A Poente...

A Poente...
Na Baía de Nacala!

Alfacinha

Alfacinha
encontra Mapebanes

Luso calaico

Luso calaico
visita Etxwabo

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Paciência

27 de Dezembro

Domingo de manhã a cidade está vazia. Da Mesquita próxima chamam para a oração. Desço para a marginal por uma secundária com algumas sombras e as pessoas já dizem bom dia. Nas rochas da linha de água, duas pessoas em “fecalismo a céu aberto” como se diz aqui, hábito generalizado nos Mwani, Nahara e Khoti.

A maré ainda está meia e o veleiro recorta-se no horizonte da praia. Chega um “dhow” carregado de gente do outro lado da baía. Num barco de pesca á rede encalhado ao lado, o mecânico tenta por o motor a funcionar sem resultado. Visitantes vem apreciar os trabalhos de lançamento.

O comandante já se atarefa para um lado e outro, junto dos dois carpinteiros, do chefe de dez casas, do capitão. Sai para ir buscar um trator de um certo amigo, que aparece ao final da manhã, amarelo, rodas grandes, girando na areia ao longo da linha de água, vindo da direcção do Porto. Prepara-se e liga-se a corrente e reforça-se a corda. Combinam-se os sinais que devem marcar o arranque e a paragem da máquina, tendo em conta o correto apoio dos estabilizadoes e a facilidade de deslize da quilha. Ajeitam-se os tubos metálicos e as tabuas. Estica-se a corrente. A população, pouca gente, muito calor, assiste.

Mete a primeira, patina. Reforça-se o piso com mais paus e tábuas. Mete a primeira. De cada lado do barco, um “controlador” levanta o braço indicando autorização para puxar; conforme combinado, braço em baixo é para parar. Arranca, estica, estala a corrente. Nada feito, nem mexe. As pessoas reunem-se à volta da popa para empurrar. Reforçamos o piso em frente dos pneus do trator. Mete primeira, ao levantar o braço, ditado pela voz do coro que comanda os homens à popa, desembraia, patina, nada.

A população concentra-se na popa. Arranque à voz! Esticam-se os cabos. O trator patina. Nada feito, o barco nem mexe. Manobra-se a maquina e reforçamos mais uma vez os trilhos das rodas com paus, sacos de plastico, tabuas, lixo! Novo arranque, estrondo, rebentou uma das cordas de apoio, chicoteou um jovem: pequena tumefação na coxa direita, nada de grave. Voltamos a preparar os cabos. Arranca-se desta vez, com melhor coordenação com o povo que empurra na popa! E vai, estremece, mas não avança. Coragem, nova tentativa, coordenada, em coro. O esforço é grande, sem recompensa. Esta máquina não consegue ajudar, deveremos encontrar um trator com tração às 4 rodas e bem mais pesado.

E está na altura de tomar um banho para refrescar, nas águas transparentes azuladas e macias, limpando o falhanço e lavando a paciência. A tarde vai escurecendo e o trabalho ficará para amanhã! Vamos procurar de comer

Sem comentários: