguem resolver tudo a falar. De manhã, mata bicho no quarto de maçãs e sumo; sem pressa, passear pelo “souk”, para a compra de 2 CD de música Tanzaniana. Passeios estreitos, muitos carros, motorizadas e carroças, bicicletas a passar nas ruas, lojas de ferramentas, construção civil, telemoveis, sapatarias, comida, farmacia, roupa, electrodomesticos, gente em movimento por todo o lado: o comércio em grande expressão! Não longe da rua do hotel concentra-se em 3 ou 4 outras ruas o mercado das capulanas. Muitas lojas, pequenas e grandes, com balcão para a rua ou no interior dos edifícios, debaixo das belas arcadas e varandas, variadíssimas cores, tamanhos, tecidos, qualidades, padrões, um prazer para os olhos. Bueno! Está muito calor! Hora da sesta, toca a descansar e dormir, que bem preciso, embalado pelos apelos à oração dos Moidzin nas torres das Mesquitas. A ventoinha grande no teto traz o céu. Os sonhos dirigem-se para a estepe em vermelhos Massai. Mais tarde, à fresca da noite, para o jantar encontro um restaurante tanzaniano, tipo discreto ou refundido, boa comida acompanhada por uma cerveja Kilimanjaro, geladinha!

Paz




Em Dar es Salam – que significa em árabe Palácio da Paz, o Holiday Hotel está no centro antigo, perto do porto, no bairro Kariakoo, Jamhuri Street, perto também da Jumbo Inn e da Starlight Street. Penso que a fundação da Frelimo ocorreu por aqui nos inícios da década de 70. A linha cultural dominante é: tolerãncia zero à violência. Após 47 anos de independencia sem guerras, os Tanzanianos sabem que conseguem resolver tudo a falar. De manhã, mata bicho no quarto de maçãs e sumo; sem pressa, passear pelo “souk”, eu para a compra de 2 CD de música Tanzaniana e a Mércia umas bonitas capulanas, para ela e para a mãe. Passeios estreitos, muitos carros, motorizadas e carroças, bicicletas a passar nas ruas, lojas de ferramentas, construção civil, telemoveis, sapatarias, comida, farmacia, roupa, electrodomesticos, gente em movimento por todo o lado: o comércio em grande expressão! Não longe da rua do hotel concentra-se em 3 ou 4 outras ruas o mercado das capulanas. Muitas lojas, pequenas e grandes, com balcão para a rua ou no interior dos edifícios, variadíssimas cores, tamanhos, tecidos, qualidades, padrões, um prazer para os olhos. Bueno! Está muito calor! Hora da sesta, toca a descansar e dormir, que bem preciso, embalado pelos apelos à oração dos Moidzin nas torres das Mesquitas. A ventoinha grande no teto traz o céu. Os sonhos dirigem-se para a estepe. Mais tarde, à fresca da noite, para o jantar encontro um restaurante tanzaniano, tipo discreto ou refundido, boa comida acompanhada por uma cerveja Kilimanjaro, geladinha!.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Tipo como se estivesse quase a chegar a casa...

24 de Agosto de 2010

Saída de Dar es Salam pelas 7h 30m, sem pequeno almoço e com muitos engarrafamentos, contador marca 4.010 km. Paro logo à frente na mesma garagem da última vez, para verificar o óleo e trocar as duas rodas da frente; o pneu está comido na faixa externa da roda esquerda. Não calibram as rodas aqui e o carro começa a fazer trepidação aos 80 km por hora. Paro em outra oficina, já na estrada em direcção a Lindi, “Tyre Service”, sem resultado; vou ter que suportar este “shiming” até Pemba ou Nampula; a loja de conveniencia tem sumos e maças. O carro continua a ir-se abaixo fácilmente ao ralentie. Atesto de diesel e de óleo de direcção, que já não tem; deve estar a perder por outro sítio. Passo Vibura, Bungu, Kibiti. Na passagem de cada aldeia, existem mais de 6 faixas de estrias e 2 ou 3 lombas que obrigam a reduzir para primeira ou segunda, 20 km / hora, para não desfazer o carro com a vibração. Tirando isso os primeiros 160 km decorrem sem dificuldade. Ndundu: chegamos então ao bocado péssimo de 60 km de pista, junto à estrada em construção; muita poeira, solavancos, raros camiões, alguns macacos. Cruzamos-nos com pastores de gado, figuras insólitas, de galochas coloridas. Mais à frente, Nangurukuru, a estrada está boa e chego a Lindi ainda de dia com 456 km. O vidro de traz já não fecha, esqueci-me do problema, abri, deixou de funcionar. Atesto o carro de diesel e procuro a mesma pensão (ADELA) para comer e dormir; o moço atende muito bem, tem quarto mas é mais caro que da ultima vês (30.000 Sh), porquê tem sala de estar e televisão (que apanha mal os canais). Chamam rápidamente um electricista para reparar o vidro do carro, mas a tentativa práticamente às escuras, falha; vai ficar aberto durante a noite e amanhã iremos à oficina. Garantem que nada será roubado. Estamos no Ramadam e a vila está muito sossegada. Uma cervejinha bem fresca e peixe com batas fritas, molho picante.

Tipo como se já estivesse quase a chegar a casa...

24 de Agosto de 2010

Saída de Dar es Salam pelas 7h 30m, sem pequeno almoço e com muitos engarrafamentos, contador marca 4.010 km. Paro logo à frente na mesma garagem da última vez para verificar o óleo e trocar as duas rodas da frente; o pneu está comido na faixa externa da roda esquerda. Não calibram as rodas aqui e o carro começa a fazer trepidação aos 80 km por hora. Paro em outra oficina, já na estrada em direcção a Lindi, “Tyre Service”, sem resultado; vou ter que suportar este “shiming” até Pemba ou Nampula. O carro continua a ir-se abaixo fácilmente ao ralentie. Atesto de diesel e de óleo de direcção, que já não tem; deve estar a perder por outro sítio. Passo Vibura, Bungu, Kibiti. Na passagem de cada aldeia, existem mais de 6 faixas de estrias e 2 ou 3 lombas que obrigam a reduzir para primeira ou segunda, 20 km / hora, para não desfazer o carro com a vibração. Tirando isso os primeiros 160 km decorrem sem dificuldade. Ndundu: chegamos então ao bocado péssimo de 60 km de pista, junto à estrada em construção; muita poeira, raros camiões, alguns macacos. Cruzamos-nos com pastores de gado, figuras insólitas. Mais à frente, Nangurukuru, a estrada está boa e chego a Lindi ainda de dia com 456 km. O vidro de traz já não fecha – a Mercia tinha comprado plantas, à saída de Dar, para plantar no jardim da sua casa em Nicoadala, esqueci-me do problema do vidro, abri, deixou de funcionar. Atesto o carro de diesel e procuro a mesma pensão (ADELA) para comer e dormir; tem quarto mas é mais caro que da ultima vês (30.000 Sh), porquê tem sala de estar e televisão (que apanha mal os canais). Chamam electricista para reparar o vidro do carro mas a tentativa falha; vai ficar aberto durante a noite e amanhã iremos à oficina. Garentem que nada será roubado. Estamos no Ramadam e a vila está muito sossegada. Uma cervejinha bem fresca e peixe com batas fritas, molho picante.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

The mechanical catastrophe

Safari Tanzania 16

Logo de manhã, depois do “mata-bicho”, vou para a oficina indicada e acompanhado pelo moço do Hotel. Vários mecânicos, orientados pelo “boss”, 2 aprendizes, desmontam tudo, lavam, lubrificam, remontam; 15.000 Sh (dou 20.000) e o vidro trazeiro parece estar bem reparado, pelo menos a funcionar com a chave na porta de tráz. Compro uma caixa de cerveja em lata Kilimanjaro para ter uma “lembrança” para todos os amigos. Um Moçambicano emigrado, ajuda na interpretação da procura; de facto, a intermediação é muito pouco eficaz nos preços – a vida aqui para ele também não está a correr bem, dinheiro está difícil, pensa como há-de fazer para retornar a Moçambique com a família. Tiro 50.000 Sh no ATM e vou pagar o quarto. Saída de Lindi às 11 h, contornando o golfo, para fazer 150 km de estrada boa de alcatrão até Masasi. Ao chegar, no abrandamento para a primeira lomba, já depois das 3 fachas de estrias, noto fumo exagerado e muito branco a sair do escape! Pouco mais à frente, solicito a uns moços parados junto de motorizadas uma oficina mecânica; um deles fala inglês e entra no carro para nos dirigir. Vamos para tráz e à entrada da vila, viramos à esquerda (Norte), parando num recinto com várias viaturas junto a uma pequena construção com telheiro; o mecânico só fala Swaili e depois de abrir o capot, com o motor a trabalhar, diz que o turbo está avariado, é preciso substituir; depois de fazer três telefonemas no seu movel diz que só se arranja em Dar, são 3 dias para resolver a situação e o custo é de 500.000 Sh. Puxa! Grande mudança de planos. Quais as opções? Contas de cabeça, contas no papel, não há outra possibilidade? Está decidido. Para o Banco NBC, troco 325 $US (462.787,5 Sh) para entregar ao mecânico – 450.000 Sh (90 notas de 5.000 Sh), levanto com o cartão multibanco mais 100.000 Sh dos quais 50.000 (5 notas de 10.000 Sh) também para o mecânico, tudo na mão e em cash – sem recibo ou assinatura; acompanham-me ao hotel, na borda da estrada, recinto vasto interior, bar, quartos com TV, casa de banho e rede mosquiteira na cama; modesto, mas limpo; sacos no quarto, desmontam o turbo rápidamente (o mecânico principal e dois ajudantes) e abalam. Aqui paga-se 10.000 Sh por noite, sem pequeno almoço; a TV que apanha bastante mal é substituida pelo dono. Para jantar experimento uma das barracas mais animadas junto à rua principal, com telheiros vários, música e snooker muito concorrido; compro um DVD de um artista músico popular famoso e apanho algumas imagens no video. A encomenda do jantar é complicada mas conseguida. Galinha e batatas, tudo bastante frito, com 2 boas cervejas geladas (1.500 Sh cada)! Brancos, não há. A música está boa e o ambiente é característico.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Masasisado

26 de Agosto de 2010

Safari Tanzania 17

Na quinta-feira em Masasi, dormi bem e até tarde, tranquilamente sem mosquitos; mas o colchão faz buraco ao meio e doem-me as costas – a dita e designada lombalgia!; talvez também dos muitos kilometros e muita pista dura. O meu amigo muçulmano, “motorbyke taxi driver”, aparece ao fim da manhã, para interpretação English - Swaili. Aqui poucos falam inglês, zangando-se mesmo quando percebem que não falo Swaili. Saio para um café (demoraram 30 minutos a preparar) e um sumo de laranja (que chegou após 1 h 30 min) no “Restaurant”. Aproveito para uma lição básica de Swaili:
Bom dia = ASIBUI ABADE
Boa tarde = MEHARA ABADE
Bom serão = JIONI ABADE
Boa noite = USIKU ADADE
Para comer convém pelo menos saber:
Arroz = WALI
Arroz com carne = PILAU
Galinha = KUKU
Vaca = NG’OMBE
Cabrito = MBUZI
Farinha de milho (a “Chima” Moçambicana) = UGALI
Sopa = SUPU
Chá = CHAI
Leite = MAZINHA
A máquina F vai sendo, discretamente, utilizada. Está calor mas também um pouco de vento. A vila está muito movimentada, pessoas a pé, de taxis “triciclos” cobertos, cheíssimos, carros e camiões sempre a passar. À direira, para o litoral, fica Chigugu e Chicundi. À esquerda para o interior, Mlasi e Mikangaula. Na Mesquita não param com os cânticos e os discursos, o Ramadam está em curso, a predicação é recorrente. Mohamed diz que o mecânico saiu hoje muito cedo para Dar e que talvez possa chegar amanhã pelas 14 h 30 min (vimos o “chapa” de hoje a chegar a essa hora). Convido-o para jantar mas ele diz que só o fará em casa lá pelas 23 horas: está de jejum e as regras para a quebra na norma são estritas. Lamento! Regresso ao hotel para um período de leitura – etnografia Moçambicana - com música. Interrompo para 30 minutos de ginástica acelerada, na tentativa de combate à lombalgia. O fim da tarde decorre sem história. E está lua cheia, imponente e sinto-me total e verdadeiramente “MASASISADO”!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Nothing

27 de Agosto de 2010

Preparando-me para a terceira noite no “Sayra Hotel” em Masasi, mudo de quarto para uma cama sem defeito. No ATM levanto 100.000 Sh e dirijo-me ao longo da estrada principal, para a oficina, tipo descampado junto a ruina, a pé com o meu amigo Mohamed, para tentar contactar o mecânico. De Dar es Salam, diz que só chegará Sábado à noite; pedimos para vir o mais rápido possível, para montar o turbo de maneira a poder sair no Sábado de manhã cedo. Vai tentar, vamos ver. Almoço “standard”: galinha com batatas fritas, sumo de pacote e sumo natural, anormalmente rápido. Os preços locais são baratos, mas a condição de “muzungo” , transfronteiriça, aumenta logo muito as coisas. O céu está bastante cinzento, veio o vento e cairam algumas gotas grossas de chuva. No pátio do Hotel, as folhas grandes das amendoeiras agitam-se em verde e vermelho escuro. Longe da vila de Masasi, no mato, encontram-se elefantes, leões e leopardos; por aqui a Vila tem água canalizada em algumas partes, tem um Hospital com vários Médicos, um Laboratório de Análises Clínicas privado, também aparecem alguns raros Massai a fazer negócio. Neste momento está em curso a campanha eleitoral para a Assembleia da Republica da Tanzania, concorrendo 18 partidos (de facto, 6 tem representantes parlamentares mas 1 é maioritário e detém o poder desde sempre). As cadeias televisivas transmitem os debates, tenho atravessado alguns comícios e manifestações. Um ataque dos mosquitos motiva a instalação imediata da rede mosquiteira. Os Muçulmanos na Mesquita não param de cantar o dia todo. E está na hora de ir dormir, lua grande e bonita, de cheia a decrescer, ótima temperatura.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Horizontes

28 de Agosto de 2010

Porque hoje é Sábado. Em Masasi, Tanzania, levanto-me tarde. Peço um café no “Restaurant”, relativamente rápido, sumo natural não há! Lanço-me para um screening visual e fotográfico da vila, inside and outside: a sudoeste uma planície de palmares e outros bosques, a perder de vista, muitas casas, a nordeste uma cadeia de picos rochosos maciços e bem recortados, perto, algumas casas. Avanço na borda da rua principal do lado Sul até ao final da vila, na faixa onde se concentra todo o comércio e serviços, bancos, gazolineira, alafaiates, bares, barracas e mercados, ambulantes, polvo assado, espigas de milho, até ultrapassar a Igreja, a Policia e o cruzamento principal. Brancos não há. As àrvores de suma-uma são enormes aqui. Aquela era diferente, com frutos verdes, grandes, tão cheios de quase maduros. No topo da subida, junto a um enorme penedo, viro à direita e passo para o lado Norte da estrada na entrada para o Hospital Distrital; sigo por aí e vou virando à direita, contornando o penedo e regressando paralelamente ao percurso anterior e sempre junto à cadeia montanhosa no limite das casas da vila. Os picos estão a 951 m e devem estar uns 400 m acima de mim: são rochas íngremes, muito lisas de cores fortes. A parede rochosa lisa mas rugosa desafia a escalada. De facto – mal pensado, estou de sandálias e acautelo-me com as cobras. Olhando a sudeste, avista-se ao longe o planalto Maconde (sim, Tanzaniano); a Sul e a Oeste, alguns “Eizelbergs” à distância. Alguns rapazes falam no alto da falésia, brincadeiras de dia sem escola. Re aproximo o limite da vila e atravesso uma área com várias fábricas artesanais de tijolo, blocos de barro muito vermelho cozido, geometricas áreas de rectangulos encarnados organizadas entre fornos e cubatas. Quando recebo a chamada do Mohamed, estou no monte, a pouco mais de 1 km do Hotel. Parece que o mecânico já chegou. Desço na vertical para a estrada, onde chego uns 200 m para lá do Hotel. Viro à direita e chego à base, fresquinho, passadas 2 h 30 min de passeio bem ritmado, a andar sem pressas – visual exercise! O mecânico chegou de Dar e tem o turbo, vou buscar a chave, abrir capôt, estão a montar. Põe a trabalhar, está a funcionar. Re acerta, vai dar uma volta, está OK. Job: 90.000 Sh. Atesto o diesel com 26 l (40.500 Sh), compro 2 l de óleo (9.000 Sh) e meto 1. Comer e deitar cedo, que amanhã é para madrugar!